O Início de Tudo

79 10 4
                                    

* Data: 21/12/2019; Localização: Cidade de São Paulo:
Eu estava ali, sentado no meio do corredor do QG, olhando para um quadro que ficava no fim do corredor, com a foto da nossa primeira missão oficial como os Guerreiros da Justiça, ainda em Guaratinguetá.
Fiquei olhando para a foto, olhando os nossos uniformes ainda improvisados, pensando em como eram toscos e como eu adorava eles, me lembro de como a gente conseguia se divertir nas rondas, ou quando a gente enfrentava os criminosos, ou quando a gente saía junto nas horas de folga.
Olho para a minha máscara, para o reflexo nas lentes dela, eu estava um lixo, tanto por dentro quanto por fora. Eu estava coberto por sangue, suor e sujeira, cheio de machucados e hematomas. Fecho meus olhos e lembro do que aconteceu, seguro o meu choro e tento esquecer tudo, mas não consigo parar de pensar no jeito horrível que ele morreu na nossa frente, na sensação de impotência, e como tudo iria piorar a partir de agora.

* Data: 04/02/2017; Localização: Cidade de Guaratinguetá-SP:
Me chamo Davi Ramos Vieira, tenho 15 anos, e moro com minha mãe. Sou meio baixinho, não sou magro nem gordo. Tenho cabelos pretos, olhos castanhos e sou tímido, mas principalmente, sou muito nerd, muito mesmo, daqueles que sabem os juramentos de todas as tropas de lanternas da DC Comics em inglês.
Era uma Segunda-Feira, o meu primeiro dia de aula no ensino médio em uma escola nova. O meu despertador em forma de cabine telefônica azul toca e eu me levanto da cama, minha mãe bate na porta do meu quarto e me chama para tomar café.
Minha mãe, Mayara Vieira tem uns cinquenta anos, apesar de não aparentar. Ela foi enfermeira mas no final do ano passado o hospital em que ela trabalhava fechou, desde então ela e uma amiga trabalham em uma floricultura no centro da cidade. Sempre fomos só nós dois, apesar da minha insistência em fazer com que ela namore. Quanto ao meu pai, eu não gosto nem de pensar.
Nós moramos em uma casa antiga e simples, com sala, cozinha, banheiro, dois quartos, um quintal, além de uma varanda pequena. Ela fica perto do centro do cidade, do Shopping e da minha escola.
Eu coloco minha roupa, arrumo minha mochila e vou para a cozinha, onde minha mãe já esperava com o meu copo de Capuccino.
— Filho não esqueça de colocar uma blusa, você sabe que o tempo está horrível lá fora;— Ela disse.
— Ah, precisa não mãe, eu gosto do frio;— Eu respondo enquanto ela faz o olhar de devoradora de almas que Sempre me dá medo, volto desanimado para o quarto e pego minha boa e velha blusa preta de capuz.
— Feliz agora?;— Eu pergunto ironicamente.
— Sim;— Ela responde com um sorriso falso.
Depois, na porta de casa, minha mãe diz:
— Tchau filho, fica com Deus.
— A senhora também, até mais tarde;— Eu digo sorrindo.
Na escola nova, Comendador Rodrigo Álvares, era bem legal, um casarão antigo que virou uma escola à sei lá quanto tempo atrás. Tem três andares, cheio de salas além de algumas salas especiais como laboratórios; uma sala de informática; de video; de recreação e um teatro.
Lá eu ponho meu foninho de ouvido e procuro uma música legal, deixei no Radioactive do Imagine Dragons.
Tento ser simpático e cumprimento o pessoal que fica me olhando e alguns raros amigos da minha escola antiga. Fico olhando para uma garota que estava na porta de uma sala do lado da minha, ela era muito linda, tinha os cabelos pretos e compridos e os olhos castanhos. Ela repara que eu fiquei olhando e me cumprimenta com um sorriso, eu fico desconfortável e entro logo na sala."relaxa Davi, ela foi simpática, afinal o que uma garota bonita ia querer comigo" eu disse para mim mesmo.
Me sento no canto direito da sala, perto de quatro pessoas conversando ao redor de um celular, pareciam estar assistindo um vídeo. Me aproximo deles tentando me enturmar, algo que eu Tentei fazer durante dez anos na minha outra escola, e falhei miseravelmente.
— Esses vídeos são falsos gente;— Disse um cara de cabelo curto, boné virado para trás e com sotaque carioca.
— Eu sei que não são, né Victor?;— Disse uma garota alta, magrela e loira que era bem bonita, que segurava o celular com os vídeos que eles falavam.
— Olha gente, eu concordo com a Inês, esses vídeos são realmente muito realistas;— Disse um cara com cabelo castanho e meio esquisito com uma camiseta com um desenho que parecia ser de algum santo ou anjo que eu não reconhecia.
— É claro, cê acredita em tudo que te falam ;— Disse o carioca.
— Ah é. O que cê acha garoto?;— Perguntou o cara de cabelo estranho para mim.
— E-eu?, achar o que?
— Dos vídeos da internet dos super-humanos, você ainda não viu?;— Disse a garota loira.
— Não, eu não tenho redes sociais.
— Sério?;— Ela fala espantada ;— Então pera aí, deixa eu te mostrar os vídeos;— Ela diz enquanto me entrega o celular.
