Tenho que contar

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O dia hoje está horrível. Acordei parecendo que tinha sido  atropelada por um caminhão. Eu sabia que iria fica gripada. Ainda estou deitada desde que acordei. Eu devo ter feito algo muito ruim no passado, não é possível que possa piorar certo?
Minha vida já está um completo desastre.

- Tô entrando.- grita Bruno.
Olho pra ele que faz uma cara de surpresa e senta na cama colocando a mão na minha testa.
- Estou tão horrível assim?- suspiro.
- Horrível é pouco, tá pior do que horrível, horrível é um elogio pra te descrever. Acho que não existe uma palavra tão ruim que possa te descrever no momento.
- Acabou?
- Por que você não avisa que está doente?
- Porque não é importante.-coloco a mão na boca e espirro.
- Tô vendo.-ele diz com ironia. - Vamos levantar que eu vou te dar banho.
- Eu não sou um bebê.
- É sim, minha bebezona.-ele me puxa e me leva até o banheiro.
- Você não vai me dar banho.-cruzo os braços e sorrio.
- Claro que não, Deus é bom. Vou esperar lá no quarto.-ele sai do banheiro e fecha a porta.
- Idiota.-grito.
Tomo um banho um pouco demorado lavando o cabelo. Coloco meu roupão e saio do banheiro indo direto pro closet.
Depois que coloco uma roupa volto sento na cama e olho pro Bruno deitado mexendo no celular.
- Agora sim.-ele olha pra mim e ri.
Bruno pentiou meu cabelo e usou até o secador enquanto falava que era um ótimo cabeleireiro.
- Miga, eu arraso nos cabelos. Você vai sair daqui uma diva estilo cantora famosa.-ele fala com uma voz fina.
- Anne sabe desses seus talentos?-mordo o lábio tentando não rir.
- Claro, quem você acha que deixa aquela peruca dela bonita?-eu caio na gargalhada e ele me acompanha.
- Já falei que você é o melhor irmão do mundo?
- Não, mas deixa eu gravar antes de você falar.
- Não falo mais nada.
- Ninguém me chama pros momentos fofos.
Olho pra porta e vejo o Brayan entrando segurando uma vasilha com pipoca.
- Vem cá viadinho filhote.-Bruno ri.
Escolhemos um filme na netflix pra assistir. Tinha hora que o Bruno e o Brayan começavam a falar e eu enchia a boca deles de pipoca.
Meu celular começou a tocar e quando eu vi quem estava me ligando as lembranças de ontem voltaram na minha cabeça.
- Vai atender não?-Brayan pega o celular da minha mão.
Antes de eu pegar de volta ele atende e coloca no viva a voz. Quando eu escuto essa voz me sinto a pior pessoa do mundo.

