O Destino

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- Por que vocês não me soltam? - Perguntou Kenner.

- Por que você é nosso prisioneiro. - Disse Alken, o irritante arqueiro enquanto ia andando.

- Orken quem me delatou, não é? - Perguntou Kenner, pois ninguém exceto a Grande Ama, Wilh e lorde Cenry sabiam de sua intenção de tomar o trono de Tahrl, e Kenner tinha quase certeza que nenhum deles falaria.

- Quem é Orken? - Perguntou Kayhla.

- Não finjam para protegê-lo. Se eu escapar disso, vou matar aquele bêbado.

De repente uma faca passou por Kayhla e ficou fincada no chão.

- O que foi isso? - Perguntou ela. Kenner sorriu. Já sabia o que era.

Durante a guerra, Wilh havia insistido em acompanhar Kenner nas batalhas. Ele ficava junto com os arqueiros, e naquelas batalhas Kenner descobriu que ele era muito bom, não só no manuseio de facas mas também no arremesso. Porém, essa era uma habilidade geralmente desprezada por guerreiros, inclusive os linvar, a raça de Wilh, e ele acabou tendo que se tornar mensageiro, mas desprezada ou não, a habilidade de Wilh salvou a vida de Kenner várias vezes nas batalhas, e uma faca que aparecia de súbito na cabeça de um gorgol se tornou uma marca registrada do linvar. E agora Kenner sabia que ele estava por perto.

Kayhla desembainhou sua espada para procurar Wilh.

- Você tem amiguinhos? - Perguntou Alken, apontando uma flecha na cara de Kenner. Nesse momento ele cometeu um erro, e Kenner agarrou a ponta da flecha e o arco, Alken soltou a corda mas não adiantava mais, Kenner puxou a flecha para trás e atirou o arco para longe.

- Agora, Wilh! - Gritou Kenner dando um soco na cara de Alken, e Wilh apareceu detrás de uma pedra, com uma faca (naquele momento ele tinha duas, uma ele havia atirado no chão para alertar Kenner, a outra estava com ele) mirada no rosto de Kayhla.

Kenner desembainhou Nekrens.

- Vigie ela. - Disse Kenner a Wilh. - E eu vigio o arqueiro aqui...

Mas quando Kenner olhou para trás Alken já estava correndo para pegar o seu arco, Kenner correu atrás dele mas Kayhla o parou com sua espada.

- Wilh, pega ele! - Gritou Kenner.

Wilh então atirou uma faca bem na mão de Alken, que já estava quase alcançando o arco.

- Ahh!!! - Gritou ele. - Eu te mato!

Ele pegou o arco, mas Wilh não deu tempo para ele e já se jogou contra Alken.

Enquanto isso Kenner duelava com Kayhla. Ela era boa, talvez tão boa quanto Kenner. Ele tentava desequilibrá-la com golpes rápidos e intimidá-la com a força, mas ela os desviava e contra-atacava, e apesar de ser uma menina (NOTA: Sem preconceito, mas é fato que homens geralmente tem mais força), parecia tão forte quanto Kenner.

- Se Orken não me delatou, por que estão atrás de mim? - Perguntou Kenner enquanto defendia uma estocada que quase atravessou seu peito da garota.

- Muita gente está atrás de você, Kenner. Pra alguém que quer passar despercebido você chama atenção demais.

- Como sabe meu nome? - Perguntou Kenner.

- Meu senhor te conhece desde antes de você partir buscando o trono de Tahrl, muito antes. Você deveria ter ficado quieto.

- Quem é o seu senhor?

Kenner teve de se abaixar para um golpe curvo de Kayhla não arrancar sua cabeça fora.

- Você vai descobrir quando chegar lá.

- Onde quer que seja, eu não vou pra lá! - Gritou Kenner e quando ela atacou ele utilizou o mesmo movimento que utilizava para derrotar Petal em suas pequenas batalhas de treino, deixou com que a estocada de Kayhla passasse por muito perto, mas girou para o lado antes que o acertasse, e então segurou o cabo da espada de Kayhla e a puxou. Kayhla acertou-o com um chute antes, mas ele conseguiu se manter em pé e em um giro agora estava com as duas espadas apontadas para Kayhla.

- Wilh, eu terminei aqui.

- Eu acho que passei da conta, senhor. - Disse Wilh, com pesar na voz.