Eram três vídeos, todos de países diferentes. O primeiro, gravado com uma câmera de segurança, mostrava um homem nos E.U.A. que caminhava na rua quando um caminhão desgovernado vai com tudo para cima do homem, que, em vez de ser atropelado, destrói toda a parte da frente do caminhão e sai correndo. O segundo, também gravado com uma câmera de segurança, mostrava um escritório cheio de pessoas durante um terremoto na China, tudo sacudia até que uma parede começou a cair em cima deles, uma mulher que estava ali levanta o braço direito e, sem tocar na parede, impede que ela caia. E o terceiro vídeo, o único gravado com uma câmera de celular, mostrava uma criança de quatro anos no máximo, que tinha caído em um rio na Índia até que uma moça chega e mostra o garoto para um senhor que aparentava ter uns sessenta anos, que imediatamente estica os braços como se eles fossem feitos de borracha e tira o garoto do rio.
Eu olho para o celular, para a garota, volto a olhar para o celular, e digo:
— Olha, esses vídeos são bem realistas, não sei dizer se são ou não são reais.
— Ah vão se ferrá, seus loco;— Disse o cara de boné e saí para fora da sala revoltado.
— Por favor desculpe o Fábio. A gente estudou o ano passado juntos e sabemos como ele é um chato. O meu nome é Pauline, e estes são Inês Nunes e Victor Troiano;— Diz a outra integrante do grupo, que até então tinha ficado quieta. Ela tinha cabelos negros com mechas roxas, olhos castanhos e um estilo meio emo.
— Prazer. Meu nome é Davi Ramos.
— Prazer;— Disseram os três.
— Você curte essas coisa de nerdice né?;— Pergunta Pauline.
— Como sabe?
— A camiseta dos X-men dá a entender;— Ela responde rindo.
— Bom, eu não devo ser o único aqui;— Eu digo apontando com a cabeça para a camiseta do Darth Vader de Pauline. O trio me convida para sentar com eles. Conversamos, ou pelo menos eles tentavam puxar conversa e eu respondia da forma mais curta possível. Horas depois a sexta aula acaba e os portões da escola são abertos e todos vamos embora.
Estava próximo de casa quando começou um temporal. Tiro o meu guarda-chuva da mochila, o abro mas por conta do vento forte o guarda-chuva vira do avesso e quase sai voando sozinho. Depois de algumas tentativas falhas eu desisto de o desvirar e saio correndo enquanto protejo minha mochila da chuva.
Chego em casa totalmente ensopado, coloco minha mochila quase seca no sofá. Minha mãe, que já tinha chegado do trabalho olha para mim e diz:
— Mas que droga é essa Davi! Por que não pegou a porcaria do guarda-chuva na sua mochila?
Eu faço uma careta e mostro o guarda-chuva virado, a cara dela se fechou mais ainda.
Eu tomei um banho quente, almoçei e tomei os remédios que minha mãe me obrigou a tomar antes de ela voltar para a floricultura. Mais ou menos uma hora depois de minha mãe sair, eu comecei a me sentir enjoado, com tudo girando a minha volta, eu suava frio, parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento, eu deito na cama até que eu não resisto e acabo apagando.
Acordei já era mais de 19:30. estava encharcado de suor e minha mãe voltaria logo. Ainda meio tonto, vou para o banheiro e tomo banho de novo, pouco depois minha mãe chega.
— Oi filho, tudo bem?
— Tudo, e a senhora?
— Bem também. Não acredito que ainda está chovendo tão forte assim.
— Pois é né.
— Ah, antes que eu me esqueça, comprei um guarda-chuva novo para você. Espero que aguente mais do que o outro;— Ela diz enquanto colocava a bolsa no sofá e retira um guarda-chuva pequeno e preto.
— Valeu mãe.
— De nada filho.
fingi que nada aconteceu, pois eu sabia que se contasse ela ia ter um surto e me levaria para o hospital para fazer todos os exames possíveis.
Me sento no sofá e ligo a TV, tinha começado Doctor Who, uma das minhas séries sci-fi preferidas. Depois que o episódio acabou, mudei de canal, como não tinha nada resolvi deixar no jornal, que mostrava que chovia forte praticamente por toda a região e que várias pessoas foram internadas com sintomas parecidos com os meus.
O dia seguinte tinha começado tranquilamente, eu acordei e fui para escola, lá eu comecei a sentir um estranho formigamento nas mãos, que às vezes passava, às vezes piorava. Notei que vários alunos faltaram, inclusive Inês e Pauline.
— E aí Víctor, você sabe o que aconteceu com as duas? Aliás, o que aconteceu com todo mundo?;— Eu pergunto para ele, que estava olhando para o nada.
— Eu não sei direito, parece que elas tão com Dengue. Até onde eu sei as duas estavam bem ontem, tinham ido na casa de uma amiga delas ou algo assim.
— Estranho. Ah mas pode ser só uma coincidência;— Eu digo tentando desfazer o climão que ficou.
Apesar da minha desconfiança, na época eu acreditei que era uma outra epidemia de Dengue ou de Zika. levaria um bom tempo para eu entender o que realmente tinha acontecido.

Guerreiros Vol.01Onde histórias criam vida. Descubra agora