Os momentos que se seguiram após a confirmação do óbito são nebulosos. Seja pela dor, seja pelo cansaço. Lembro que, no corredor do hospital, um dos especialistas que nos atenderam me abraçou quando contei que o havíamos perdido. Lembro de em seguida pegar o telefone para ligar para ele, para lhe contar que seu médico, sempre tão austero, havia tentado me consolar. Chorei e ri de tristeza.
O corpo foi velado assim como ele pediu: de bermudas e com a camisa do seu time do coração, o Corinthians. Tinha ainda outro desejo: que deixasse sua aliança em sua mão, na qual mandara gravar meu nome com a expressão "Paixão eterna", e fotos minha e das suas filhas. Assim foi feito. Após tantos anos separadas, nós três nos despedimos dele abraçadas. Eu e as duas meninas. O sepultamento aconteceu no fim da tarde, no silêncio de nossa dor, no cemitério que ele havia pedido para ficar.
Naquela noite, torpe de cansada após tantos dias em claro e esgotada emocionalmente, tomei um remédio que me ajudaria a dormir. E tive um sonho. Sonhei que ele estava comigo e, mais uma vez, fazíamos amor. Como ele tanto quis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
História de nós dois
Não FicçãoA série Anônimos conta histórias reais e impressionantes de personagens comuns. Domingo, 10 de abril de 2011, quase meia-noite... Sozinha, ali, naquele leito de hospital, me dei conta de que o amor da minha vida estava me deixando pra sempre. Já sem...