Capítulo 4

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~~Narra Martins~~

Por incrível que pareça, resolvi sair de casa para refletir em algumas coisas. Troco de roupa, calço meu tênis, pego meu celular e saio. Aviso minha mãe que estou de saída, e resolvo deixar minha chave em casa. E lá vou eu: livre, leve e solto para pensar em muitas coisas, e na minha vida.

Enquanto andava pela calçada, e torcia ao mesmo tempo para não encontrar ninguém conhecido, lembrei do que Luiz falou para mim sobre não demorar a arrumar um emprego, e que os meus pais não vão me sustentar pelo resto da minha vida. É verdade por um lado, pois todos nós morreremos um dia, só não sabemos quando. Mas não descarto a possibilidade de ser sustentado pela família. Isso para mim é muito sério de se pensar, e digo que é complicado... Pelo menos para mim é... Não sei para as outras pessoas.

Paro em frente a lanchonete, e entro só para comprar um refrigerante, e saio. Durante o trajeto, observo tudo ao meu redor, tomando meu refrigerante. Chego em uma praça, que aliás, nunca percebi que tinha pelo bairro. Sentei no banco de madeira totalmente envelhecida pelo tempo, e fico pensando e simplesmente viajando ali, por horas.

De repente, sinto que alguém se sentou ao meu lado. "E agora? Será que saio daqui, ou fico?", pensei. Quando estava em meio a uma escolha de sair ou ficar, essa pessoa resolve conversar comigo.

— Oi, tudo bem?

— Tudo. — respondi.

Quando olhei, era uma mulher, de cabelos negros, lisos e compridos, branca, e de olhos castanhos escuros.

— Não parece que está tudo bem. Prazer, sou Lydia. — disse ela estendendo a mão.

— Prazer, me chamo Leon. — respondi retribuindo o cumprimento.

— Então... Por que você está assim, tão pensativo? — perguntou ela.

— Não é nada demais. Pode ficar tranquila. — falei.

— Tem certeza que não quer me contar?

— Bom... É sobre o emprego. — sim... Ainda estava com isso na cabeça. Não queria falar para ela, mas me senti tão seguro, que acabei revelando.

— Alguma coisa errada está acontecendo por lá?

— Não... Na verdade não estou trabalhando. Uns tempos atrás fui cortado da empresa por causa da crise, e até então estou desempregado. Mas tenho meus pais ainda pra me sustentar. Só que meu amigo disse pra mim que eu não os teria pelo resto da vida. — expliquei.

— Vou ser direta e sincera com você... O que seu amigo disse foi, e é verdade. Vai chegar certo momento que você irá ficar sozinho. Então não deixe de arrumar um emprego, pois é muito bom, e importante. — disse ela séria.

— Pois é. É isso que todos estão dizendo, mas é difícil, pois não gosto de conhecer outras pessoas e ter contato com elas. Sou muito tímido.

— Mas você está conversando comigo agora. Se fosse tímido, você nem estaria me dando atenção. Você iria embora. Não é verdade? — falou ela sorrindo.

— É... Isso é verdade.

— Aos poucos você vai perder totalmente essa timidez. Mesmo se não perder totalmente, você vai melhorar, e muito. — falou Lydia.

— Tem certeza? — perguntei desconfiado.

— Bom... Se você se esforçar em conhecer mais pessoas, e ter mais contato com elas, digo que tenho toda a certeza do mundo. Agora se não fizer isso, irá ser complicado. — respondeu ela sorrindo e apoiando uma de suas mãos em meu ombro.

— Verdade... Vou tentar. — falei com um pequeno sorriso fraco.

— Bom, preciso ir porque tenho que passar na casa da minha irmã. — disse ela levantando-se do banco. — Pense bem no que seu amigo disse, e também no que eu te falei. Você consegue sim perder a timidez. — completou ela, olhando fixamente para mim. — Foi um prazer te conhecer Leon!

— O prazer foi todo meu. — respondi.

