História de nós dois

A tentativa de pôr fim à vida

Mas o casamento não foi suficiente para lhe trazer paz e seu estado de espírito piorou. Em setembro de 2009, a paciência e o bom humor cederam à ansiedade. Com o avanço aparente da sua debilidade física, sugeri que fosse visitar as filhas, no Sul, e a mãe e os irmãos, no Sudeste do País. A ausência temporária também me daria um fôlego, porque o trabalho, os estudos e os constantes internamentos dele estavam me consumindo. E ele foi.

Mas a distância só agravou sua condição. Ele não suportava ficar longe de mim e sua ansiedade ganhava proporções cada vez maiores. Em vez de aproveitar a viagem, relaxar como pretendia, voltou esgotado emocionalmente. Em uma depressão profunda.

Em uma manhã logo depois do seu retorno, saí para trabalhar. Ele não queria deixar a cama. Isso costumava acontecer sempre de dois até três dias após as sessões de quimioterapia. Até que voltava a ficar mais forte e reagia. Mas naquela manhã, algo me incomodava. E decidi voltar pra casa pouco depois de ter saído. Ele ainda estava deitado. Peguei um livro e fiquei no sofá da sala. Alguns minutos depois ouvi um barulho e fui até o quarto. Sentado na cama, de cabeça baixa e olhos fechados, ele murmurou: "Ainda bem que você voltou. Porque hoje eu iria me matar. Já tinha até planejado como". Pedi por que, mas ele se limitava a repetir que era o que queria fazer.

Aquilo me atingiu profundamente e caí em um pranto desesperado, suplicando que alguém viesse em meu socorro. Não sabia o que fazer. Não sabia mais para onde me virar. Eu me senti completamente sozinha. Esgotada. Vencida.

Passaram-se vários minutos até eu conseguir recuperar minha sanidade. Mais calma, liguei para a psicóloga e pedi para que o recebesse o quanto antes. Durante a consulta, ele contou que tomou um comprimido antidepressivo sem que eu soubesse, o que lhe causou aquela reação inesperada. A partir disso ele me prometeu que jamais ingeriria qualquer substância sem eu saber. E assim o fez até o último suspiro que deu.