A culpa

58 0 0
                                    

Ele jamais perdera o medo que eu o deixasse novamente. Eu estava consciente disso. Era muito evidente o quanto sua expressão se suavizava sempre que me via chegar, em casa ou ao hospital. Ele só estava em paz quando eu estava perto. Ciente disso, eu nunca tive intenção de ficar longe mais que o necessário.

Como sua filha mais jovem também trabalhava e a mais velha não morava aqui, era eu quem ficava com ele a maior parte do tempo no hospital, durante seus internamentos. E mesmo assim nunca parei de trabalhar. Passava horas sentada com o notebook sobre as pernas, trabalhando com acesso remoto aos arquivos do jornal. Só interrompia quando ele me pedia algo ou precisava de ajuda para ir ao banheiro. Ainda assim, após cada refeição, sempre que sua condição permitia, fazíamos caminhadas pelo hospital, exercício imprescindível para sua reabilitação. Deitado e saciadas suas necessidades, eu voltava ao meu computador, para fechar a edição do dia seguinte.

No começo as enfermeiras estranhavam aquilo. Mas, a partir do terceiro internamento, elas passaram a conhecer e a respeitar nossa rotina e eram ainda mais atenciosas conosco.

História de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora