O último sonho

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Os momentos que se seguiram após a confirmação do óbito são nebulosos. Seja pela dor, seja pelo cansaço. Lembro que, no corredor do hospital, um dos especialistas que nos atenderam me abraçou quando contei que o havíamos perdido. Lembro de em seguida pegar o telefone para ligar para ele, para lhe contar que seu médico, sempre tão austero, havia tentado me consolar. Chorei e ri de tristeza.

O corpo foi velado assim como ele pediu: de bermudas e com a camisa do seu time do coração, o Corinthians. Tinha ainda outro desejo: que deixasse sua aliança em sua mão, na qual mandara gravar meu nome com a expressão "Paixão eterna", e fotos minha e das suas filhas. Assim foi feito. Após tantos anos separadas, nós três nos despedimos dele abraçadas. Eu e as duas meninas. O sepultamento aconteceu no fim da tarde, no silêncio de nossa dor, no cemitério que ele havia pedido para ficar.

Naquela noite, torpe de cansada após tantos dias em claro e esgotada emocionalmente, tomei um remédio que me ajudaria a dormir. E tive um sonho. Sonhei que ele estava comigo e, mais uma vez, fazíamos amor. Como ele tanto quis.

História de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora