A visita indesejada

127 7 3
                                    

Chegamos à casa de Chloe, e o som do portão automático fechando atrás de nós foi quase um alívio, como se tivesse deixado o caos do dia do lado de fora. A sala de estar era aconchegante, com uma mistura de móveis antigos e modernos, cheirando a lavanda e torradas recém-feitas. Chloe largou a mochila no chão e fez sinal para todos se sentarem ao redor da mesa de centro.

— Ok, pessoal, foco aqui — começou Chloe, já pegando um bloco de notas e uma caneta. — Precisamos discutir o trabalho de artes visuais. O prazo é para a próxima semana e, desta vez, a professora não vai dar mole.

— E a gente nem começou ainda — resmungou Lucas, jogando-se no sofá.

Chloe revirou os olhos, mas tinha um brilho de determinação. — Eu pensei em algo... que tal encenarmos um livro? Não só fazer uma adaptação, mas realmente gravarmos as cenas, como se fosse uma minissérie. Algo conhecido, mas que a gente possa dar a nossa própria interpretação.

— Isso é muito trabalho — eu comentei, tentando não parecer derrotada antes de começar. — Que livro você tem em mente?

— Pensei em algo como "Eleanor & Park", da Rainbow Rowell. Um romance jovem adulto, com temas que podemos explorar de várias formas.

— Eu adoro esse livro! — Lucas exclamou, sentando-se mais ereto no sofá. — Mas você tem certeza que vamos conseguir em uma semana?

— Vai ser puxado, mas podemos dividir as cenas, editar enquanto gravamos, e... Nicholas! — Chloe se virou para o primo, que estava encostado na bancada da cozinha, observando a conversa. — Você poderia ajudar, sendo um dos personagens principais.

Nicholas arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso. — Deixa eu ver se eu entendi direito... você decidiu me colocar como ator em um trabalho de faculdade sem nem me consultar?

Chloe deu um sorriso travesso, mordendo a torrada. — Estou te consultando agora.

Nicholas suspirou, cruzando os braços. — E qual seria o meu papel?

Chloe sorriu mais ainda. — Você seria o Park. E a gente vai gravar cenas icônicas do livro, como a do ônibus, a da troca de fitas cassetes...

Ele ponderou por um segundo, depois balançou a cabeça. — Eu posso até considerar... mas com uma condição.

— Diga qual é seu preço — provocou Chloe, erguendo a sobrancelha.

Nicholas olhou diretamente para mim, um brilho provocador nos olhos. — Minha condição é que a Cler seja a Eleanor.

Senti meu estômago afundar. — Nem a pau! — exclamei, quase rindo de nervoso. — Eu não vou ser par romântico de ninguém.

— Ou isso, ou eu não ajudo — ele retrucou, sua voz carregando um tom de desafio.

Chloe olhou de um para o outro, já antecipando a batalha que se desenrolava. — Cler, por favor... Você sabe que vai ser incrível. E o Nicholas é perfeito para o papel de Park.

Suspirei profundamente. Estava exausta e sem paciência para mais debates, mas sabia que o prazo estava correndo. — E se eu errar, Nicholas? Você é quem vai pagar o mico.

— Fechado — Nicholas disse, com um sorriso malicioso. — Eu topo correr esse risco.

Minha mente já estava a mil, tentando imaginar como seria gravar aquelas cenas com ele. Nicholas parecia se divertir com a ideia de me tirar da minha zona de conforto, e eu odiava admitir que ele estava conseguindo me deixar desconfortável com tanta facilidade.

— Tudo bem, então — cedi, com um suspiro resignado. — Mas se isso der errado, eu te mato.

— Mal posso esperar para ver como vai ficar — Nicholas riu, me lançando aquele olhar provocador que fazia meu estômago dar voltas.

Desarmando minhas defesasOnde histórias criam vida. Descubra agora