Missão ou Armadilha?

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Kenner caminhava desconfiado, havia revelado muito de sua identidade e de seu plano a Cenry e alguém poderia ter ouvido. Além do próprio Cenry também poder trai-lo. E quanto a Orken? Mas Orken não sabia de nada, e a menos que ele tivesse ouvido toda a conversa com Cenry do meio da floresta, pois Kenner o puxara para um local afastado para conversar naquele momento, não seria possível ele saber, apenas indo ao local.

Agora eles entravam mais a fundo no terreno selvagem de Taurolen, onde predominavam grandes montanhas, colinas, grandes florestas, grandes e assustadores pântanos, animais enormes, tudo ao extremo, era basicamente essa a lógica de Taurolen, pelo menos se você viesse de Garmeth, onde o maior animal era o grifo.

Aqui haviam espécies de javalis gigantes chamados jarls, que era exatamente o que dava origem ao nome da moeda de Tahrl, que com o tempo foi adotada por Garmeth pois ela era usada tanto por humanos de Tahrl, quanto por gorgols, e adotar a moeda facilitou a Garmeth praticar o comércio e acordos com os humanos de Tahrl e os gorgols. 

Sim, a relação de humanos e gorgols nem sempre era de guerra, às vezes haviam tréguas. Durante a Guerra do Kaslin, a primeira guerra humana contra os gorgols, e durante a Guerra das Raças, que ainda estava em andamento, sempre houveram tréguas. Porém a ambição dos humanos era tanta e o ódio dos gorgols pela invasão dos humanos era tanto que sempre estourava a guerra de novo. Pessoas morriam, batalhas eram derrotadas, batalhas perdidas, uma trégua firmada. E sempre os reis afirmavam que seria a última guerra, e sempre se repetia o mesmo processo. Se Kenner conquistasse o trono isso iria mudar. Se fosse para entrar em guerra, seria um único esforço, uma única campanha, para quebrar os gorgols. Mas Kenner nem sabia se havia necessidade dessa guerra, afinal, foram os humanos quem provocaram os gorgols.

Kenner se esqueceu dos seus pensamentos para reger o reino no futuro quando avistou o ponto de encontro, a Biblioteca Real de Tahrl. Apesar do nome, estava mais para uma fortaleza, e ficava no cume de uma montanha, erguida em sua imponência, com quatro torres, uma em cada canto, e em cada uma podia se ver a bandeira de Tahrl. Seu símbolo era, adivinhem: um jarl, os javalis enormes. Você pode achar que era perigoso uma biblioteca ficar tão pero do território inimigo, pois poderia ser facilmente achada, porém a verdade é que era melhor assim, pois os gorgols temiam os guardas da biblioteca o que sempre os mantinha longe daquele território. Eles possuíam todos armaduras completas e grandes espadas com lâminas negras, e eram cerca de cinquenta, o que já era demais para guardar aquela biblioteca-fortaleza, mas dava uma impressão intimidadora.

Kenner viu os guardas da Biblioteca muito antes de poder ver a biblioteca, haviam dois deles patrulhando o canto oeste, por onde chegaram Kenner e Wilh.

- Quem são vocês? - Perguntou o primeiro. Eles estavam sem o elmo, pois estava fazendo calor e eles não deviam ter imaginado que entrariam em combate.

- Sou o mercenário que vocês procuram. - Respondeu Kenner, e então ele abaixou a espada e levou o garoto e Wilh até a fortaleza. Lá dentro era bastante grande, e estavam reunidos escritos vindos de Tahrl, dos gorgols e de Garmeth, a maior parte sobre guerra. Pulando as apresentações a a burocracia, Kenner foi conheceu o mestre da guarda, Horfael, que lhe disse:

- Soubemos da localização de um livro, muito antigo, que trata das artes da guerra dos Inati, a tribo que uniu todas as outras tribos ancestrais antes de Garmeth, e desejamos muito por essa peça, ela tornaria a nossa Biblioteca realmente atraente e... lucrativa, pois os segredos dos grandes reis Inati estão contidos aqui, e há muitos que pagariam caro por esse privilégio. 

- O uso da biblioteca, para os lordes, não é gratuito? - Perguntou Kenner.

