Março de 2007

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Depois da série de cirurgias de hérnia no início do ano, sua filha mais velha lhe deu um plano de saúde. Com o susto do Réveillon, ele resolveu fazer uma bateria de exames. Um dos problemas mais urgentes na ocasião eram as hemorroidas, que lhe incomodaram boa parte da vida.

Disposto a operá-las, procurou antes um urologista para fazer exame da próstata. O toque retal nada acusou. Mas o exame de sangue, o PSA, estava alterado. O médico disse que podia ser devido a todas as cirurgias recentes, deu-lhe um medicamento e pediu para refazer o exame. O resultado foi ainda mais preocupante. Agora o jeito era investigar.

A biopsia trouxe o diagnóstico cruel: o câncer já havia tomado 70% da sua próstata e não havia mais possibilidade de cirurgia.

Eu estava ao seu lado quando o médico deu a notícia. Olhamos um para o outro. Nenhum dos dois acreditou. Nenhum dos dois reagiu.

Ele juntou os fiapos de esperança que encontrou e partiu para a luta. O segundo diagnóstico foi ainda mais difícil. Já havia metástase nos ossos. Dessa vez eu estava no trabalho quando o recebi. E foi a filha mais velha quem me ligou para contar: "A doença é severa. Ele tem semanas, talvez meses de vida". Ela acertou na gravidade. Mas errou no prazo.

Desesperada, sem saber o que fazer, pedi socorro para meu irmão, e em seus braços chorei todas as lágrimas que estavam presas desde muito tempo. Chorei pela paixão que se foi. Chorei pela separação. Chorei pela doença. Chorei pelo que viria pela frente. Chorei por nós. E chorei por ele.

História de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora