Depois que saímos da festa não dissemos nada um para o outro. Talvez Pietro já gostou de alguém e me entendesse ou talvez, e mais provável, olhou para a minha cara nada amistosa e decidiu ficar calado.
A única coisa que ele disse foi um "sinto muito" depois de me deixar na frente de casa.
Não sei por quê Alika fez aquilo. Eu amava Paulo e amava ela também. Amanhã é domingo e provavelmente não irei ver ela mas na segunda quando tiver aula ela vai vir pedir desculpas.
E eu odeio auto piedade, talvez eu bata nela mas pensando bem ele não era nada meu, nem amigo. Os dois estavam solteiros, então, por que não?
Só sei que tenho um dia para pensar e não vou fazer isso, pensar neles agora me machuca. E eu não sou assim.
Eu não fico por aí chorando por causa de amores não correspondidos e escutando bads. Eu sou melhor que isso.
**
—Oi, Zara— Ruth diz animada entrando no quarto.Eu queria ter a animação dela. Eu queria ter qualquer animação. Mas no momento sinto como se tivesse acabado de ser afogada. É um sentimento estranho.
—Oi, Ruth— falo desanimada.
—Você tem que se arrumar logo, o garoto de ontem está aí.
_O QUE?!— pergunto surpresa.
—Isso mesmo, vamos logo.
Acho que hoje tive o banho mais rápido da minha vida, eu não sei o que Pietro quer aqui mas decidi colocar um vestido que eu uso para fazer tudo e vou para a sala.
—Oi, Zara.
—Oi, Pietro, o que você veio fazer aqui?
—Pensei que fôssemos amigos.
Penso por um instante. Somos realmente amigos? Acho que amizade é quando você além de encontrar a pessoa no lugar onde a conheceu também encontra fora.
Pensando assim talvez estejamos no caminho para a amizade.
—Para de pensar se somos amigos ou não— Pietro me tira dos meus pensamentos e ri.
—O que vamos fazer então, amigo?
—Vamos ao parque?
—Eu não estou bem.
Falo isso porque não quero sair e também porque se eu sair tenho grandes chances de encontrar Alika na rua e uma discussão na rua não é muito boa.
—Mas é por isso mesmo, você não está bem, daí você sai e fica.
—Só nós dois vamos sair?
—É o parque! Não é como se fôssemos viajar.
Acabo cedendo. Não sei porquê mas vou. As vezes precisamos fazer isso. Agir sem pensar, não para pegar o cara que sua única amiga ama mas para ser um pouco mais feliz.
Chegamos ao parque e nos sentamos. Bem, Pietro se senta pois eu já estou sentada. As vezes penso como se eu ainda andasse o que só me faz ficar pior quando olho para baixo e não tenho forças para controla-las.
Conversamos normalmente até chegar uma garota. Ela cumprimenta Pietro e se apresenta. O nome dela é Fabiola, achei estranho em um primeiro momento. Eu nunca conheci alguém que se chamava Fabiola antes.
Ela é bonita. Tem os cabelos castanhos claros e uma pele levemente bronzeada. Talvez ela tenha nascimento branca e tenha tomado muito sol.
Descubro que ela é prima do Pietro. Eles não se parecem muito, mas Pietro explicou que o pai dele veio da Itália e se casou com uma brasileira que, logicamente, é a mãe dele e a irmã dela é mãe da Fabiola o que faz ela ser bem diferente. Deu para entender?
Enfim...
Fabiola vai embora e nos deixa. Gostei dela, tanto por ela ser legal quanto por ela não se importar com a minha deficiência. Deveria existir várias pessoas assim no mundo.
—Até hoje eu não consigo acreditar que ela foi a primeira garota que eu beijei— Pietro fala do nada e começo a rir.
—Pelo menos não foi a virgindade— digo e me arrependo na mesma hora, eu deveria pensar um pouco antes de falar as coisas.
—Eu sou virgem— ele diz.
—Como?— pergunto incrédula, como ele pode ainda ser virgem?
&Eu sou virgem, nunca "comi" ninguém.
—Como assim? Você é o Pietro! O cara que pegou a professora de bio química!
—Eu sei, eu sei— ele ri e deita de barriga pra cima— é que durante o ensino médio eu só era um nerd magricela, nenhuma garota ficava comigo e depois que acabou eu mudei um pouco, olhos azuis não fazem ninguém ser bonito e agora na faculdade eu fico com as garotas mas não passa de alguns amassos.
Ainda estou com a minha cara de taxo tentando acreditar. E eu aqui pensando que ele já havia traçado umas mil garotas.
—Para com essa cara— ele fala e se levanta um pouco ficando escorado em cima de um de seus braços— eu nunca senti vontade de fazer isso, sabe, acho que estou esperando a pessoa certa.
Saber que Pietro é virgem me fez perceber que ele não é tão idiota como eu pensei e também fez eu me sentir um pouco mais aliviada, não sou a única pessoa na faculdade de medicina com mais de 19 anos que ainda é virgem.
—E você?— ele pergunta.
—Eu o que?
—É virgem?
—Sou— respondo.
—Por que?
—Não sei se você reparou, mas eu uso cadeira de rodas! Pelo amor de Deus, ninguém quer ficar com a aleigadinha.
—Isso não tem nada haver, pessoas cadeirantes arrumam parceiros o tempo todo.
—Você teria coragem de ficar com uma pessoa assim?
Ele fica em silêncio e decido ir embora. Isso me deixou com raiva. Talvez o que ia acontecer no carro tenha sido algo só de momento e ele se arrependa de ter feito. Incrivelmente me sinto pior e não adianta embelezar a verdade, eu desesperadamente preciso de amigos melhores, ou amigos de verdade.
Penso no nosso acordo por um momento. A popularidade não veio ainda e a minha amizade com Alika está estranha agora. Então para que continuar com as aulas?
Talvez eu queria distância de Pietro.
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Essa é uma história de amor (#Wattys2016)
RomanceZara era uma garota doce e muito confiante, porém um acontecimento trágico ocorreu em sua vida e ela acabou ficando de cadeira de rodas. Apesar de sua condição física, Zara vive uma vida normal até onde pode. Indo para a escola e estudando muito ela...