A partir de então nossa vida mudou completamente. Ele não soube da gravidade da situação. Não nessa hora. Sua esperança nos impedia de contar toda a verdade. Acertamos. Pois ela foi uma aliada importante para o que viria a seguir.
Foi preciso ainda fazer vários exames, novas avaliações médicas. Passadas algumas semanas, começou o tratamento: medicação intravenosa e via oral. A ideia era cessar toda produção de testosterona. Central e periférica. Esta, talvez, tenha sido a notícia que mais lhe abateu: nossa vida sexual, sempre tão intensa, chegara ao fim.
No início, as quimioterapias não causavam tantos efeitos colaterais. Seu estado de saúde era muito bom, já que não bebia havia bastante tempo e o cigarro largara quando nos conhecemos. Isso lhe ajudou a suportar o tratamento por um bom tempo sem grandes consequências aparentes. Mas elas vieram. Avassaladoras.
O primeiro ano de tratamento foi de esperança sem fim. Ele tinha certeza que venceria o câncer, que sairia curado e muito mais forte, e que em pouco tempo retomaríamos nossa relação e nossos planos. Agora mais fortalecidos.
Jurei a mim mesma que faria o possível para lhe transmitir coragem e força. E era no isolamento do banho que eu deixava minha tristeza extravasar em forma de lágrimas.
Ele trabalhou sem parar. Eventualmente sentia um mal-estar. Nada que lhe atrapalhasse a disposição. Poucos sabiam da doença e ele fazia questão de manter assim. Não queria que sentissem pena dele. Seguia rigorosamente as ordens médicas e os conselhos que recebia. Mas uma coisa ainda lhe afligia: não ter mais relações sexuais comigo.
E esse drama foi crescendo até que ele pediu para ir sozinho ao médico. Entendi a razão na mesma hora. Ele queria saber se havia alternativas para restabelecer a libido. Não, não havia. Só que tinha uma opção: ele podia tomar um remédio para impotência, o que não lhe daria prazer, mas ele poderia ter, enfim, relações.
No entanto, o paliativo não me agradou. Era insuportável saber que aquele homem tão fogoso, tão apaixonado por mim, não conseguia mais sentir prazer comigo. Pedi para ele nunca mais tentar aquilo e foi então que comecei a tomar remédios para baixar a minha libido, o que lhe daria pelo menos um pouco de paz de espírito. Mas isso lhe atormentou até seu último dia de vida.
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História de nós dois
No FicciónA série Anônimos conta histórias reais e impressionantes de personagens comuns. Domingo, 10 de abril de 2011, quase meia-noite... Sozinha, ali, naquele leito de hospital, me dei conta de que o amor da minha vida estava me deixando pra sempre. Já sem...