A crise de dor começou cedo naquela segunda-feira, 4 de abril de 2011. Ele faria a quimioterapia no dia seguinte, mas, frágil como estava, o ideal seria transferir a sessão. Levei-o ao centro oncológico, onde lhe aplicaram a medicação intravenosa. Apesar da intervenção, demorou horas até que a dor cedesse. Ele gritava. Nada punha fim àquela agonia. No fim do dia, já melhor, pôde dormir em casa.
A situação ficou ainda mais crítica na terça-feira e antes mesmo de tirá-lo de casa fui providenciar os papéis para seu internamento. Ele deu entrada no hospital ainda de manhã. E antes de a tarde acabar minha irmã me ligou, alarmada: "Vão levá-lo para a UTI". Larguei o trabalho e corri para junto dele. Transtornado pela dor, nem mesmo me reconhecia. O médico disse que não havia muito a ser feito, a não ser tentar sedá-lo. O que devia ser monitorado na UTI.
O desespero então nos abateu. E, pela primeira vez desde que tudo começou, chorei na frente da minha irmã. Nós duas nos abraçamos naquele leito vazio. Ela me disse que não aguentava mais vê-lo sofrer. Confidenciou que não sabia se podia continuar a cuidá-lo. Em sua dor, ela não tinha como imaginar que essa seria a última vez que o veria.
Ele passou três dias na unidade de terapia intensiva e então pôde voltar para o quarto, fraco, porém feliz em ficar conosco. As filhas e a mãe delas - ex-esposa dele - passaram o domingo com ele. Fiquei em casa. Aproveitei para caminhar, relaxar e tentar recuperar as energias perdidas durante a semana difícil. À tarde, ele teve uma crise de dor abdominal. A mesma que o afligira no dia anterior. Eram seus órgãos em falência.
Cheguei no fim da tarde para ficar com ele. Todos foram embora. Ao me sentar em seu leito, coloquei a mão sobre seu peito, costume que adquiri nos últimos anos para monitorá-lo sempre que dormia. Senti seu coração disparado. Chamei a enfermeira, que acionou o médico. A situação preocupava. Deram-lhe um medicamento, mas o coração não desacelerou. Passava dos 200 batimentos por minuto. Perto da meia-noite daquele domingo, o médico pediu para que o levassem à unidade coronariana. Começava ali nossa batalha final.
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História de nós dois
Non-ficțiuneA série Anônimos conta histórias reais e impressionantes de personagens comuns. Domingo, 10 de abril de 2011, quase meia-noite... Sozinha, ali, naquele leito de hospital, me dei conta de que o amor da minha vida estava me deixando pra sempre. Já sem...