Kenner tentou arrastar o corpo de seu pai e de sua mãe, pois segundo a Fé Antiga, em que eles acreditavam, o corpo da pessoa deveria ser queimado após a morte para ela ir até o Mundo Além Deste. A casa de Kenner já começava a pegar fogo, mas ele arrastou com dificuldade os corpos pela porta dos fundos, pois daria um funeral digno a eles. Foi então que um guerreiro inimigo, que estava passando ao lado, avistou Kenner.
- É melhor correr, pirralho! - Gritou ele, com a espada erguida. Quando uma lâmina o atravessou por trás. Era "tio" Ranval, um guerreiro de seu agora falecido pai, do qual Kenner sempre gostou. O garoto percebeu que ele estava ferido no ombro.
- Kenner. - Disse ele. - Não temos tempo. Temos que fugir. Onde está seu pai?
Kenner não precisou responder. Lágrimas saíram de seu rosto e Ranval percebeu os corpos de Petal e Rayhla no chão. Ranval o envolveu em um abraço, e suspirou, triste com a morte de seu senhor.
- Não temos tempo garoto. - Repetiu ele, sério. - temos que ir.
- Não vou deixá-los aqui. - Falou Kenner, soluçando.
- É preciso! - Disse Ranval, apertando seu ombro. - A pira funerária deles será o seu lar, e tenho certeza de que eles gostariam disso.
Kenner olhou para a casa pegando fogo e, relutantemente, concordou. Eles deixaram os corpos queimando na casa e Ranval o guiou para longe de Joachen, o lar de Kenner, que agora era só um fio de fumaça que se erguia sobre chamas ao longe. Eles caminhavam por um campo desolado sob a luz da Lua, e Kenner sentia medo.
Ele apertou o cabo de Nekrens, em sua mão, com força. Durante um segundo era o aniversário dele e ele se tornaria o dono de Nekrens, e descobriria o segredo de sua vida, e no outro seus pais estavam mortos, o segredo enterrado, e Kenner havia ganhado Nekrens, mas não da forma que ele imaginava. Ranval pareceu ter adivinhado exatamente o que o garoto estava pensando.
- Kenner, eu tenho que te contar uma coisa. - Disse ele, hesitante, como se o que fosse dizer agora fosse muito difícil. Mas então fechou os olhos, e tomou coragem. - Petal não é seu pai. Nem Rayhla sua mãe.
Kenner demorou alguns minutos para absorver essa informação. Pensou durante um tempo, calado, e então um sentimento de confusão, revolta, raiva e amargura o preencheu.
- O que?! Como assim? - Perguntou ele, depois de um tempo. - Como podem não ser?
- Você, na verdade, é filho de Jarne, o antigo Rei de Tahrl.
Kenner não podia acreditar. Ser o filho de um rei podia ser algo importante, mas ele não queria ser o filho de um rei. Ele queria ser o filho de Petal, seu pai, Petal, que desde pequeno o havia ensinado tudo que ele sabia.
- Eu me recuso a acreditar nisso. - Disse ele, mas Ranval continuou:
- Você nasceu alguns dias antes de seu pai ser executado por uma rebelião. Petal permaneceu leal ao seu pai, e jurou proteger você, para que um dia pudesse retomar Tahrl. O rei de Garmeth, Yken, havia encorajado a rebelião pois estava em guerra contra seu pai, mas ele não teve problema em aceitar o juramento de lealdade de Petal, acreditando que o mesmo havia desistido de Jarne. Dessa forma, Petal conseguiu se refugiar dos lordes rebelados de Tahrl e Yken permitiu que ele se tornasse o guardião da vila de Joachen. E então Petal decidiu criá-lo como seu próprio filho, para que ninguém desconfiasse de sua verdadeira identidade, e o resto da história você já conhece.
Não, Kenner não conhecia. Ele estava repleto de dúvidas.
- Por que Petal nunca me falou? - Perguntou revoltado.
- Ele não teve coragem de te dizer isso. - Explicou Ranval, desaprovando a atitude do falecido mestre. - Eu disse a ele para contar antes, mas ele esperou até hoje, justamente no dia em que Darlon veio nos visitar.
- Quem é esse Darlon? - Kenner falou o nome com ódio, pois era o homem que matara seus pais.
- Lorde Darlon. - Corrigiu Ranval. - É senhor de algumas terras em Tahrl, foi um dos que se rebelaram contra o governo de seu pai, e ele sempre quis se vingar de Petal, pois ele foi derrotado por nós em uma batalha.- Ranval sorriu, provavelmente se lembrando do dia. - E ele sempre foi rival de Petal.
- Mas não estávamos sob a proteção do rei Yken? Por que ele deixou que Darlon viesse até aqui e matasse meu pai... - Kenner hesitou, se lembrando com raiva de que aquele não era seu pai. - Petal?
Ranval deu de ombros.
- Não sei. Talvez a aliança tenha se tornado inconveniente. Talvez nós não estivéssemos mandando homens o suficiente para ajudá-lo na guerra, ou talvez o reino de Tahrl tenha pressionado Yken para nos entregar. Os reis são assim, Kenner, no momento que uma coisa não é mais útil para eles, eles descartam.
O garoto ainda não conseguia acreditar em tudo. Passou pelo menos uma hora fazendo perguntas, até que eles já estavam bem longe de Joachen e ele se cansou.
- Então, para onde vamos agora? - perguntou ele, desanimado.
- Para Tahrl. - Disse Ranval, simplesmente. - Mas primeiro, precisamos sobreviver. Você nunca saiu de Joachen, e as terras de Lothien são perigosas, meu jovem. O reino de Garmeth até que é bastante pacífico. Espere até chegarmos a Tahrl, que faz fronteira com os Gorgols.
Kenner estremeceu, pois os Gorgols eram horrendas criaturas com chifres e focinho que lembrava o de um porco, imensas, que eram o terror dos pesadelos das crianças de Garmeth e Tahrl, os dois reinos humanos.
- Mas primeiro.- Disse Ranval, com uma careta de dor. - Precisamos cuidar do meu ombro.
Então eles pararam para montar acampamento, fizeram uma fogueira, e Ranval colocou fogo no ombro para cauterizar a ferida. E Kenner tentou dormir, mas só conseguiu ficar tremendo sobre a grama, se lembrando da morte de seus pais, e se lembrando do rosto de Darlon se retorcendo de prazer disso. Mas como ele queria matar Darlon. Mas isso poderia esperar, por que por enquanto Kenner já tinha uma tarefa: sobreviver nas selvagens terras de Lothien.
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O Mercenário
Adventure" - Jure, meu filho... Jure, que você se tornará o rei de Tarhl. " Kenner é um jovem mercenário que vive nas Ilhas de Lothien, um lugar selvagem onde várias raças disputam pelo controle absoluto de todos os reinos. Em meio ao caos e à guerra, Kenner...