Liberdade

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Ranval analisou a caverna. Haviam, na verdade, sete bandidos, porém todos bem equipados e com grossos peitorais de couro e temíveis elmos de bronze.

- Eles são da Associação Escravagista de Har. - Falou Ranval, reconhecendo o emblema dos criminosos com desprezo, um leohnar, seres semelhantes a leões porém muito maiores e mais fortes e resistentes, que viviam ao norte de Taurolen. - Eles vendem escravos para os rawchs, makalas e gorgols.

Haviam alguns prisioneiros lá, pobres homens e mulheres que haviam sido capturados para serem vendidos como escravos, e também havia um nirian prisioneiro, bastante jovem, com aparência de uns vinte e poucos anos e cabelos ruivos e compridos. Os nirians eram basicamente a mesma coisa dos humanos, porém eles possuíam guelras no pescoço para respirar debaixo da água, e em seus braços haviam espécies de nadadeiras e as pernas eram adaptadas como duas caudas, porém o nirian capturado estava com as roupas escondendo as caudas e nadadeiras, e apenas suas guelras traíam sua espécie.

- Não podemos lidar com todos ao mesmo tempo. - Disse Ranval. Ele pegou uma pedra e atirou em um canto do pântano.

- O que é isso? - Perguntou um dos escravagistas.

- Será que são os vampiros? - Refletiu um deles, assustado.

- Não, seu idiota! - Respondeu o terceiro, mas Kenner viu que todos tinham um pouco de medo. - Vocês três, vão lá olhar!

Os dois primeiros que haviam falado e mais um escravagista saíram da caverna.

- Não estamos vendo nada. - Disseram eles.

Ranval atirou outra pedra, os atraindo cada vez para mais longe da caverna, e quando os bandidos pensavam em voltar à sua toca Ranval e Kenner emergiram da moita, de surpresa. Ranval matou um e fez um gesto para o outro ficar em silêncio ou morreria e Kenner encostou Nekrens no pescoço de outro. 

Esses dois restantes, Ranval amarrou, com ajuda de Kenner, usando uma corda que ele tinha e eles os obrigaram a tirar as armaduras, depois colocaram faixas em suas bocas para não falarem, e eles ficaram presos só de cueca no chão. Kenner se segurou para não rir da visão dos dois.

Kenner e Ranval colocaram as armaduras, mas a de Kenner era muito grande para ele, e dava para perceber que o garoto não era um dos bandidos. Por isso eles teriam de ser rápidos, e usar o elemento surpresa.

Ranval foi na frente, escondendo Kenner.

- Não era nada. - Disse ele, cuspindo para interpretar o papel. - Era apenas um sapo.

- Odeio sapos. - Disse um dos bandidos. - Ei, Charlie, sua voz está diferente. 

- Acho que foi uns cogumelos que eu comi, parceiro. - Falou Ranval, e mesmo naquela situação tensa Kenner teve de se segurar para não rir. - Minha voz tá meio rouca, não é?

- É... - Disseram dois dos guardas se aproximando dele, e então ele pegou a cabeça dos dois e bateu uma na outra. Era a deixa para Kenner também atacar. O garoto desembainhou a espada, e antes que os outros dois inimigos pudessem reagir, Kenner deu uma estocada em direção ao peito de um inimigo. Porém ele estava nervoso, e não estocou com muita força, e o peitoral de couro do inimigo aparou seu golpe. O bandido sorriu, vendo seu tamanho desajeitado para a armadura.

- O que é isso? Fugiu do berçário, garoto? Aqui é um lugar perigoso para crianças virem. 

Ele desembainhou sua espada, mas Kenner lhe mostrou quem era a criança. O garoto aparou um de seus golpes e lhe deu um chute, fazendo com que ele abaixasse a guarda e então, com um golpe vertical, Kenner fez um corte bem na abertura da armadura, no pescoço. Agora haviam somente dois inimigos, pois Ranval havia matado um, assim como Kenner. Agora o garoto estava preenchido pela energia da batalha, e o seu adversário estava nervoso, e com alguns golpes ágeis Kenner conseguiu desarmar o homem, que caiu no chão, tremendo.

- Não, por favor!

Mas uma frieza havia preenchido Kenner desde que vira seu pai e mãe sendo morto por Darlon, e independente dos pedidos ele cravou sua espada no peito do homem com força, o que rasgou seu peitoral e depois sua carne, fazendo o sangue jorrar. Aquele já era o terceiro homem de Kenner.

Ranval, por fim, derrotou seu inimigo, ao decepar seu braço, e o finalizou, depois ergueu sua espada, ofegando, e olhou para o trabalho de Kenner.

- Boa, garoto, muito boa! Um trabalho bem feito. Agora vamos soltar esses prisioneiros.

Eles soltaram os prisioneiros, mas um deles, o nirian, se ajoelhou perante Kenner.

- Meu senhor, eu serei eternamente grato por isso, e juro pela minha vida te servir até a minha morte.

Ranval fez uma cara ruim, pois ele também havia ajudado a salvá-lo, mas Kenner não hesitou.

- Aceito o seu juramento. - Falou o garoto, sério, se lembrando das lições de Petal. - Em nome de todos os deuses que protegem este mundo, eu aceito que pague a sua dívida.

"Estou me tornando o Senhor dos Juramentos". Pensou Kenner. Mas reis se erguiam de juramentos, e Kenner pretendia se tornar o rei de Tahrl, de forma que ter uma pessoa jurada a ele poderia ser um começo para se tornar um rei.

- Qual o seu nome? - Perguntou Kenner ao nirian. Kenner era extremamente jovem, mas falava com a seriedade de um rei agora, pois havia sido para isso que Petal o preparara.

- Wilh, senhor (NOTA: SE PRONUNCIA WILL). - Disse ele, humildemente. Os nirians eram conhecidos por serem honrados, e devia ser por isso que Wilh havia oferecido sua vida a Kenner enquanto os outros humanos que nem haviam agradecido, apenas estavam chorando de sua desgraça. - Eu sou mensageiro e escriba do rei Aquens, de Naltis, e estava indo levar uma mensagem ao rei Yken quando fui capturado por esses bandidos.

- Bem, Wilh, agora você serve a um mercenário. - Falou Kenner com um sorriso irônico.

- Será uma honra senhor. - Disse ele.

Depois os sobreviventes se reuniram ao redor de Kenner e Ranval, tentando saber o que fazer, e ao encontrar os dois bandidos de cueca atrás da moita eles tentaram matá-los, porém Ranval impediu, e se virou para eles.

- Eu vou deixá-los ir. Mas leve uma mensagem aos seus líderes, diga que o Mercenário manda lembranças, e que eles não voltem mais a Garmeth. Ah, e diga que a hora de Tahrl chegou.

- Por que falou isso a eles? - Perguntou Kenner depois dos homens de cueca saírem correndo, desesperados.

- O que, o nome "O Mercenário"? Não gostou do codinome? Estou apenas criando uma fama para o meu novo mestre.

- Não, eu não quero dizer isso. Quero dizer sobre "a hora de Tahrl chegou".

- É possível que Racka-El, o líder da Associação dos Escravagistas de Har, apoie a nossa causa de dominar Tahrl, mas é possível que não, e como ele não é confiável mandei uma mensagem vaga, apenas para alertá-lo mas sem contar demais. Pois o reino de Garmeth e os atuais lordes usurpadores de Tahrl não podem interceptar essa mensagem.

Kenner assentiu, entendendo o objetivo.

- Então vocês planejam dominar Tahrl? - Perguntou Wilh, com os olhos arregalados.

- Talvez. - Respondeu Kenner, sarcástico.

- Que os Deuses nos ajudem! - Exclamou Wilh.

- Os Deuses não vão nos ajudar. - Falou Kenner, sombrio. - Mas as nossas espadas vão.

E assim eles levaram o grupo de volta à cidade de Torir, para deixar lá as pessoas que haviam sido capturadas pelos bandidos e buscar a primeira recompensa de Kenner como mercenário.


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