Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)

Tempos Sombrios

— Não! — Pedi ao perceber as veias roxas enraizando-se por baixo de minha pele e começando a seguir em direção a meu pescoço. — Você está proibido de comentar qualquer coisa com alguém. É uma ordem.

— Como você pode me pedir algo assim? Está claro que aquela coisa lhe fez algo e, simplesmente, pede para não contar a ninguém. E se alguma coisa mais séria acontecer? Já pensou se você começar a se transformar em um deles?

— Você sabe que não é assim que funciona. Eu não sou um híbrido e me alimentei há pouco tempo. Isso aqui é outra coisa e já sei quem eu vou procurar para me ajudar a entender. — Eu, de fato, estava preocupado com as possíveis complicações, mas tinha algo a mais em jogo e pela expressão descrente de Sean, eu precisava compartilhar com ele. — Alice está passando por muita coisa com a morte da mãe e por se achar culpada de expor nosso mundo. Meu irmão acabou de voltar para a família dele depois de dois anos longe e o restante do clã esta amedrontado com a eminência de serem atacados por uma daquelas coisas e pelo cadastramento. — Encostei na mesa, de frente para o meu amigo. — Eles não merecem descansar um pouco, sem que eu vá e some mais um problema?

— Victor...

— Eu estou cansado, Sean. Só cansado. Tudo escapou de minhas mãos e quanto mais eu tento reaver o controle, mais me afogo e me perco. E de brinde levo todos vocês comigo. Dessa vez vai ser diferente — disse me desencostando da mesa e ficando de frente para ele. — Volte para a sua família. Você tem se preocupado tanto com tudo e tem esquecido de Samantha e Hope. Vá ficar um pouco com elas e eu tento resolver isso sozinho — conclui e Sean riu, balançando a cabeça negativamente.

— É engraçado. Eu te sigo há quase quinhentos anos e você não sabe ainda por que o faço. Você se tornou minha família quando eu perdi tudo...

— Quando eu te tirei tudo. Você perdeu tudo porque o transformei.

— Quando eu perdi tudo, você me apoiou — deu ênfase novamente na frase e continuou como se ignorasse completamente minha intervenção. Revirei os olhos. — Eu te sigo sem pestanejar, porque você é minha família também. Então não ache que eu vou virar as costas para você, nessa situação. Se acha que eu faria tal coisa, depois de centenas de anos, ainda não me conhece.

— Eu preciso fazer sozinho, Sean.

— Não existe você sozinho. Ainda não entendeu? Nós precisamos fazer. Quem quer que você vá encontrar, eu vou junto e fim de história. — Me encarou sem nem piscar. — E somente manterei isso entre nós por hora. Se as coisas com essa tal pessoa não derem em nada, todos saberão — sentenciou, deixando a sala em seguida.

Sorvi um pouco de ar e tentei relaxar a mente. Eu sabia ser egoísmo querer esconder de todos a minha situação, mas eu não podia estragar ainda mais as coisas. Dei a volta na mesa e me joguei pesadamente na cadeira.

Abri o computador e digitei o nome do homem, mas nada havia sobre ele. Era como se fosse um fantasma. A única menção era sobre a formação acadêmica, mas nem um telefone, endereço ou clínica onde trabalhava. Estava fora do radar e eu precisava encontrá-lo com urgência. Ele estava envolvido com os caçadores e ficou com o trabalho da Dra. Miller. Com certeza saberia o que estava acontecendo comigo.

Puxei a camisa novamente para ver o estrago que aquela coisa havia feito em mim, antes de pegar o celular e discar um número.

— Eu preciso de um favor, Sophie — pedi quando a caçadora atendeu do outro lado da linha. Ela soltou o ar dos pulmões pesadamente.

— Aguarde um minuto — sussurrou. Demorou algum tempo e finalmente voltou. — Não é seguro me ligar.

— Eu sei, mas preciso de um favor. Vida ou morte. — Consegui ouvir a mulher engolir secamente do outro lado da linha.