Vida de Mercenário

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Kenner e Ranval haviam dormidos algumas horas no acampamento provisório, e depois andado mais um pouco, e agora já era por volta das dez horas da manhã. Conseguiram comida quando Ranval, com um facão que mantinha preso à sua cintura, conseguiu capturar um grande peixe com dificuldade, mas ainda estavam famintos. E ainda faltava mais pelo menos um dia de caminhada para chegar ao reino de Tahrl, o reino selvagem, o reino que fazia fronteira com os temíveis Gorgols e o reino que Kenner prometera ao pai... não, a Petal, conquistar.

Os dois fugitivos acabaram enxergando, ao longe, a cidade de Torir. Ela não era tão bela quanto as outras cidades de Garmeth, pois havia se originado de um acampamento estratégico dos humanos contra os Gorgols na Guerra do Kaslin, antes mesmo do reino de Tahrl existir, e acabou que os guerreiros finalmente se estabeleceram ali, e com o passar dos anos vieram mercantes, bardos e mais pessoas, foram nomeados magistrados para cuidar do povoado, que por fim acabou se tornando uma cidade. Mas mesmo não sendo tão bela como as outras, o rei Yken dava um jeito de torná-la uma cidade digna de Garmeth, portanto ainda era bonita.

- Precisamos de dinheiro. - Disse Ranval. - Como podemos conquistar Tahrl sem nem ter o que comer?

Ele falava como se fosse tão simples, dominar um reino.

- Ainda há pessoas lá que eram elais a seu pai, Jarne, e muitas apenas se aliaram à rebelião com medo de morrer. Mas você terá defensores em Tahrl, desde que você se mostre digno. Os reis de Tahrl sempre foram escolhidos pela força e capacidade, e não por dinastias, porém Yken, ao colocar Ragnis no trono depois da rebelião, acabou com isso. Mas as pessoas se lembram, e nunca esquecerão o Código da Garra, que era a base dos reis antigos de Tahrl.

Kenner assentiu, mesmo não entendendo muito, e eles foram para a cidade de Torir conseguir dinheiro. Ranval o ensinou que a melhor forma de ganhar dinheiro para homens como eles, naquela situação, mas que tinham espadas, era servir como mercenários e realizar as tarefas que as pessoas requisitassem.

Eles procuraram funcionários do governo, e embora fosse difícil encontrar um, pois eles não se misturavam muito ao povo comum, um deles os levou até o magistrado da cidade, um homem pequeno e gordo com uma toga chamado Austen.

- Mercenários, é? - Perguntou ele, pensativo. - Bem, acho que tenho um trabalho para vocês. Ultimamente estão havendo algumas reclamações de pessoas desaparecidas na cidade, e muitos aldeões relatam ter presenciado sequestros. E vocês sabem, tenho assuntos mais importantes para tratar, e não posso dispensar a guarda da cidade para isso.

Provavelmente o assunto mais importante era tomar banhos em piscinas particulares, mas Kenner não disse nada.

- Cuidamos disso facilmente. - Disse Ranval. - Trazemos as cabeças dos sequestradores e todos os prisioneiros de volta. Há algum indício de onde os bandidos estão?

- Bem, alguns dizem que eles se abrigaram no Pântano de Husdar, a leste daqui, porém nada que seja confiável. Devo desejar boa sorte a vocês na busca.

- Aceito de boa vontade seu desejo, mas o que quero mesmo é...o que interessa. - Disse Ranval, que já havia sido mercenário antes de ser recrutado por Petal. 

- 70 Jars. - Disse Austen. Jars eram as moedas utilizadas nos reinos humanos, Garmeth e Tahrl, e no reino dos nirians, Naltis.

- 200. - Retrucou Ranval.

- Feito. - Disse o magistrado,não se importando com a subida de preço.

Ranval e Kenner já iam saindo do escritório do magistrado, mas antes Kenner se lembrou:

- Meu senhor, por acaso você não teria visto Lorde Darlon de Tahrl recentemente?

- Ah, lorde Darlon! - Disse Austen, e Kenner sorriu friamente por dentro, pois seu momento de vingança contra Darlon era muito esperado. - Da última vez que o vi, ele estava viajando para a vila de Joachen. Ele não quis me dizer quais eram seus negócios lá. Depois, ele viajaria de volta a Tahrl, e deve passar por aqui dentro de algumas horas.

- Diga-lhe, senhor, que o filho de Petal lhe manda lembranças. - Falei. - E que desejo encontrá-lo, frente a frente, e que se ele tiver coragem deve aparecer no campo em frente à cidade hoje à noite, assim que eu retornar. 

- Direi, mas é claro! - Respondeu o magistrado, um pouco desconfiado, já que não sabia o que havia acontecido entre mim e lorde Darlon. De uma coisa eu sabia, Nekrens iria ceifar a alma de Darlon, e agora esse era um juramento, assim como o juramento de se tornar rei de Tahrl. Kenner agora não se importava em fazer juramentos, pois sua vida seria dedicada a eles, e eles, além de Ranval e de sua espada, eram tudo que ele tinha.

Ranval e Kenner saíram da cidade e foram investigar os desaparecimentos. Eles falavam com vários moradores, e realmente haviam várias histórias de amigos ou familiares sequestrados por bandidos para serem vendidos como escravos aos rawchs, traiçoeiros seres reptilianos, que viviam em uma ilha ao Norte chamada Racha. Porém o número de bandidos variava de acordo com a história, e em algumas versões eram cinco, em outras até mesmo quinze, e Ranval e Kenner não sabiam quantos iriam enfrentar. Mas uma coisa era certa: todas as histórias levavam ao Pântano de Husdar, onde ninguém ousava ir, pois haviam lendas lá sobre monstros do pântano, feitos de gosma que se alimentavam de seres humanos ou até mesmo vampiros, seres medonhos metade homem - metade morcego que também se alimentavam de humanos. Parecia que tudo lá se alimentava de humanos.

Após procurar muito tempo no pântano, nenhum monstro nem um vampiro apareceram, mas Kenner e Ranval já estavam ficando exaustos e perdidos. Foi quando Ranval encontrou algumas pegadas em meio à lama. Começaram a segui-las, e as pegadas acabaram os levando a uma caverna, onde podia-se ver a luz de uma fogueira e ouvir vozes humanas.

- Deve ser aqui. - Disse Ranval.

- O que fazemos? - Perguntou Kenner, assustado.

- Vamos analisar a situação. Mas, aconteça o que acontecer, fique perto de mim. - Os olhos de Ranval miravam os do jovem, lhe dando confiança. - Não darei conta de todos eles sozinho, de forma que preciso de sua ajuda. Apenas se lembre do que aprendeu desde criança, ok?

Kenner Assentiu, desembainhando a espada silenciosamente e desferindo um golpe perfeito no ar.

- Certo. Estou pronto.

Então os dois se prepararam para enfrentar o que quer que houvesse dentro da caverna.


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