Acordei com o barulho de mensagem que chegou no meu celular. Não que eu esteja virando alguém importante, é só o Paulo.
A noite passada foi longa. Ainda estou com o rosto inchado de tanto chorar.
Eu juro que não queria chorar, não queria me sentir tão triste. Mas não dá, sinto falta de tudo. Sinto falta das risadas, das conversas e de todos os momentos que estão lá atrás e eu sei que é onde vão ficar.
Volto a realidade quando Vanessa abre a porta do quarto com tudo. Ah, ela também é bem mal educada. Chata é pouco para ela.
**
Quando chego a faculdade vejo Alika ao longe. Não nos falamos mais e a parte mais triste é que nós costumávamos conversar todos os dias.Paulo vem falar comigo. Viramos amigos agora, só que eu não estou feliz como eu deveria estar.
Enquanto conversamos, Raquel e Estefânia nos olham, cochicham entre si e riem como hienas. Respiro fundo e finjo que não me machucou, pois dói, mas meu sorriso engana elas.
—E ele vai ser bem maior— Paulo fala sobre um carro novo que ele vai comprar.
Sorrio confirmando e ele sorri de volta. Eu só tenho que sorrir e concordar nas horas certas e assim consigo faze-lo falar o suficiente por nós dois.
Vejo Pietro, será possível que ele nunca tenha sentido nada por mim? As vezes me pego pensando sobre isso. Eu não sou tão ruim assim, para ele ter precisado me abandonar daquele jeito.
Volto minha atenção a Paulo. Será que ele não percebe que eu não estou bem? Ele não percebe e eu não demonstro. E a gente continua assim, fingindo que não sente nada.
Bate o sinal. As vezes eu penso em desistir da faculdade, ou melhor, desistir de tudo. Me sinto cansada tanto fisicamente quando sentimentalmente e psicologicamente.
—Vamos fazer alguma coisa hoje?— Paulo me pergunta do nada.
Estreito meus olhos. Bem, qualquer felicidade é melhor do que ficar aqui sofrendo pelo Pietro.
—Tipo o quê?
—Tipo, tomar um sorvete, ou assistir um filme.
Me lembro de quando fui tomar sorvete com o Pietro e ele acabou toda e qualquer coisa que ele tinha comigo.
—Vamos assistir um filme, é melhor— falo.
—Na sua casa, na minha ou cinema?
Me lembro de quando assisti um filme com Pietro na minha casa e dormimos juntos. Me lembro de quando assistimos no cinema nos expulsaram.
—Na sua casa.
Me lembro de Pietro de novo. Não dá, tudo me lembra ele, até Paulo me lembra ele.
Parece que estou vivendo um loop infernal.
**
Marcamos de assistir o tal filme. Eu já não sei mais se gosto do Paulo, porque se eu estivesse apaixonada estaria irradiando felicidade e eu não estou assim.Ele veio me buscar para assistir o filme. Quando chegamos na casa dele não tinha ninguém, bem conveniente.
Ficar juntos era meio agonizante: lágrimas contidas, silêncios nervosos, bate-papo polido demais, ouvindo a TV que passava um filme que eu não entendia.
Talvez se eu voltasse para a minha casa e me esquecesse de que um dia Pietro existiu ou que eu provavelmente amo o Paulo, minha vida melhorasse.
—Quer mais pipoca?— Paulo pergunta.
—Não, obrigado— digo.
Ele continua me encarando mas depois volta a sua atenção pra TV, eu acho que deveria achar isso esquisito mas, já não acho mais nada.
Sinto como se fisicamente eu estivesse aqui, mas mentalmente estou em uma galáxia muito mas muito distante.
O filme acaba e só percebo porque as letras começam a subir.
Paulo me encara e chega mais perto. Meu coração acelera e minhas mãos tremem. Acho que ele vai me beijar, mas e depois? Todas as pessoas que beijo tem a incrível capacidade de me fazer gostar delas e irem embora.
—Zara, você é tão linda— Paulo fala.
Eu sorrio. Seus lábios estão muito perto e de repente nos beijamos. O beijo é calmo e doce, era o que eu queria a três anos, não era?
Ele me deita no sofá e sua mão está no meu pescoço e a outra na minha cintura, enquanto minhas mãos estão no seu cabelo.
Ele me olha nos olhos a procura de algum arrependimento e como resposta o puxo e o beijo novamente.
Ele aperta a minha cintura e suspiro entre nosso lábios, até que alguém abre a porta com tudo.
—Er... desculpa— diz uma mulher, talvez a mãe dele.
Vergonha é pouco para o que eu estou sentindo.
—Mãe, essa é a Zara— Paulo fala.
—Oi— digo.
Ela me cumprimenta e sai, olho para Paulo e começamos a rir. Me lembro da mãe do Pietro, ela sempre me olhou tão estranho.
Paulo me leva embora e vamos calados durante o caminho. É um silêncio confortável que me fez pensar.
Pensar sobre o nosso beijo. Beija-lo me fez perceber, ou melhor, entender que sim, eu amei o Pietro.
O amei pois ele foi meu único verdadeiro amigo, o amei porque ele foi o meu primeiro, o amei porque ele me amou e eu tenho certeza disso.
Quando deitei na minha cama aquela noite só soube pensar em Pietro.
Talvez ele estivesse pensando em mim, talvez ele estivesse com saudades, talvez ele contasse de mim para alguém.
Como eu penso nele, sinto saudades e conto para mim mesma mil vezes por dia.
Mas é só... talvez.
Era amizade até virar amor e hoje já não é mais nada.
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Essa é uma história de amor (#Wattys2016)
RomanceZara era uma garota doce e muito confiante, porém um acontecimento trágico ocorreu em sua vida e ela acabou ficando de cadeira de rodas. Apesar de sua condição física, Zara vive uma vida normal até onde pode. Indo para a escola e estudando muito ela...