Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)

Laços de Sangue

As filas para o cadastramento davam voltas ao redor da prefeitura da cidade e eu me perguntava se daríamos conta de fazer todo aquele processo antes do sol nascer. Claro que não teríamos diretamente a ver com aquilo e que existiam dezenas de humanos controlando o processo, mas ainda assim eu me questionava. Faltavam pouco mais de quatro horas para o nascer do sol.

Por esse motivo, colocaram níveis de prioridade. Os Comuns foram colocados na frente, já que os Modificados e os Híbridos conseguiriam suportar o dia claro. Dessa forma se fez. O cadastramento era dividido em quatro partes: classificação de periculosidade, preenchimento de cadastro residencial, reconhecimento de habilidades extra-sensoriais e implantação de um localizador na mão.

Durante a classificação de periculosidade, passávamos por um exame minucioso e eram até mesmo colhidas amostras de sangue. Achei muito invasivo apenas para um cadastramento comum como os caçadores e até mesmo o presidente falavam. Eu já esperava que eles providenciassem uma maneira de nos vigiar e isso foi feito por meio do localizador, mas as amostras de sangue e reconhecimento de habilidades, achei demais. Não haviam dúvidas que aquele processo, se não tivesse a intervenção dos verdadeiros filhos da noite, teria sido uma sentença de morte inevitável.

— Nunca achei que uma agulha fosse doer tanto — comentei quando encontrei Alice na porta da sala de cadastramento. Alisava a minha mão direita onde havia sido implantado o chip. — Não depois de ser vampiro.

— Realmente. Parece ser desconfortável — respondeu me olhando.

Eu ainda não havia dito nada sobre o encontro com minha mãe e nem que o presidente fazia parte de seu clã. A verdade era que nem eu mesmo havia assimilado o fato dela estar viva. Entendi seus motivos e o que aconteceu, mas ainda era estranho pensar que minha mãe esteve ali, por todos esses séculos. Respirei profundamente e por um momento tentei distanciar minha mente daquilo. Passei a analisar a enorme fila dos vampiros.

Se as crianças dos dois clãs — ainda que no meu clã houvesse apenas três crianças — tivesse algum dos pais como um humano, eram classificadas como indefinidas e não colocavam chips. Não tinham a certeza se seriam apenas Marcados ou se um dia se tornariam vampiros. Não havia uma maneira de os humanos identificarem isso e ao que pareceu, a espécie de minha mãe não se importou em alertá-los, já que para nós era fácil saber pelo cheiro das crianças. Por isso eu sabia bem que Hope, a filha de Sean e Samantha, escondia presas prontas para sair. Nas outras duas crianças não havia qualquer traço de vampirismo.

A maioria dos Comuns, ao sair da sala de cadastramento, olhava para mim querendo saber se realmente eu havia concordado com aquilo. Não era algo fácil de ser aceito por nós, já que em todos os séculos em que estivemos sobre aquela terra, vivemos escondidos nas sombras. Agora, teríamos a nossa privacidade e discrição sendo invadidas e diluídas de uma hora para outra. Eu apenas acenava com a cabeça e eles seguiam para fora do lugar. Tricia, Sean e Ethan passaram por mim e apenas assentiram. Eles, que já estavam próximos de mim, sabiam o porquê de aquilo estar acontecendo, então não questionavam nada. Eu estava aliviado por aquilo.

— Parece que vão conseguir cadastrar os Comuns antes do nascer do sol. Estão empenhados nisso — Alice comentou e me encarou, mas nessa altura eu já não estava mentalmente ali. — Ei, está tudo bem? Você parece distante desde que retornou de Washington.

— Podemos conversar um minuto? — Pedi e ela assentiu.

— Claro — respondeu. Segurei em sua mão e a conduzi até um lugar dentro do prédio da prefeitura, próprio para que os líderes ligados ao governo. Sentado em uma cadeira, atrás de uma mesa e rodeado de papeis estava Arthur. Revezávamos no cuidado com aquele processo. Naquele momento, Alice estava na supervisão e ele na parte administrativa. Eu não estava na equação porquê eu tinha que ser cadastrado. Quando fosse a vez deles, eu assumiria a rédea daquela situação.