- Amor?
- Oie amor.-Brayan ri.
- Credo, você não faz meu tipo.-Felipe ri.
- Nossa magoou
- A Bianca ?
- Ela está te ouvindo
- Oi Lipe.-minha voz sai falha.
- tudo bem?
- sim
- Enfim, pensei em te buscar pra almoçar aqui em casa hoje.
- Cla..Claro
- Daqui a pouco eu chego .
- Tchau.
Pego o celular e desligo. Eu tô nervosa, vou ter que falar a verdade. Não posso fazer isso com ele, Felipe é a melhor pessoa que eu conheço, a última coisa que eu quero é magoar ele. Mas eu tenho que contar a verdade.
- Nossa, o que aconteceu com você?-Bruno me encara.
- Tá falando de que?-pergunto confusa.
- Faltou gritar tchau.-Brayan responde.
- Sério?-franzo a testa.
Eu estava tão nervosa que nem lembro o que eu falei direito no telefone.
- Ai que seca.-Bruno balança a cabeça.
- Você ama ele né?-diz Brayan pensativo.
O que deu neles pra estarem fazendo perguntas assim?
- Olha, da licença.-saio do quarto e fico perto da piscina.
Como eu vou contar sobre ontem sem magoar o Felipe. Eu sou uma péssima namorada, eu sou uma idiota. Eu podia ter impedido o Nathan de outra maneira, mas e se esse fosse o único jeito de fazer ele ficar. E se eu não tivesse beijado ele será que agora ele estaria longe?
- Perdida nos pensamentos?
Acabo me assustando e meu celular quase cai no chão mas uma mão segura ele e eu encaro aqueles olhos que eu conheço muito bem.
- Pensei que iria ficar sem celular de vez.-suspiro e seguro o celular mas ele não solta. Olho nos olhos dele de novo e ele sorri antes de chegar mais perto e me beijar. A primeira coisa que vem na minha cabeça é parar o beijo e contar logo tudo mas algo me impede e eu retribuo o beijo.
Ele para o beijo e levanta a mão que está com o meu celular. Eu sorrio e pego o celular.
- Está mesmo tudo bem?-ele franze a testa.
- Sim. Vamos?-dou um sorriso forçado.
Ele concorda e saímos de casa indo direto pro carro que estava do lado de fora. Sentei no banco de trás e o Felipe do meu lado enquanto o motorista dirigia. Começamos a conversar e por um tempo eu esqueci o dia de ontem, mas foi só sai do carro que comecei a ficar nervosa de novo.
- Marley?-peguei o filhote amarelo no colo.
- Anne deixou ele comigo hoje.-Felipe passa a mão na cabeça do filhote no meu colo.
Coloco ele no chão e ele sai correndo. Chegamos na sala e encontramos a mãe do Felipe falando no telefone. Ela era muito bonita de cabelos pretos enrolado e olhos castanho claro. Conheci os pais do Felipe na primeira vez que vim na casa dele a um mês atrás.
Ela sorri quando me vê e desliga o telefone
- Bi, quanto tempo.-ela me abraça.
- Digo o mesmo.-sorrio.
- Só chamar ela pra comer que ela aparece.-Felipe ri e eu dou um tapa nele.
- Você gosta de apanhar né.-Renata ri.
- Adoro.-ele passa a mão no braço onde eu bati.
- Bom vamos amolçar.-Rê fala toda animada.
Vamos pra sala de jantar e depois de comer sentamos no sofá da sala de estar.
- Eu já te mostrei as fotos do Felipe?-ela pergunta.
Olho pro Felipe e ele balança a cabeça dizendo pra eu dizer que sim, mas como eu não sou obrigada a nada.
- Não.-sorrio e olho pra ela.
- Você vai amar, já volto.-ela levanta e sai da sala.
Felipe me empurra no sofá me obrigando a deitar e segura meu braço em cima da minha cabeça.
- Que foi?
- Você nunca me obedece.-ele ri.
- A desculpa pai.-sorrio.
- Até que eu gostei de ficar assim.-ele da um sorriso malicioso.
- Eu também, da pra espirrar em você.-falo com vontade de espirrar e ele se afasta.
Rê volta segurando um álbum enorme de fotografias e senta entre eu e Felipe obrigando ele a chegar pro lado.
- Tem foto dele tomando banho e tudo.-ela ri.
Vejo todas as fotos rindo muito enquanto o Felipe fica vermelho de vergonha por serem fotos constrangedoras, como ele disse, mas eu achei elas muito fofas.
- Chega de fotos mãe.-Felipe segura minha mão e eu levanto seguindo ele.
Subimos a escada e entramos em uma porta. Como eu nunca tinha ido no segundo andar da casa dele deixei ele me guiar até ele abrir uma porta e fechar ela.
Fico de costas pra ele e vejo um quarto todo branco com uma varanda enorme. Uma cama de casal no meio e luzes azuis no teto. Enfim, era muito maneiro.
Sinto ele respirar perto do meu pescoço e viro de frente pra ele.
- O que viemos fazer aqui?-ergo a sobrancelha.
- Você escolhe.-ele sorri e me beija.
O beijo estava ficando mais intenso e eu me toquei do que estava fazendo. Eu não posso fazer isso.
Paro o beijo e suspiro fortemente.
- Me conta. Você disse que tá tudo bem mas você está toda nervosa e nem estamos fazendo nada ainda.
- Ainda?-olho pra ele e ele da um sorriso malicioso.
- Deixa pra lá, me conta.-ele senta na cama e manda eu fazer o mesmo.
Eu tenho que contar tudo, não consigo mentir pra ele, melhor eu contar agora.
- Ontem depois que você foi embora o Nathan me mandou mensagem.-olho nos olhos dele e ele me incentiva a continuar.- Eu me encontrei com ele e ele disse que estava indo embora.
- Ele queria fugir?-ele diz surpreso e eu assinto com a cabeça.
- Eu tentei argumentar de todas as maneiras pra impedir.
Olho pra baixo e pisco várias vezes impedindo as lágrimas que queriam voltar. Respiro fundo e continuo sem olhar pra ele.
- Ele disse que não adiantava eu impedir porque ele já estava decidido. Eu fiquei lá olhando ele se afastar sem poder fazer nada.

Minha voz já estava trêmula e meu coração estava totalmente acelerado. Eu tinha que continuar falando.
- Então a única coisa que eu podia fazer naquele momento pra fazer ele ficar, era uma coisa que ele queria muito.
- E o que era?
Respiro fundo e tomo coragem pra falar o que está me incomodando.
- Felipe, seu pai chegou.-olho pro lado e vejo a Rê só com a metade de corpo dentro do quarto.
Olho pra ele e levanto indo até a porta.
- Quanto tempo que eu não vejo ele.-sorrio.
- Vamos lá Bi.-Rê vai andando pelo corredor.
- Vamos lá.-Felipe coloca a mão no meu ombro e voltamos pra sala.
O homem de cabelos grisalhos e olhos cor de mel se encontrava parado no meio da sala. Quando ele me viu abriu um enorme sorriso.
- Bianca.-ele me abraça.
- Eae coroa.-Felipe da um abraço e um tapa nas costas dele.
- O coroa aqui ainda tem um espírito jovem.-ele sorri.
- Só o espírito mesmo.-Felipe ri.
- Esses dois não mudam.-falo pra Rê.
- Não, você se acostuma.-ela coloca a mão no meu ombro.
- Esses dois estão ouvindo tudo.-Otávio cruza os braços.
- Sabemos.-Rê da de ombros.
Sentamos no sofá e ficamos conversando por horas. Depois comemos biscoito e tomamos bastante café. O que me fez ficar muito agitada, em casa eu sou proibida de tomar café por ficar agitada e perturbar todo mundo.
- Volte mais vezes.-Rê me abraça.
- Pode deixar.-sorrio.
- É pra trazer ela Felipe.-Otávio da um tapa no ombro dele e sorri.
- Só não amostre mais fotos por favor.-Felipe reclama.
- Por que? Eu adorei ver suas fotos fofas.-provoco.
Ele olha pra mim e revira os olhos me fazendo rir.
- Tchau.-aceno e entro no carro.

Chegamos na minha casa e subimos pro meu quarto.
- Não terminamos aquela conversa.-Felipe cruza os braços.
Acabei esquecendo quando fui interrompida. Agora não estou mais com coragem de contar.
- Verdade...-molho os lábios e tomo coragem pra contar.
Ele me encara esperando eu começar mas somos interrompidos de novo. Não sei se agradeço ou reclamo.
- Bian...-Nathan para de falar ao ver o Felipe.
Ele olha pra mim, depois pro Felipe e depois pra mim de novo.
- Como você está cara?-Felipe é o primeiro a falar.
- Melhor do que antes.-ele da de ombros.
- Pois não?.
Eles olham pra mim e eu respiro fundo sem que eles notem.
- Nada não, outra hora eu falo com você.-ele vira e sai do quarto fechando a porta.
- Tá todo mundo estranho hoje?-Felipe fala mais pra ele do que pra mim.
- Então... A escola, aconteceu alguma coisa esses dias?-deito na cama.
- Aé... Anne não contou?-Felipe deita de frente pra mim.
- O que?-franzo a testa.
- Duda anda inventado mentiras.
- Quais?
- Ela espalhou na escola que você tentou matar sua vó. Se isso cair nos ouvidos de algum funcionário eles vão querer saber sobre isso.
Essa menina não tem mais o que fazer não? Como ela inventa uma mentira dessas pra escola, que ridícula.
- Como ela inventa uma coisa dessas?-levanto irritada.
- Calma, vamos resolver isso de maneira civilizada se não pode piorar.-Felipe me olha.
Respiro e conto até mil enquanto ando de um lado pro outro.
- Quer saber? O que ela fala não me atinge, tô nem aí.-Balanço a cabeça e coloco o dedo no queixo.
- Sério? Pensei que você fosse encher ela de porrada.-Felipe me olha surpreso.
Olho pra ele e reviro os olhos. Eu não sou tão briguenta assim também não.
- Daqui a pouco eu vou encher você.-sento na cama com as pernas cruzadas.
- Lei João da Penha.-ele ri.
- Não me faça rir, eu tô tentando ficar irritada aqui.-jogo o travesseiro nele.
Ele ri mais ainda e me prende embaixo dele e começa a me fazer cócegas.
- Pa..ra viado.-tento parar de rir.
- Viado?.-ele da um sorrisinho e começa a me dar um monte de beijo.
Não vou dizer que estou achando ruim porque não estou. Nem lembro mais o que eu tinha que falar, era tão importante pra eu ter esquecido assim? Acho que não era nada importante.

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