- Não quando se trata desse livro. - Disse Horfael. - Mas bem, aí está o problema, o livro está na Casa do Conhecimento de Garmeth, e aqueles ridículos pomposos não sabem como cuidar de forma digna de um livro das artes da guerra!

- Já entendi. Você quer que eu... pegue emprestado para sempre o livro na Casa, e passe ele à um guardião mais digno, que é você.

- Isso. - Falou Horfael. - Ainda bem que você entendeu. O nome do livro é Os Senhores Inati, pelo que nosso informante disse. Ele vai estar em uma área "privilegiada" da biblioteca, que provavelmente estará vigiada. Boa sorte.

- Ok, sua missão será cumprida, mas quero um pagamento adiantado, de 500 jarls. Os outros 1.500 você me dá depois.

Ele não gostou de ter de pagar adiantado, mas Kenner era o único louco que havia aparecido para essa tarefa, então ele aceitou os termos, com a condição de que se Kenner não os cumprisse em um ano ele teria que devolver o pagamento antecipado ou seria caçado e, se encontrado, morto.

Kenner saiu da biblioteca, feliz. Não era nenhuma armadilha, afinal. Quando Kenner e Wilh estavam saindo, eles cruzaram uma curva no caminho, se distanciando da vista dos guardas. Após um tempo andando, eles já estavam mais próximos do sul, mas eles ainda não iriam direto para Garmeth, as coisas teriam que esfriar por lá primeiro, seria muito perigoso ir até lá. Eles iriam buscar alguma taverna onde pudessem beber, passar a noite, e quem sabe obter alguma missão mais simples.

Porém já estava anoitecendo, não haviam cidades por perto, e Kenner e Wilh resolveram montar acampamento.

- Dessa vez, eu pego lenha. - Disse Wilh, e foi buscar a lenha para as fogueiras.

Kenner ficou sentado sob o chão, que na verdade era o teto de uma pequena caverna, que tinham escolhido como abrigo. O garoto remexeu no amuleto em seu pescoço, se perguntando por que a Grande Ama teria lhe dado aquele objeto.

Foi quando uma lâmina encostou em sua garganta.

- Não se mexa. - Falou pausadamente. Era uma voz feminina.

- Até que foi fácil, dominar o tão falado Kenner. - Disse uma voz, desta vez masculina, sarcástica. Essa voz parecia pertencer a alguém bem jovem, pois era um pouco estridente, bastante fina.

- Tanta honra em pegar o adversário pelas costas. - Murmurou Kenner, tentando descobrir com o que estava lidando.

A garota deu um passo à frente, ainda com sua espada no pescoço de Kenner, e ele pôde vê-la. Rosto forte, determinado e ousado, seus olhos eram azuis, seus cabelos, também azuis, um azul bem claro e com um corte curto que ficava bem nela. Sua armadura também era azul, e ela não usava elmo.

- Desembainhe sua espada e jogue no chão, e nem tente nenhum truque. - Alertou ela.

- Ou, eu atiro uma flecha na sua cabeça. - Falou com alegria o dono da segunda voz, e Kenner não gostou de saber que tinha um arco e flecha apontado para a cabeça dele.

- Quem são vocês, e como sabem meu nome? - Perguntou ele (observação: ele estava com capuz nesse momento. Kenner quase sempre está com o capuz).

- Nós somos os filhos de Nall, e viemos buscar você. - Falou a garota. - Eu sou Kayhla.

- E eu sou Alken. - Disse o garoto, se revelando ao andar lentamente para o lado da garota com a flecha ainda apontada para a cabeça de Kenner. Cabelos e olhos azuis como a irmã, porém o rosto era esnobe e um pouco infantil, além de bastante convencido, e ele parecia ser mais novo, talvez da idade de Kenner ou um pouco mais velho.

- E a nossa próxima parada, é Garmeth. - Falou Alken. - Você querendo ou não.

Kenner abriu, então, um largo sorriso. Tinha certeza de que havia sido delatado por alguém, não haveria outro jeito daqueles dois saberem seu nome, mas não era hora para se preocupar com isso.

- Mas é exatamente o que eu quero. Vamos para Garmeth.

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