Capítulo será narrado por Estêvão e Maria. Reta final.
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Flores envenenadas na jarra. Roxas
azuis, encarnadas, atapetam o ar.
Que riqueza de hospital. Nunca vi
mais belas e mais perigosas. É
assim então o teu segredo. Teu
segredo é tão parecido contigo que
nada me revela além do que já sei.
Eu sei tão pouco como se o teu
enigma fosse eu. Assim como tu és
o meu.– Clarisse Lispector
****~Maria~
Quando vi o fogo tomar conta da sala, me dei conta que Sérgio não estava brincando, percebi que realmente ele estava com sede de vingança, e só ia parar quando todos nós estivéssemos mortos. Eu pensei que em todas as histórias que o bem prevaleceria contra o mal, mas dessa vez, na nossa história, como ele disse, tava sentindo que o mal se daria bem. Eu não estava com um pressentimento muito bom a respeito disso, mas não temia pela minha vida, e sim pela vida da Aninha e do Enriquinho, acho que não entreguei os pontos ainda por causa desses dois, porque se fosse por mim, já teria sucumbido há tempos.
— Maria – Cecília falava de modo que só eu escutava – vamos ter que agir logo, antes que gente vire churrasco.
—Tudo bem – suspirei – não me resta outra alternativa a não ser confiar em você, faça o que tiver de fazer.
— Posso saber o que vocês estão cochichando aí? Estão se despedindo uma da outra? Ela perdoou você Ciça?
– Ele gargalhou. Não via mais o Sérgio, ou a farsa, com quem me casei na minha frente, mas acho que já via o diabo ali.— Na verdade Sérgio, nós duas estávamos planejando como vai ser a sua morte – não queria, mas tenho que reconhecer que o jeito irônico de Cecília às vezes vinha bem a calhar – e chegamos a um consenso, não é mesmo Maria? – Ela me olhou sorrindo, por um momento me esqueci que a detestava.
— Claro Cecília – olhei Sérgio com uma cara de deboche, eu sabia ser bem debochada quando queria – e talvez você goste da forma que vai morrer, amorzinho. – Tratei de ignorar o fogo que consumia tudo a nossa volta.
— O quê? – Não entendeu do que nós duas falávamos. – Vocês estão de brincadeira, acho que a chama já deve estar queimando o cérebro de vocês, impossibilitando as duas de pensar. – Riu. – Mas eu já vou indo, senão daqui a pouco não consigo mais sair daqui, e não é isso que queremos, ainda tenho mais algumas mortes pra pensar. – Ele suspirou. – Foi um prazer conhecer vocês, até nunca mais!
— Até nunca mais Sérgio. Mas eu não posso dizer o mesmo sobre você – Cecília se levantou e apontou a arma na direção dele, a cara dele foi a melhor, ele não esperava nenhum tipo de reação da nossa parte, e ficou imóvel, sabia que Cecília seria capaz de tirar sua vida – foi um total desprazer conhecer você, seu inútil! Adeus Sérgio!
Sérgio não imaginava que sua vida teria fim naquele instante, nós também não. Sempre soube que Cecília tinha sangue frio, mas nesse dia, tive total certeza disso, só não sabia que ela atirava tão bem, suas habilidades serviram pra alguma coisa útil. Ela disparou a arma contra ele, e num tiro certeiro, acertou sua cabeça. Fiquei com medo, confesso. Sérgio ainda ficou com olhos fitados em nós antes de cair duro naquele chão quente. Por alguns segundos, pensei que ele ainda estivesse vivo, mas ainda bem que não, nunca respirei com tanto alívio, como naquele momento, mas ainda não tinha acabado, ainda estávamos dentro daquela casa, que perdia espaço a cada segundo para o fogo.
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Flores De Maio
RomanceCharles-Augustin Coulomb, a cabeça pensante que desenvolveu a lei, que simplificadamente, diz: "Os opostos se atraem." Existe um porquê para o amor acontecer? Existe uma razão? Há quem diga que sim, mas eu prefiro acreditar que não. O amor é simples...