A vida de Kenner

49 4 0
                                    


Há muitos anos atrás, logo após a rebelião no reino de Tharl, que acabou com a morte do antigo rei Jarne, um exército de cinquenta homens entrava na pequena vila de Joachen, no reino de Garmeth. O líder do exército era o ex-lorde Petal, que era leal ao morto rei Jarne, e agora havia fugido para o reino de Garmeth, não por covardia, mas sim por um propósito. A herança de Jarne precisava ser preservada.

Assim que os aldeões viram aquele grande grupo de homens armados atravessando a vila em meio à chuva, um aldeão implorou a Petal:

- Por favor, senhor. Nós somos apenas pobres aldeões, nenhum de nós faz parte do exército de Garmeth. Não nos mate.

- A guerra já acabou. - Disse Petal, amargo. - O rei Jarne de Tharl está morto. E eu serei o novo protetor de sua vila.

A expressão do homem pareceu desconfiada, mas Petal o mostrou uma carta com o selo do rei Yken de Garmeth, e a expressão do aldeão se alegrou com um sorriso.

- Isso é uma benção para nós senhor! - Disse ele. - Precisamos de uma proteção nesses tempos de guerra!

- Mas é claro, mas é claro. - Disse Petal, sem se importar muito. - Diga a todos que tenham uma casa para ceder espaço aos meus guerreiros. Em breve construiremos mais moradias, mas por enquanto, estes guerreiros estão cansados e necessitam de um lugar onde possam dormir.

O aldeão não gostou, mas assentiu, obediente, com medo da espada de Petal, e foi dar o recado aos outros aldeões que observavam, de longe, os guerreiros. Petal se alojou na maior casa da pequena vila, e mandou que trouxessem o bebê. Um guerreiro carregava a pequena criança em um cesto de palha, e outros quatro a escoltavam. Ela era muito importante.

- O que você vai fazer, senhor? - Perguntou Ranval, um leal guerreiro de Petal.

- Vou criá-lo como meu filho. - Disse Petal. - E ensiná-lo a manejar uma espada, montar um cavalo, e administrar uma sociedade com justiça. E quando chegar a hora certa, ele retomará o que é seu por direito.

Ranval assentiu, e ele e Petal olharam para aquela criança, aquele frágil bebê de cabelos escuros e olhos vermelhos, do qual o futuro de Tahrl dependia.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

10 ANOS DEPOIS

- Mantenha a guarda fechada! - Ordenou Petal de novo, após perfurar a guarda de Kenner pela quarta vez naquele dia com a espada de madeira. Kenner acariciou as costelas, doloridas pelos golpes.

- Eu não sei se consigo. - Disse ele.

- Vamos repetir tudo! - Disse o pai de Kenner. - Você tem que ficar bom! Você tem que saber derrotar os inimigos!

O garoto cerrou os dentes, com raiva. Esperou o ataque de Petal em posição defensiva, e bloqueou dois golpes com dificuldade.

- Lembre-se, filho, o segredo está nas mãos! É como você maneja a espada. O braço dá força à espada, mas o movimento da mão é que define a direção e a precisão do golpe.

Kenner se concentrou, então bloqueou o golpe seguinte de Petal, jogando sua espada para cima, deu um contra-ataque que o fez recuar, e quase tropeçar em uma pedra, e continuou avançando com golpes para destruir sua guarda, então Petal tentou equilibrar a situação com uma estocada mirando as costelas de Kenner, porém o garoto estava esperto e girou para o lado, segurando a espada de Petal pelo punho e a puxando, e em breve as duas espadas estavam cruzadas no pescoço de Petal.

O velho Petal pareceu desconcertado no início, mas depois riu.

- Você está ficando bom, filho! - Ele fez um cafuné em Kenner. - Em breve vai poder lutar na Guerra.

Kenner riu, por que sabia que isso não era verdade. Na Guerra das Raças haviam seres muito mais fortes do que Kenner e até mesmo Petal.

- Pai, o senhor já foi guerreiro? - Perguntou Kenner, inocentemente

A expressão de Petal ficou séria, então, e ele pediu para Kenner esperá-lo, no cume da colina perto da vila de Joachen, onde eles costumavam treinar. O pai voltou em pouco tempo, e com um objeto nas mãos. Para a surpresa de Kenner, era uma espada, mas não a espada de Petal, que ele havia aposentado há muito tempo. Essa espada ele nunca havia visto

Petal se sentou ao lado de Kenner.

E então desembainhou a espada da bainha de couro completamente negra: era uma bela espada de aço, com belos desenhos heroicos na lâmina. O punho era feito de kaslin, uma madeira extremamente resistente encontrada em Taurolen, uma grande ilha ao norte de Garmeth. A espada era impressionante, e o punho de kaslin era decorado com couro e as bordas de ferro, e a lâmina parecia brilhar em contraste com o sol se pondo no horizonte.

- Um dia ela será sua. - Disse Petal, mais sério do que Kenner jamais o havia visto.

- Quando este dia chegar. - Continuou ele. - Vou contá-lo uma coisa. Você é especial, Kenner, eu sempre te disse. Você é o mais importante de Lothien!

Kenner sorriu do elogio, mesmo sabendo que isso não era verdade.

- Quando esse momento chegar, filho, você terá que ser forte. Lembra de tudo o que ensinei? Cavalgar, sobreviver, lutar, administrar?

Kenner assentiu, se lembrando das lições que havia tido desde que se lembrava. O garoto nunca entendia o por que de seu pai o tratar de forma tão rigorosa, mas ele amava o seu pai, e com o tempo aprendeu a não fazer muitas perguntas, por que Petal era um homem misterioso. Mas dessa vez ele não resistiu.

- Por que eu sou especial? Por que eu ganharei essa espada?

O pai suspirou, provavelmente não querendo falar, mas respondeu:

- Está vendo aquelas terras? - Ele apontou para o distante Norte. - Além de Garmeth. Um dia, aquilo tudo será seu, meu filho.

Então Kenner não fez mais perguntas, e ele e seu pai simplesmente ficaram olhando o sol se por naquela tarde feliz. Kenner mal sabia o que ainda estava por vir.


O MercenárioOnde histórias criam vida. Descubra agora