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Faço faculdade de medicina embora ser médica não seja o sonho da minha vida, mas depois do que aconteceu eu quis muito ajudar as pessoas e esse foi o único jeito que consegui tendo o problema que tenho.

Eu sou cadeirante. Sou paralítica desde os meus 16 anos. Desde aquela tarde em que sequestraram a minha irmã mais velha e me deram um tiro nas costas.

Me lembro de como foi acordar e não sentir minhas pernas.

Flashback on.

—Doutor— chamo o médico que está aos pés da cama no hospital em que me encontro— por que eu não consigo mexer as minhas pernas?

—Zara— ele fala com paciência— eu tenho uma notícia ruim para te dar.

—Fala logo, doutor— digo mas eu já sei a resposta.

—Você ficou paraplégica— ele fala e começo a chorar.

Ele tira a coberta que encobre meu pé e o aperta. Ele pergunta se sinto algo mas nego chorando mais ainda.

Flashback off.

Mesmo tendo chances de um dia eu voltar a andar e com todas as terapias, exames e cirurgias eu nunca voltei, nunca senti nada desde aquele dia.

—Zara?— meu professor de genética me chama, atraindo a atenção da sala toda para mim— parabéns!

Ele vem até mim e me entrega minha prova, valia 10 e tirei 9,6. Quando se esta presa em uma cadeira de rodas não tem muito o que fazer para passar o tempo, então eu estudo muito.

—Quanto você tirou?— minha unica amiga, Alika me pergunta.

Um dos vários problemas de se estar em uma cadeira de rodas é o preconceito. Pelo menos aqui na faculdade é. Ninguém quer ser meu amigo por causa disso, menos Alika que não é cadeirante como eu, mas é africana, o pessoal não tem apenas o preconceito com ela, eles também tem o racismo, mas eu não consigo entender, acho que devemos tratar todos como iguais, independente da cor ou da condição física ou até financeira.

—9,6- falo minha nota— e você?

—7— ela fala cabisbaixa— como você é inteligente!

—Obrigada.

—Parabéns aos alunos, Paulo e Zara por terem tirado as melhores notas da sala, e quero falar em particular com você Pietro pois tirou uma nota muito baixa e corre o risco de reprovar e duvido muito que seus pais gostem da ideia de pagarem uma faculdade para você ficar de gracinha e reprovar— o professor fala e todos olham para Pietro, menos eu.

Eu olho para Paulo. O garoto por quem eu sou apaixonada. Sei que pareço boba mas não tem como não gostar dele. Ele é simplesmente demais, com aquela pele bronzeada e os cabelos pretos bagunçados. Eu conheci ele a três anos atrás quando achei que ele gostava da minha irmã, mas ela fugiu e ele se afastou de mim. Agora entrei na faculdade e tive a surpresa. Embora ele seja dois anos mais velho que eu ele estuda na minha sala.

—Oi?— alguém fala comigo me fazendo tirar os olhos de Paulo.

—Oi— falo e é Alika.

—O Paulo pediu pra perguntar quanto você tirou.

Meu coração acelera e digo a nota. Ele nunca perguntou isso antes. Meu coração quase sai pela minha boca.

—Ele tirou 9,1— ela me diz— eu preciso estudar mais— ela fala me fazendo rir.

O sinal toca e começo a arrumar minhas coisas, Alika me empurra até o corredor mas antes escuto o professor chamando Pietro para uma conversa.

Nunca gostei do Pietro, ele sempre se achou o riquinho e o poderoso e sempre tirou sarro da minha situação e de Alika também.

Perco Alika de vista e não consigo mover minha cadeira para lugar nenhum por conta do movimento das pessoas no corredor.

Uma das rodas prende em algum lugar mas não consigo ver, me desespero e acabo caindo, com cadeira e tudo.

Todos me olham e riem, fico no chão mortificada de vergonha e incapaz de me mexer. Coloco minha mão nos meus olhos numa tentativa totalmente ridícula de me proteger contra os olhares. Se você acha que ser cadeirante é ruim, vai por mim, é muito pior. Ainda escuto os risos mas eles acabam de repente.

—Zara, não é?— ouço uma voz masculina me chamar, mas não é qualquer voz, eu já ouvi ela uma vez numa apresentação sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e depois disso nunca mais saiu da minha cabeça.

Abro os olhos e vejo ele. Vejo Paulo e toda a sua beleza sobrenatural agachado ao meu lado.

—Oi— falo.

—Quer ajuda?— ele pergunta com um sorrisinho perfeito.

—Claro— falo.

Ele coloca a minha cadeira de pé e depois me ergue.

—Obrigada-— agradeço.

—De nada— então parece pensar por um instante e fala novamente— se bem que você pode me dizer como consegue ser tão inteligente.

—Nem eu sei— sorrio envergonhada— se soubesse a Alika seria tão inteligente quanto eu, pois não para de me perguntar isso também.

Rimos e começo a me mexer enquanto ele anda ao meu lado.

—Desde quando estudamos juntos?— ele pergunta.

—Desde o primeiro ano— estamos no começo do segundo.

—Nossa, acho que hoje foi a primeira vez em que vi você— ele ri.

Eu sabia que não era marcante na vida das pessoas mas ele não precisava esculachar assim.

—Até que enfim— Alika aparece falando— me disseram que você caiu.

Ela para quando vê Paulo.

—Paulo me ajudou.

—Falando em ajudar— Paulo começa— tenho que ir, meu pai esta me esperando.

Paulo sai e Alika começa a falar.

—Desculpa, eu não queria te deixar sozinha, mas pelo menos o gato do Paulo te ajudou.

—Sim— falo boba, eu nunca mais vou lavar meu braço onde ele segurou.

Avisto o carro do meu pai e mexo minha cadeira em sua direção. Mas antes alguém me para. Olho pra cima e vejo os olhos azuis de Pietro. Maldito italiano!

—O que você quer?— pergunto grossa.

—Eu queria pedir uma ajuda pra você— ele responde e eu me surpreendendo.

—Ajuda?— pergunto atônita.

—Sim, eu tirei 3 na prova— ele levanta sua prova comprovando— e você é a pessoa mais inteligente da sala então eu queria que você me ajudasse a estudar pra fazer a recuperação.

—Eu não vou te ajudar, Pietro— falo convencida.

—Por que?— ele tem a coragem de perguntar.

—Porque você é um idiota— falo e volto a me mexer— deveria ter pensado nisso antes de tirar onda por causa da minha situação.

—Zara, me desculpa, eu preciso da sua ajuda.

—Suas desculpas não valem nada pra mim, vai se ferrar!— digo e vou embora.

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Deichando claro que a Zara aparece em outra das minhas histórias, que se chama "Apaixonada Pelo Meu Sequestrador" e ela é irmã da personagem principal. Vão lá ler pra entender melhor.

Votem e comentem ❤❤❤

Essa é uma história de amor (#Wattys2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora