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Não consigo acreditar.

Eu estou grávida do Paulo. E agora? Eu estou totalmente perdida.

Nem sei se terei coragem para falar isso para alguém. Estou com medo. Muito medo.

Paulo nunca disse que me ama, pelo contrário, ele sempre arruma uma desculpa para não tocar nesse assunto.

Meu pai entra correndo dentro do quarto.

-Pai? O que foi?- pergunto assustada.

-Você recebeu alta- ele fala- vem, vamos embora- diz com minha cadeira nas mãos.

Ele me coloca na cadeira e me leva o mais rápido possível do hospital.

Quando chegamos a frente de casa ele para o carro e entra correndo. Então ele vem trazendo malas.

A ficha cai. Ele sabe sobre a gravidez. E ele vai me levar embora.

-Vamos embora?- pergunto.

-Vamos- ele fala apressado- você vai ter esse filho bem longe daqui.

-Eu não quero ir- grito.

Por que ele está fazendo isso? Não consigo acreditar em mais nada. Como a minha vida pode estar virando de cabeça pra baixo desse jeito?

-Você acabou com a sua vida- ele praticamente cospe as palavras- você acha que ele vai fazer o que quando ficar sabendo? Sua cirurgia era no final do mês e agora você não vai mais poder faze-la.

Começo a chorar, não por suas duras palavras, mas por elas serem verdade.

Se Paulo soubesse disso iria me deixar com certeza. Eu já sei como termina essa história. Termina comigo sozinha, pois ninguém quer a aleijada.

Como eu poderia saber que iria dar tudo errado? Quando tudo isso começou a acontecer?

Depois de ter pegado tudo meu pai começa a dirigir.

Vou vendo a cidade, talvez pela última vez, não sei.

Começa a chover, e assim como a água que desce pela janela, minhas lágrimas descem pelo meu rosto.

No caminho passamos na frente da casa do Pietro.

Me lembro de tudo o que vivemos e me lembro que as chances de eu vê-lo novamente não são tão boas assim.

Finji que estava dormindo durante toda a viagem, durante quatro horas até que chegamos.

A casa não é grande, com certeza não tem espaço para mim. Ela é de madeira e bem velha.

Meu pai me leva pro quarto e me deixa na cama. O piso também é de madeira e faz um barulho enorme.

Me viro para o lado e choro durante a noite toda. Agora até chorar está machucando.

**
Coloco meus fones e ligo a música no volume máximo. Olho para o céu e tudo fica um pouquinho menos insuportável.

Faz dois meses que estou aqui. E quando eu digo "aqui", é realmente aqui.

Não posso sair daqui para nada. Até a médica que está acompanhando minha gravidez vem aqui.

Como sempre meu pai trabalha demais para fazer qualquer coisa e me deixa aos cuidados da Rosa.

Ela já é meio velha, deve ter quase setenta anos, mas cuida de mim como ninguém.

Já me acostumei com o fato de que eu não vou mais ver o Paulo ou o Pietro. Demorou um pouco para que eu percebesse que esse era o fim mas eu percebi.

Coloco minha mão sobre a minha barriga. Eu não me sinto nem triste, nem feliz, estou apenas suportando.

Não ouço quando meu pai chega, só sei porque ele tira os fones dos meus ouvidos.

-Oi- falo.

-Vou ter que tirar esses fones de você também?- meu pai me pergunta.

Vai em frente. Você já tirou a minha vida mesmo.

-O que houve?- pergunto.

-Se arruma- ele fala- temos que ir ao fórum, vai ser hoje o julgamento do cara que fez isso com você- ele diz e entra dentro de casa.

Acho que a única coisa positiva na minha vida é saber que o cara que atirou nas minhas costas foi preso e vai pagar por isso.

Eu nunca o vi, nem mesmo por fotos, a única coisa que sei sobre ele é o que meu pai me falou, o que se resume a quase nada.

Me arrumo e vamos. O fórum fica na minha cidade e minha esperança aumenta. Será que tem alguma chance de eu ver o Pietro? Ou até mesmo o Paulo?

Vamos direto para o fórum e já entramos, é tudo muito rápido aqui. Fico até impressionada.

Enquanto esperamos tudo começar as pessoas vão entrando.

Vejo pela primeira vez o rosto do homem que fez isso comigo. Ele parece acabado, mas não por ser velho, mas por não se cuidar, por não viver. Eu sei como é, vejo essa imagem todos os dias no espelho.

Ele é branco, tem cabelos grisalhos e uma barba por fazer castanha clara. Seus olhos estão bem inchados e são azuis, uma linda cor azul.

Estranhamente esse cara me lembra o Pietro. Acho que estou enlouquecendo, como esse cara pode me lembrar o cara que amo?

O juiz não fala muito, mas em compensação os advogados dão uma palestra. Eles falam, falam e falam.

Até que o juiz anuncia a entrada de uma testemunha de defesa.

Um policial abre uma porta e por ela passa ninguém mais ninguém menos que Pietro.

-Agora a palavra está com o advogado de acusação- anuncia o juiz- e com a testemunha de defesa o filho do acusado, Pietro Agostini.

Meu queixo cai. Isso não pode estar acontecendo.

Há várias formas de morrer, e em uma delas seu coração ainda bate e você ainda respira.

Essa é uma história de amor (#Wattys2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora