Revendo os meus conceitos

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Era 5:00 da manhã quando acordo com um barulho na sala, saio da cama quando um ar gelado me atinge, vou até o guarda roupa, pego o moletom mais quente que eu tinha e vou até a sala ver o que estava acontecendo. Quando chego lá dou de cara com a minha mãe arrastando a mala de viagem dela até o quarto, vou correndo em sua direção e a abraço.

- Que saudades - diz ela me abraçando forte e me dando beijos no topo da cabeça - te acordei? - digo que acordei com o barulho dela abrindo a porta da sala e então levantei para ver quem era. Ela me abraça mais forte e diz mais uma vez que estava com saudades, eu também estava, porém a minha mãe tem esse emprego a tanto tempo que já me acostumei a ficar dias, até meses longe dela.

- Você não iria voltar só segunda? - pergunto passando a mão nas minhas pernas frias quando reparei que estava só com shorts.

- Filha, suas pernas devem estar congelando - e estavam mesmo. Quando foi que começou a fazer tanto frio? Ela me manda colocar algo mais quente, porém eu a ignoro e pergunto de novo:

- Por que você voltou hoje? - ela se senta comigo no sofá e abre a mala de viagem, de lá de dentro ela tira um edredom e me cobre com ele.

- Eu iria voltar segunda, porém quando ouvi sua mensagem me senti a pior mãe do mundo por não estar com você, então voltei voando - dou risada do trocadilho que sem querer ela faz.

- Literalmente - digo, e ela entendendo a piada também e ri, porém segundos depois a risada desaprece dando lugar a um tom preocupado na voz.

- Cler lembra que eu disse que teríamos que conversar ? - Faço que sim com a cabeça - Então... você mais do que ninguém sabe como é se sentir sozinha não sabe? - faço que sim com a cabeça e digo que não estava entendendo aonde ela queria chegar, ela me diz para deixar ela terminar e então continua - desde que eu e o seu pai nos separamos eu não faço nada mais além de trabalhar e trabalhar, são muitas viagens e em cada mês eu estou em um lugar diferente, e dessa vez foi o rio - ela para de falar para se certificar de que eu estava ouvindo e então continua - Você sabe que eu vou a trabalho, porém quando eu vou eu não fico trabalhando 24 horas por dia.

- Mãe, por favor pega um atalho - digo e então ela continua

  - Eu tenho as minhas "pausas" o meu tempo de poder curtir o lugar e em uma dessas pausas eu fui para um barzinho muito lindo que tem lá e acabei conhecendo alguém - ela para de falar de novo para ver minha reação. Eu estava em choque, simplesmente fiquei la parada, olhando para ela de boca aberta. - Olha Cler, se você não entender eu vou te compreender, não vou ficar brava com você por isso, até porque aconteceu tudo assim tão de repente...  

- Mãe - falo a interrompendo. - Não precisa se explicar, você já é uma mulher adulta, eu sei o quão chato é ficar sozinha e apesar de você ser minha mãe você é um ser humano e tem suas necessidades e eu te entendo. Você é linda e independente, não esperava que você fosse ficar sozinha para sempre. - Agora era a vez dela de ficar chocada, eu dou risada e continuo - você merece alguém que te trate como a rainha que a senhora é, e é melhor que esse cara seja quem ele for faça isso ou vai ter que se ver comigo - ela da risada e então peço para ela me contar tudo. Ela começa dizendo que ele se chama Maurício e que tem 30 anos - dona Vivian, pegando caras mais novos? - falo em um tom de brincadeira a fazendo ficar vermelha de vergonha - Não precisa ficar envergonhada, qualquer um é mais novo que você - ela me da um tapinha de leve e fala

- Isso, continua com suas graças. Ele vem aqui amanhã te conhecer.

- Nossa que rápido - digo

- Pois é, já tenho 40 anos, não tenho tempo pra ficar perdendo.

- Só espero que dessa vez a senhora tenha escolhido o cara certo - ela me olha, por um tempo ficamos la caladas e então ela fala

- Olha Cler, seu pai foi um homem bom para mim, um bom namorado, um bom marido e um bom pai para você, não quero que você pense que ele foi uma escolha errada. Ele me fez muito feliz durante todo o tempo que passamos juntos, porém chega um momento na vida de um casal, ainda mais quando eles se casam, que o relacionamento acaba caindo na rotina e foi isso que aconteceu com a gente - digo que entendo - Porém eu também espero estar fazendo a coisa certa.

- Pelo menos alguém aqui dessa casa está feliz - digo isso e ela me abraça

- Por que você não deu uma chance para ele? - diz ela passando as mãos nos meus cabelos.

- Não iria dar certo mãe

- Como você pode dizer isso se você nunca tentou?

- Já estou cansada de gente entrando e saindo da minha vida - ela me levanta do colo dela e me pede para olhar para ela e diz

- Não venha me dizer sobre chegas e partidas, eu já tenho 40 anos e já tive mais gente entrando e saindo da minha vida do que um aeroporto, porém ainda estou aqui tentando. Imagina se fosse você na minha situação. Você pensa que eu não sofri quando eu e o seu pai nos divorciamos ?

- Mãe ele mora longe...

- O Maurício também não mora tão perto assim - fico calada, pela primeira vez na minha vida fico sem ter o que falar, até porque ela estava certa, eu estava tapando o sol com a peneira, estava escondendo o meu medo de algo na minha vida dar certo dando desculpas.
Sim eu estava com medo de dar certo justamente porque o meu forte era dar errado.

Desarmando minhas defesasOnde histórias criam vida. Descubra agora