O Mercenário

Boa Noite, Kenner

O clima do banquete estava, no mínimo, tenso. De um lado o Príncipe Elin observava Kenner silenciosamente com um meio sorriso psicopata no rosto e com seus olhos calculistas, e Kenner não fazia ideia do que ele estava pensando. Ao lado de Príncipe Elin, na cadeira principal, estava Yken, rodeado por criados e serviçais, conversando com satisfação com Wilh, enquanto tomava debilmente um pouco de sopa que os criados haviam feito, e praticamente ignorando o silêncio de Kenner e Elin. Wilh não parecia muito à vontade, mas estava satisfeito por conversar com o velho Yken.

- Então você andou no exército de Ragnis. Diga-me, como está progredindo a luta contra os gorgols?

- Bem... - Falou Wilh, embaraçado. Ele geralmente sabia sobre as guerras, mas naquela guerra Wilh havia ficado mais limpando a espada e armadura de Kenner e atirando umas facas quando podia. - Não sei dizer muito bem, não estava lá como mensageiro ou escriba, estava apenas servindo meu senhor, o Mercenário.

- Os gorgols estão pressionando a fronteira norte. - Respondeu Kenner, pois Lorde Cenry, no final, acabou revelando alguns detalhes da guerra para ele. - E precisamos de mais tropas para sustentar Gorgolar, talvez se Garmeth puder ajudar. - Sugeriu ele discretamente, pois a situação em Tahrl estava complicada.

Gorgolar era uma torre que ficava na fronteira norte com os gorgols, que era a principal base de Tahrl para lutar contra os gorgols da tribo de Rorhka.

- Porém o foco do rei Ragnis não é atacar Rorhka. - prosseguiu Kenner. - Está havendo uma guerra interna entre os gorgols, das grandes tribos, Rorhka e Baluan, e Rorhka está saindo vencedora. Estávamos mantendo Rorhka ocupada, mas o principal grupo de ataque de Tahrl vai atacar Baluan, se aproveitando da guerra interna deles, e Ragnis está confiante de que o ataque vai render terras e saque. A essa altura o ataque principal pode estar acontecendo, pois passamos meses fingindo que o foco nosso era sustentar Gorgolar, e os gorgols devem ter acreditado.

- Ragnis é um idiota. - Falou de repente Elin, e Kenner sentiu que era uma fala planejada. Ele tinha seu lado psicopata, mas sua frieza também indicava inteligência. - Enquanto ele desperdiça esforços atacando para ganhar terras e riquezas, os gorgols, por mais que sejam burros como antas, vão perceber que devem se unir. Se ele quer terras, devia arrancar logo os gorgols de Xarwa do leste.

- Concordo. - Falou Kenner, e odiou ter falado aquilo, pois a última coisa que queria era concordar com Elin. - Mas não é tão simples. Os gorgols de Xarwa usam as montanhas, eles conhecem seu território, e eles sempre conseguem se defender. 

- Além disso, tem os makalas. - Falou o rei Yken, com uma careta.

- Makalas? - Elin se segurou para não rir, com desprezo. - Aqueles insetos? Duvido que eles possam fazer mais do que construir um formigueiro gigante.

- Eu estava lá na Batalha da Morte. - Disse Yken, sombrio, e depois tossiu, o que estragou um pouco o clima. - Milhares de humanos e gorgols morreram, trucidados por uma horda de makalas. Eles não estão pra brincadeira.

- Concordo. - Falou Kenner sério. - O rei Ragnis deveria reforçar as fronteiras com os makalas. O problema é que é em todo o lugar. Dizem em Tahrl que eles estão planejando um ataque, e se eles atacarem, será o fim de todas as coisas vivas em Taurolen e Garmeth. Eles sairão de todo canto, Garmeth, Tahrl, as tribos dos gorgols, desde o extremo sul até o litoral ao norte, por que eles viveram por milênios debaixo do solo, pelo que dizem, e seus complexos se estendem por todas as Duas Ilhas (Nota: uma das formas pelas quais Garmeth e Taurolen são chamadas, pois elas estão ligadas por uma faixa de terra). E há muitos boatos de que eles irão atacar em breve.

- Pura besteira. - Zombou Elin. - Vocês deveriam se preocupar com coisas reais. Quando eu reinar...

- Não tão cedo. - Repreendeu Yken ao filho, e Elin fez uma careta de raiva, mas se controlou.