Kenner olhou e viu Alken no chão, com a mão sangrando por causa da faca que a havia atravessado, que Wilh já havia retirado, e agora com um novo corte na cabeça, que devia ter acontecido durante o combate entre Wilh e Alken. E Alken estava desmaiado. É, não mexa com Wilh estressado.

- Alken! - Disse Kayhla, mas Kenner a parou com as espadas.

- Eu vou deixar vocês livres, pois não tenho nada contra vocês, e - nesse ponto ele atirou a espada de Kayhla no chão. - Pode ficar com a sua arma, e cuide de seu irmão. Mas não voltem até nós, ou isso vai acontecer de novo.

Kayhla correu até o irmão, e Wilh se juntou a Kenner.

- Temos de apertar o passo. - Disse Kenner no ouvido do companheiro. - Eles vão voltar atrás de nós, com certeza, assim que o irmão dela estiver recuperado. Por enquanto ela não vai abandoná-lo.

- Desculpe por isso, senhor. - Disse Wilh.

- Desculpar? - Perguntou Kenner irônico. - Podia ter matado aquele desgraçado. Agora vamos.

- Kenner! - Gritou a garota, fazendo ele parar de andar e olhar para trás. - Nós vamos te encontrar. Não vai escapar da justiça do Destino.

- Destino? - Perguntou Kenner sarcástico. Então ela servia ao destino? Se até o destino queria ele morto, a situação estava complicada. - O destino que venha se ver comigo. - Disse ele e saiu andando com Wilh, deixando Kayhla e seu irmão desmaiado para trás.

Eles caminharam durante um longo tempo sem dormir, a um passo acelerado, pois ele não queria encontrar os irmãos de novo. Bem, deviam ser irmãos, pois os dois se intitularam filhos de Nall. Kenner não fazia ideia do que aquilo significava, mas tinha o péssimo pressentimento de que em breve iria descobrir.

- Agora estamos sendo perseguidos de novo. - Comentou Kenner amargo com Wilh. - Nunca deixamos de ser fugitivos.

Eles passaram pelo estreito que ligava Tahrl e Garmeth, evitando sempre estradas e, automaticamente guardas, e desta vez tomaram o cuidado para evitar a floresta de Thudsa.

Após dois dias de marcha, e apenas uma parada de descanso, Kenner e Wilh chegaram a um lugar familiar, pelo menos para Kenner. Agora não passava de ruínas. Joachen estava deserta desde que Kenner havia a deixado há vários meses, quase um ano.

- Senhor, o que estamos fazendo aqui? - Perguntou Wilh.

- Eu preciso me despedir de minha família, Wilh. - Falou Kenner. - De uma forma decente.

Ele foi até a casa que um dia havia chamado de sua. Ela estava em ruínas, bastante destruída e parcialmente queimada, porém o chão era de pedra e o fogo não se alastrou mais depois do incêndio inicial, apesar das paredes e o teto terem desabado. Em meio à alguns destroços de madeira, Kenner encontrou os corpos sem vida de Petal e Rayhla, e retirou eles de onde haviam morrido.

- Eu estou cumprindo o juramento, pai. - Disse ele com lágrimas nos olhos segurando o cadáver de Petal. - Estou tendo progresso em conquistar Tahrl. E no fundo você sempre será meu pai, não importa o que ninguém diga.

Então Kenner percebeu algo curioso nos dedos de Petal, um anel com uma pedra verde, que estava um pouco ensanguentado mas Kenner o limpou cuidadosamente e guardou no bolso, para ter uma lembrança de Petal. Então ele pegou lenha dos destroços e construiu uma pira funerária para os dois com a ajuda de Wilh, e ficou assistindo os corpos queimarem.

- Senhor, não devíamos ir? - Perguntou Wilh, segurando o ombro de Kenner, que se encolhia sobre seu capuz, os olhos vermelhos espreitando o fogo que levava para o Outro Mundo as almas de seus pais. - Em breve eles já vão estar atrás de nós.

- Vamos descansar agora. - Disse Kenner. - Mas não aqui, não quero mais ficar aqui, meu papel com eles está cumprido.

Eles foram embora então e se hospedaram em um vilarejo próximo. O povo dali percebeu que eles haviam vindo de Joachen, e pensaram que eles poderiam ser fantasmas ou algo do tipo, pois ninguém vinha de lá há muito tempo, de forma que não fizeram muitas perguntas e deixaram eles dormirem em paz. E depois, no outro dia, eles seguiram mais para o sul, para o fundo de Garmeth.

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