A sedução

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Ciente da minha inexperiência, pois éramos amigos já havia três anos, ele foi me seduzindo aos poucos. Queria despertar em mim o mesmo desejo que sentia. Sabia muito bem o que fazia. Sabia exatamente qual caminho seguir. Como me conquistar. E teve muita paciência para conseguir o que queria.

Depois do primeiro beijo, só voltamos a ficar sozinhos cerca de quinze dias mais tarde. Nesse período, me minava com bilhetes apaixonados. Vários durante o dia.

Nossos primeiros encontros foram inocentes. Ele sempre dava um jeito de me levar para casa após alguma confraternização ou reunião de amigos. Apenas segurava minhas mãos e me beijava. Nada mais. Precisava conquistar minha confiança. Temia me assustar. Explorava ao máximo minha ingenuidade.

Aos poucos nosso contato foi ficando mais ousado. Ainda assim, lentamente. Foram dezenas de passeios de carro até finalmente ficarmos juntos em um quarto. A essa altura, eu já estava completamente perdida naquele jogo de sedução. Queria mais. Mas ele resistiu mais um pouco. Esperou ainda mais um dia. E, em um bilhete, deu sua cartada final: "Quero você inteira".

A partir de então, passamos a nos encontrar quase todos os dias. Os bilhetes nunca cessaram. Alguns ousados. Outros românticos. Eu não pensava nas consequências daquilo. Não perguntava sobre seu casamento. Não queria saber de nada. Ele também nunca me cobrou nada. Éramos apenas nós dois. Alheios ao restante do mundo.

No ano seguinte, eu saí da empresa em que trabalhávamos. Foi a forma que encontrei para tentar pôr fim àquela relação. Queria seguir a minha vida. Ingressei na faculdade. Ele tentou reconstruir o casamento. Minhas tentativas de me envolver com outra pessoa foram todas frustradas. Ninguém conseguia despertar em mim o que ele provocava. E, assim, fomos traídos pelos nossos sentimentos. E nossa separação foi bem mais curta do que eu esperava.

A segunda fase da relação foi ainda mais intensa. Viajávamos sempre que conseguíamos. Férias, fim de semana, feriados. Aproveitávamos todas as oportunidades para ficarmos juntos.

Só que, agora mais madura, aquela situação passara a me incomodar cada vez mais. Já não conseguia mais ignorar os demais envolvidos naquela história. Aquilo me torturava. E tentei mais uma vez desafiar o destino e traçar outro rumo para a minha vida.

Em meados de 1996, já com 21 anos, conheci aquele que seria meu primeiro namorado oficial perante minha família. Nosso namoro durou exatos 45 dias. Foi o tempo que demorei para entender que não havia espaço para outra pessoa em meu coração. E decidi, finalmente, parar de lutar contra o destino.

História de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora