Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)

Será Como Se Estivesse Em Casa

Na noite em que iríamos encontrar os caçadores, o clã inteiro ficou alvoroçado. Nunca, na história dos lobisomens ou vampiros, tivemos algo semelhante àquilo e isso assustava. Assustava ao ponto de colocarmos em dúvida a nossa própria sanidade. Me perguntei a noite inteira o porquê de ter aceitado aquilo e simplesmente respondia a minha pergunta com um "é necessário".

Eu tenho responsabilidades com os meus e preciso mantê-los a salvo. Ser um líder é muito mais complicado do que muitos imaginam. Não é simplesmente dar ordens e achar que todos devem te obedecer. Não! Isso é ser um chefe.

Ser um líder é ouvir, é inspirar as pessoas, fazer com que aquilo que esteja ao seu cuidado possa crescer, valorizar, desenvolver. Ser líder é trabalhar junto, é respeitar os limites dos outros e os ajudar a superá-los. Aprendi que se minha liderança consiste em cuidar de pessoas, eu preciso dar o meu melhor para que aquelas pessoas se sintam bem. Como um líder de toda uma espécie, minha obrigação era garantir a segurança deles mesmo que isso colocasse a minha própria segurança em jogo.

Por isso eu estava indo encontrar aquelas pessoas que nos caçavam há séculos. Porque, naquele momento, algo bem maior do que eles nos ameaçavam. Se eu precisava fazer isso para descobrir uma forma de salvar aqueles que estão sob minha responsabilidade, eu faria sem pensar duas vezes. Por isso eu aceitei ir.

A tarde que antecedeu a reunião foi bastante movimentada e regada a lágrimas. Caleb retornou de Atlanta e não achou nada que pudesse comprovar que Arthur realmente esteve por lá. Isso devastou Annabelle e, seria mentira da minha parte dizer que não acabou comigo também. Encontrar Arthur seria uma fagulha de esperança de encontrar Alice. Imaginar que meu irmão poderia estar bem, onde quer que estivesse, me fez pensar por um segundo que o amor da minha vida também estaria bem.

Desde que ela morreu, eu não sabia mais o que era a verdadeira felicidade. Está certo que as coisas não estavam indo bem entre nós dois antes disso e reconheço que em parte era culpa minha, mas era diferente de estar brigado ou não. Quando a gente se afastou, eu sabia que ela não estava por perto, mas sabia que ela estava ali. Que ela estava viva e que talvez sorrisse por algum motivo bobo. Talvez tenha rido das piadas ridículas de Susan ou das lembranças que tinha com Dave. O menino franzino que usava aparelho, como ela mesma dizia.

Alice era a minha vida e ela havia sido tirada de mim de uma forma que deixou um buraco em meu coração, grande demais para cicatrizar. Até mesmo comparando com a morte de Christine, eu podia dizer que não sofri tanto naquela época como eu sofri agora e, principalmente, sofria ao pensar nela.

Christine foi uma mulher excepcional e eu amava mais do que tudo, mas a morte dela me deu um proposito. Eu sabia que ela havia sido morta por um vampiro e a minha busca por vingança se sobrepôs à minha própria dor. A vingança me sarou o coração. A vontade de matar o vampiro e matar Frederico era o que me mantinha de pé.

Mas ali, naquela segunda vida, eu não tinha em que me apegar ou quem culpar. A mulher que causou aquilo estava morta — Annabelle lhe arrancou a cabeça um pouco antes de tudo ir pelos ares — e além de perder a mulher da minha vida, eu havia perdido o meu irmão. Foram dois rombos de uma vez só e a dor foi grande demais para aguentar. Se alguns humanos perdem a razão por não suportar a dor, imagine para um vampiro em que todas as suas emoções são aumentadas. Me julgaria pelo que eu tentei fazer? Não seria tão tolo.

Acho que o dia em que vi que a coisa estava desandando foi quando fiquei sentado, no topo de um prédio, até o sol começar a nascer. Eu não me importava de morrer e a dor de ter minha pele queimada me manteve, de alguma forma, mais vivo. Eu não avisei a ninguém onde iria, apenas desapareci. Eu queria ficar só sem ninguém me julgar por chorar. Eu precisava. Eu precisava deixar de ser aquele líder que todos admiravam, para ser um menino frágil com a dor de perder quem amava em seus ombros. Mas aquilo era ser fraco? Não! Eu tentei lidar com a dor da melhor forma que eu achei ser possível no momento. Eu estava errado em correr para aquela solução? Sim, embora muitos digam que não.