O Forte do Destino

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Kenner acordou atordoado. Estava com os pés e as mãos amarrados, e não via nada. Achou que os olhos estivessem fechados ainda, mas estavam abertinhos, só que ele estava coberto por um pano preto, e sua boca estava amordaçada.

Logo ele percebeu que estava em movimento, e sentia umas balançadas quando o veículo que o estava levando passava por pedras no chão.

- Será que o "cadáver" acordou? - Kenner ouviu a voz de Alken dizer isso, ironicamente.

- Dá uma olhada. - Disse Kayhla, e então o pano preto se abriu e a claridade ofuscou os olhos de Kenner. Logo que se adaptou à luz teve a odiada visão do rosto travesso de Alken. Kenner preferia voltar pro pano preto.

- Acho que o cadáver tá bem vivinho. - Disse ele, e Kenner percebeu que provavelmente eles estavam fingindo que o corpo dele era um cadáver que eles estavam transportando com uma carroça, para que ninguém desconfiasse deles.

Kenner tentou gritar um insulto nada gentil contra Alken mas só saíram grunhidos.

- Acalme-se. - Disse o adolescente. - Já estamos chegando.

Então ele sumiu de novo, se juntando à irmã, e Kenner ficou olhando o céu. Até que uma hora a carroça parou.

- O que foi, Kayh? - Perguntou Alken para a irmã.

- Espere. - Falou Kayhla. - Ainda tem uma coisa que preciso fazer.

Ela foi até a carroça, e tirou a mordaça da boca de Kenner. Em seguida desamarrou ele, que sentiu as mãos e pernas livres num alívio, esfregando as marcas que as cordas tinham deixado.

- Ah, liberdade! - Exclamou Kenner, já tentando bolar um plano para escapar. - Eu posso fugir agora?

- Pode. - Disse Kayhla. - E Alken acertará uma flecha em sua cabeça. Ou pode ficar e aceitar meu desafio.

- Fale. - Disse Kenner.

- Você me derrotou uma vez. - Falou ela. - Agora lute contra mim, me derrote, e você estará livre. Se você puder.

Alken sorriu. Ele sabia que a irmã estava correndo um risco muito grande ao soltar Kenner para lutar contra ela, mas ela não podia conviver com essa mancha no orgulho, afinal Kayhla nunca haviam perdido um combate antes de ser derrotada por Kenner, e agora queria concertar isso.

- Eu aceito. - Disse Kenner. Ele não tinha muita escolha. Talvez Alken desse uma bobeira e chegasse perto demais de Kenner de novo, então ele arrancaria seu arco e derrotaria Kayhla. Mas dessa vez Wilh não estava aqui, e Alken tomou cuidado para ficar longe de Kenner.

Ele e Kayhla desembainharam as espadas. A visão de Kenner ainda doía, seus músculos também, e ele ainda estava sonolento.

Os dois se rodearam, estudando um ao outro com cuidado. Kenner mantinha uma postura mais defensiva, enquanto Kayhla fazia de vez em quando ataques falsos para testar suas defesas. Então ela atacou de vez, e Kenner bloqueou o golpe com dificuldade, seus músculos estavam pesados. Outro golpe forte que fez a espada de Kenner fraquejar, e como ele aparou mal o golpe fez um corte em seu ombro: o primeiro sangue derramado da batalha.

Mas Kenner não iria se entregar facilmente. Ele estocou duas vezes, porém a segunda foi mal executada e ele por pouco desviou do contra-ataque de Kayhla. Enquanto lutava, sua energia voltava e ele ficava desperto, mas isso estava acontecendo aos poucos.

Kayhla então desferiu um golpe cruzado e depois uma bem executada sequência de investidas, e Kenner aparava todas, até conseguir dar um contra-ataque.

A luta se seguiu, cada um se esforçando mais do que o outro, e o tempo todo um dos dois dominava a batalha para então o outro contra-atacar e virar a sorte para o seu lado. Kenner pensava em um movimento, uma trajetória para escapar, mas a flecha de Alken estava logo atrás mirada em sua cabeça. Se ele vencesse, morria. Se ele perdesse, vivia. O melhor seria perder. Só que não.

As duas espadas se cruzaram, fazendo até sair faíscas, e ficaram presas. O que conseguisse desvencilhar a espada primeiro poderia aplicar o golpe decisivo da batalha. Kenner ganhava a competição de força. Mas então Kayhla empurrou ele para trás com a espada, Kenner ainda poderia dar o golpe mortal, mas desistiu, admitindo que se vencesse Alken o mataria logo em seguida, e fingiu que sua espada havia caído no chão.

Kayhla acreditou, e colocou sua espada no pescoço de Kenner, vitoriosa.

- Se renda, e admita que sou melhor.

Kenner não queria dizer isso, mas aquilo seria a melhor coisa a fazer no momento mesmo.

- Você é muito melhor do que eu. Pronto, era só isso o que queria?

- Não. Quero a sua espada, como prêmio.

Kenner relutou em entregar a espada. Ela era de seu pai, Jarne, e era o símbolo de seu dever de dominar Tahrl, Petal havia deixado bem claro isso quando a entregara. Mas ele não tinha escolha, e jogou a espada no chão. Kayhla pegou e colocou no cinto. Não que Kenner houvesse literalmente deixado ela vencer, por que ela havia lutado bem, e Kenner sabia que era uma adversária a altura.

- E agora?

- Agora. - Disse Kayhla. - Olhe para frente.

Kenner olhou, e não sabia ao certo o que via. Ao redor era uma vista muito bonita, estava entardecendo, e havia florestas ao redor e muito verde, e eles estavam no topo de uma montanha.

 Então Kenner olhou para frente, e havia uma espécie de passarela que passava por sobre um abismo, até chegar em uma entrada escura. Parecia a entrada de alguma fortaleza construída sob uma montanha, inclusive haviam duas torres, mas a entrada parecia levar ao subterrâneo, e tirando as duas torres não parecia haver mais estruturas acima do solo ali, apenas subterrâneas, se houvesse algo.

- Bem vindo. - Disse Kayhla. - Ao Forte do Destino.

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