Alice e Arthur

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Eu não conseguia ficar de pé, embora eu tenha pedido para que Sean me levantasse — mentalmente — umas cinco ou seis vezes. Eu não conseguia acreditar que era ela ali. Eu não conseguia sequer pensar que ela havia sobrevivido a explosão, que ela não estava morta de fato e que havia voltado para mim. Alice voltou para mim.

Puxei o equipo* que estava ligado a seu braço e a arranquei. Era o primeiro passo para que acordasse. Segurei em suas mãos e reparei nas unhas amareladas e com algumas partes quebradas. Parecia que ela tinha brigado bastante para não se render e aquilo só me fez ter muito mais orgulho do que eu já tinha. Era por essas e outras que eu era louco por aquela mulher.

Apertei suas mãos pequenas, talvez na esperança dela abrir os olhos ou coisa do tipo, mas ela não o fez. Não deu nenhum sinal de que acordaria. Finalmente consegui me levantar e me debrucei por sobre a maca, me aproximando de seu rosto.

— Alice! — chamei por seu nome.

— Ela precisa de sangue para acordar, meu senhor — Sean me lembrou o óbvio. Claro que ela precisava de sangue. Só que no estado em que eu estava, não conseguia pensar direito.

— Claro — concordei em um fiasco de voz. Eu ainda parecia anestesiado com tudo aquilo.

— E não vai ser pouco. A julgar pelos quase dois anos que passou, se estão aqui por todo esse tempo vão ter que ter dois ou três doadores — olhei para ele e assenti. — Cada um deles.

Só então lembrei que meu irmão estava na maca ao lado, me virei para olhá-lo e estava da mesma forma que Alice. A pele escura e encolhida dava uma aparecia estranha, mas ainda assim eu sabia que era ele. Parecia que toda a musculatura havia se perdido e ele era apenas pele e osso.

Assim como fiz com Alice, arranquei o equipo que estava ligado a seu corpo.

— Precisamos tirá-los daqui — falei!

— Victor, são seis e trinta da manhã. O sol nasce em vinte e sete minutos. Sabe que não conseguiremos chegar em Rockville a tempo. Temos que nos esconder.

— Você tem razão — olhei ao redor e percebi que todas as janelas estavam sem cortinas e não pareciam ser à prova de UV. — Também não podemos ficar aqui. Temos que voltar para a mansão!

— Isso! São quinze minutos daqui para lá.

— Então me ajude a leva-los para o carro, Sean — pedi seguindo até Alice e segurando seu corpo, extremamente leve, nos meus braços. Corri com ela para fora, enquanto Sean trazia meu irmão logo mais atrás. Colocamos os dois no banco traseiro, tomando cuidado para que ninguém nos visse, e saímos o mais rápido que conseguimos.

Estacionei na frente da mansão faltando dez minutos para o sol nascer. Já conseguíamos sentir os primeiros raios ultravioleta surgindo e nos irritando a pele. Não era somente quando o sol estava no céu que o vampiro queimava. Não. A gente já começava a queimar dez ou quinze minutos antes. Não é o sol que é nosso inimigo, são os raios UV que ele emite.

Tudo começava com uma tonalidade vermelha, como tivéssemos estado na praia o dia inteiro, sem protetor solar. Se não nos abrigássemos em seguida, teríamos bolhas cheias de água por todo o corpo, como se tivessem jogado óleo fervente sobre a pele. Nesse estágio já é bastante complicado se mover ou tentar escapar, porque cada movimento é uma dor insuportável. Se conseguíssemos nos proteger do sol e se tomássemos sangue, voltaríamos a ser o que éramos. Se não, seguíamos para a parte em que cozinhamos de dentro para fora.

Os órgãos começam a cozinhar, quando a pele é rompida e os raios UV conseguem entrar. Tudo começa a desintegrar segundo a segundo, como se tivéssemos bebido ácido sulfúrico. E sobre a dor? Bem, essa chega a ser insuportável ao ponto de o vampiro conseguir quebrar todos os dentes ao apertar o maxilar e depois, a única solução que resta é simplesmente se entregar. Não conseguimos mais andar ou falar e muito menos nos mexer. Se deixarmos chegar nesse ponto, não há volta. Nem que bebamos litros e mais litros de sangue e que alguém nos tire do sol, não há como fazer aquilo regredir. Vamos acabar virando pó em poucos segundos.

Infinito - Livro 3 (Trilogia Imortal)Onde histórias criam vida. Descubra agora