Para Todo O Sempre?

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"Te abraçaria mesmo que tu fosses

um cacto, e eu balão."

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Finalmente em casa! Dizem que não existe lugar no mundo melhor que a nossa casa, e esse ditado faz todo o sentido para Estêvão. Após um dia cansativo e estressante, ele conseguiu tirar sua avó daquele hospital horrendo, graças à Babi, que o ajudou pagando boa parte dos remédios, se não fosse ela, Catarina ainda estaria internada. Eh, Babi se tornou o anjo da guarda de Estêvão.

Ao entrar em casa, eles se deparam com uma escuridão amedrontadora, ele tinha se esquecido da luz, agora, a falta dela.

— Estêvão meu filho, que escuridão é essa? – Perguntou olhando ao redor.

— Ah vó, é que deu um problema no poste de luz, e por acaso, só tá faltando luz aqui em casa.

Ainda bem que não dava para ver nada, senão ela ia logo perceber que ele estava mentindo.

— Eu já liguei pra companhia de luz – continuou – e eles disseram que hoje não vão poder fazer nada, como é sábado né, mas disseram que vêm na segunda.

— Estranho, mas logo aqui em casa.

— É... Bom vó – deu o braço a ela e foram caminhando em direção ao quarto – melhor a senhora se deitar um pouco e repousar.

— Ah, eu não aguento mais repousar! – Retrucou.

— Vó, a senhora sabe que não é questão de querer ou não, o médico disse que, se a senhora não quiser voltar àquele hospital, vai ter que fazer repouso, então, não discuta comigo! – Foi firme.

—Se não tem outro jeito né. – Cedeu contra sua vontade.

­— Fica aqui descansando enquanto eu vou buscar a Aninha. – A ajudou se deitar, mas quando ia sair, ela o impediu.

— Filho – ele olhou para ela, quer dizer, não dava para ver nada naquela escuridão, mas ainda sim a olhou – tem alguma coisa que você queira me contar?

— Não vó – mordeu o lábio inferior – por que a senhora acha que está acontecendo alguma coisa? – Fechou os olhos fortemente.

— Eu te conheço, e sei que está me escondendo algo.

— Não é nada que a senhora tenha que se preocupar vó, eu vou dar conta, eu vou dar...

Ele saiu do quarto antes que ela dissesse mais alguma coisa, e secou a pequena lágrima que estava prestes a cair. Estêvão nunca foi de mentir, mas não podia dizer a ela os perrengues que estavam passando, e nem da falta de dinheiro, já que a aposentadoria dela era só para pagar os medicamentos que ela usava, e ele ainda acrescentava, porque o dinheiro dela às vezes não era suficiente. Ele entendia o porquê dela não querer ficar naquela cama dia e noite, pois, antes de adoecer, ela era uma mulher muito ativa. Eles não tinham uma vida arregrada, com muita fartura, mas também não viviam nesse aperto que vivem, pois Adriana, sua avó e ele sempre trabalharam, aí tudo aconteceu como uma bola de neve: a morte precoce de Adriana, sua avó, que já sofria com problemas de hipertensão, caiu da escada da casa de família onde trabalhava, ficando impossibilitada de trabalhar, e ele, sozinho, ficou responsável pelo sustento de sua casa.

Estêvão não é de reclamar, e nem deve, apesar dos pesares, a vida é boa demais com ele, levou a única mulher que amou, mas deixou a filha, fruto de um grande amor. Sempre que olhava para Aninha, lembrava do amor que sentira por ela, talvez ainda sinta, pois para ele, não vai existir mulher no mundo capaz de fazê-lo esquecer Adriana, mas se por acaso existir, ela deve ser perfeita.

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