E assim ela partiu. Foi uma conversa rápida, mas interessante, que me fez refletir ainda mais. Fiquei mais um pouco ali, sentado no banco e observando as crianças brincarem no parquinho, e pessoas passando pela praça. Quando fui ver já era tarde. Olhei no relógio do celular: eram exatamente seis e meia da noite. Saí dali, e fui em direção a minha casa.

Quando cheguei, lembrei que tinha deixado minha chave em casa. Toquei a campainha e esperei. Ninguém atendeu. Bati na porta, e nada.

— Mãe! Pai! Tem alguém aí? — gritei e bati novamente na porta. Mas ninguém respondeu.

— Que beleza! Agora vou ficar aqui na rua! Deveria que ter levado a chave. — falei em alta voz e irritado. Passei horas sentado em frente à porta de casa. Estava parecendo o Chaves, sentado em frente à casa do Seu Madruga, esperando o dejejum chegar. Algumas horas mais tarde, recebo uma mensagem da minha mãe.

Regina: Filho... Seu pai e eu tivemos que sair para resolver um problema. A chave está enterrada dentro do vaso de plantas. Daqui a pouco chegamos. Beijo.

Eu: Ok... Obrigado!

Nossa... Minha mãe deixar a chave enterrada dentro do vaso de plantas? Isso é uma aventura e tanto! Tem que ter coragem para fazer isso. Desenterrei a chave, e abri a porta. Fiquei aliviado em receber a mensagem da minha mãe dizendo onde estava a chave, pois acho que não aguentaria ficar mais horas fora de casa.

Preparei a janta, e me alimentei. Fui para o quarto, liguei o computador, e adivinha... Entrei no canal da Nilce, claro! Assisti alguns vídeos, e depois entrei em alguns jogos online. Passei horas jogando, e durante o jogo, ouço meus pais chegarem. Dessa vez desço para vê-los.

— Finalmente chegaram! Porque demoraram tanto?

— Seu pai teve que resolver um problema do cartão. — falou mamãe.

— Que problema foi esse? — perguntei.

— Simplesmente eles bloquearam o cartão de crédito, sendo que pago todas as faturas no dia certo. — explicou papai irritado.

— Nossa... E como ficou isso?

— Eles descobriram que aconteceu um problema no sistema, e o pagamento da fatura não caiu. Espero que eu não pague nenhum juro depois. — falou ele.

— Tomara! — exclamei.

— Então filho... Já jantou? — perguntou mamãe.

— Já. Aliás, aquela lasanha estava muito boa!

— Que bom que gostou filho. Fazia tempo que não preparava uma lasanha daquela. — disse ela.

— Acho que vou subir. Já vi que vocês estão bem. E estou com muito sono. — falei sorrindo.

— Ta bom filho... Boa noite! — falou mamãe.

— Boa noite! — falei. Abracei meus pais, e subi para o quarto.

Desliguei o pc, e fui direto para a cama. Caí rapidamente em um sono profundo.

"Estou em um jardim, cheio de flores. Flores de todos os tipos, tamanhos e cores. O vento forte batia em meu rosto. De repente, vejo uma silhueta, bem longe, no horizonte. Desde então não consigo reconhecer. Começo a caminhar lentamente, me aproximando da tal silhueta. Quando consigo ver melhor, fico espantado. É Nilce, com um lindo vestido longo e branco, e com um arco feito com flores em sua cabeça. Fico deslumbrado com sua beleza. Ela me vê, e se aproxima cada vez mais. Toco em seu rosto angelical, e me aproximo de seus lábios. Sinto sua respiração tomar conta de mim. E quando vou finalmente beijá-la..."

— Nossa! O que foi isso? — me pergunto, levantando-me da cama, espantado e encharcado de suor.

Não posso acreditar que tive um sonho com a Nilce. Justo com ela? Por que será? Mas não posso negar que esse foi um sonho maravilhoso. Fui ao banheiro lavar meu rosto, e voltei a dormir. Será que vou voltar a sonhar com Nilce outra vez?

A Vlogueira e o Hacker {COMPLETO}Onde histórias criam vida. Descubra agora