Em fevereiro, muito frágil, ele foi à minha colação de grau. Em sua cadeira de rodas, assistia atento, com as lágrimas caindo pelo seu rosto. Aplaudiu muito. As pessoas à sua volta acompanhavam a cena muito emocionadas. Orgulhoso, posou para as fotos. O sorriso lhe ocupava o rosto todo. Uma missão estava vencida.
Em março, no meu aniversário, me fez uma surpresa. Um grupo de amigos dele havia feito uma coleta de dinheiro para ajudá-lo. Orgulhosa, minha primeira reação foi de revolta com aquilo. Humilde, ele ficou absolutamente grato com o gesto. Com parte desse dinheiro, comprou um presente para mim. Algo que já não conseguia fazer havia muito tempo, pois fora obrigado a parar de trabalhar e meu salário e sua aposentadoria mal davam para cobrir nossas despesas. Sua voz rouca estava ainda mais trêmula quando me disse o quanto estava feliz.
E dois dias depois ainda pôde me abraçar, e chorou ao confidenciar que aquela decisão tomada 14 anos antes, quando abandonou tudo para viver comigo, havia sido a mais acertada que tomara durante toda a sua vida.
Com o corpo totalmente tolhido pelo câncer, mantinha sua alma absolutamente viva, livre da doença. Assim como me prometera que faria, lá atrás, ainda no início do tratamento.
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História de nós dois
Não FicçãoA série Anônimos conta histórias reais e impressionantes de personagens comuns. Domingo, 10 de abril de 2011, quase meia-noite... Sozinha, ali, naquele leito de hospital, me dei conta de que o amor da minha vida estava me deixando pra sempre. Já sem...