Um conto de fadas

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Apesar dos mais de 26 anos de idade que nos separavam, nossa convivência sempre foi ótima. Completamente apaixonados, vivemos um para o outro por muitos anos. Nossa vida sexual melhorava a cada dia. Éramos completos. Felizes. Muito felizes.

Gostávamos das mesmas coisas. Éramos parceiros em tudo. Viajávamos quando podíamos. Adorávamos festas. Dançávamos muito. Praticávamos esportes. Íamos ao cinema pelo prazer de dividirmos a pipoca. Tínhamos um pacto invisível que nos selava e nos mantinha seguros. Fazíamos poucos planos para o futuro. Não pensávamos nele. Era como se nós dois tivéssemos todo o tempo do mundo.

Ele me mimava da forma que podia. Raramente me contrariava. Dava-me flores, mandava-me mensagens carinhosas quando eu menos esperava, prestava atenção naquilo que eu gostava para depois me presentear. Não se cansava nunca de me olhar. E eu retribuía toda essa dedicação e carinho com lealdade e amor.

Mas, se não afetava nossa convivência, a larga margem de idade evidenciada pela diferença física se refletia em ciúmes. Tanto, que ele não cogitava a possibilidade de dividir minha atenção. E foi por isso que não tivemos filhos juntos. Porque ele simplesmente não queria me dividir com mais ninguém.

Por outro lado, maduro e sereno, sempre apoiou e aplaudiu minhas conquistas pessoais e profissionais. Jamais me cerceou de lutar pelo que queria. Nunca me cobrou pelas horas ausentes trabalhando ou estudando. Vibrou com cada vitória minha como se fosse dele. E fez questão de resistir até a última, em fevereiro de 2011, à qual, já completamente debilitado, assistiu em sua cadeira de rodas, comovido e levando às lágrimas quem visse aquela cena.

História de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora