Repercussões

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* Data: 02/03/2017; Localização: Rio de Janeiro-RJ.
Eram uma da manhã de Domingo, todos nós já estavamos recuperados da batalha contra Lúcio e seu pequeno exército, Stelfie e alguns outros amigos tinha voltado para Guará logo que tudo acabou, já que recebemos a notícia de que Victor tinha sofrido um acidente feio, Sonar se dispôs a pagar o hospital, depois de atormentarmos ele um pouco. Eu, depois de dormir praticamente todo o dia anterior, resolvi patrulhar um pouco as ruas do Rio de Janeiro, escondido de todo mundo e sendo o mais discreto possível.
As coisas depois da batalha foram até que muito bem, alguns membros da Comunidade do Amanhã ajudaram as autoridades a limpar a bagunça, e a população se mostrou até que bem receptiva a eles, nós ainda teríamos que passar por muita coisa para as pessoas sem poderes no aceitarem totalmente, mas como dizem: “Devagar e sempre, se vai longe”. O governo ficou tão feliz e bonzinho de repente que cancelou a votação da Lei anti-mutante e de quebra convidou todos os mocinhos que participaram da batalha, através de um longo e chato comunicado na TV, para uma cerimônia que aconteceria no Rio na Sexta-feira seguinte, algo que não me agradava nem um pouco, na verdade me esforçava o máximo para ignorar.
Minha família ficou bem, apesar do ocorrido, tirando a Tia Drica, seu marido e o filho caçula, que tiveram que fazer um acordo com os militares para eles os “protegerem”, ou seja, ficarem os vigiando até que algo interessante para eles acontecesse, ou pelo menos até a poeira baixar. Chip e sua família também tiveram que fazer um acordo parecido, com as Nações Unidas. Logo após a batalha, Nattaly sumiu sem deixar rastros.
Além disso, eu finalmente consegui enfiar a ideia de formar uma equipe na cabeça dos meus amigos, apesar de nós termos muito o que discutir sobre isso eu estava animado com isso, e ainda por cima descobri que meu primo Mick também é mutante, o que era muito louco, já que ele era o quarto mutante a aparecer na família, em menos de um mês. Sonar tá investigando isso, para ver se assim o fato de mutantes pipocarem no mundo todo tenha algum sentido. Mas o que me preocupava no momento era o desaparecimento do Lúcio/Sanguessuga, não encontraram vestígios dele nos escombros, isso era bom já que ele provavelmente ainda estava vivo, mas ruim já que ele estava solto, e com certeza nem um pouco feliz pela derrota.
Vejo uma van com uns cinco caras batendo a traseira com tudo na porta de uma loja de eletrodomésticos, eles conseguem arrombar a porta e começam a pegar algumas televisões e outros eletrodomésticos, os guardando no porta-malas e no banco de trás. Começo a me aproximar do carro mas espero eles começarem a ir embora para agir.
— Algo me diz que vocês não são do serviço de entregas;— Eu digo ficando na frente do carro, flutuando alguns centímetros do chão.
Eles saem do carro e atiram em meu escudo, então consigo acertar rajadas em quatro deles mas um escapa. Vôo em direção a ele e dou um soco, então sinto um cano de revólver encostar na minha cabeça. Eu não tinha percebido que tinham seis pessoas no carro.
Antes de atirar, a arma é empurrada e algo sai de cima do meu capuz e nocauteia o sexto bandido, olho para trás e percebo quem era.
— O que cê tá fazendo aqui?;— Eu pergunto atingindo uma rajada em um bandido que tenta fugir pelas minhas costas, então olho para minha prima Estefânia, outra mutante da família.
— Eu tava meio que sem sono então vi cê fugindo pela janela, aliás nem um pouco discreto. Daí resolvi pegar uma carona com você antes de fugir de vez, pelo visto fiz muito bem;— Ela diz ajeitando seu uniforme. Ela e Mick tinham ganhado uniformes do Conselho depois que tudo se acalmou, o que me deixou impressionado com a velocidade que o pessoal deles trabalhava. O uniforme dela era uma jaqueta de couro preta com detalhes na cor rosa nos ombros, cotovelos e na região das costelas, além de luvas e calça da mesma cor que a jaqueta e com detalhes também em rosa, botas pretas com as bordas das solas na cor rosa, e uma máscara que cobria a região inferior do rosto e os ouvidos, que também era preta com um visor rosa preso a máscara.
— Sim, obrigado;— Eu respondo meio contrariado;— Mas como você ficou no meu capuz esse tempo todo sem eu perceber?
— Eu meio que acabei cochilando, e você também nunca foi muito reparador nas coisas;— Ela responde rindo.
— Que fofa.
— Eu sei.
— Vem cá, que tal me ajudar a limpar a bagunça, miss Comédia?;— Eu pergunto mostrando a ela os bandidos caídos no chão. Depois amarramos os bandidos dentro do carro usando os cintos de segurança, e deixamos um bilhetinho para a policia explicando o que eles tentaram fazer e um “Não há de quê” no final, ideia dela.
Depois ela diminui de tamanho e se senta dentro do meu capuz enquanto eu vôo para longe com meus discos planadores nos pés.
— Então, vocês ficam muito tempo sem fazer nada nessas patrulhas, achei que tivesse mais ação;— Ela diz se aproximando do meu ouvido. Eu puxo um pouco o capuz para protegê-la do vento forte.
— Não, nem sempre. Na maior parte do tempo não acontece muita coisa, o que é até bom.
— Mas o que ficam fazendo enquanto não acontece nada?
— Depende, às vezes escuto um pouco de música, fico pensando ou só observo a cidade mesmo;— Eu digo olhando para a cidade iluminada abaixo.
— É, aqui de cima é bem bonito, mas dá medo pra caramba;— Ela diz se afastando um pouco da beirada do capuz.
— Cê se acostuma;— Eu digo rindo e dou uma acelerada, fazendo ela me xingar morrendo de medo. Depois eu subo o mais alto que pude na velocidade máxima, crio uma aura protetora ao redor dela, então eu desfaço os discos nos meus pés e me deixo cair.
— Davi seu louco! Para com isso;— Ela grita enquanto eu me divirto. Quando estavamos à uns cem metros do mar eu recrio os discos, a tempo de pôr a mão na água gelada.
— Eae, gostou?;— Eu pergunto me divertindo muito.
— Nunca mais faça isso, pelo amor de Deus, seu maluco;— Ela responde com a respiração ofegante.
O tempo passa, e como as coisas pareciam estar bem tranquilas naquela noite, nós resolvemos conversar um pouco sentados em um disco gigante que fiz, eu divido com ela uma barra de cereais que tinha guardado. Ela evitou incrivelmente bem todas as perguntas que envolvessem o irmão do Coronel, Edu, então acabamos falando mais sobre minhas experiências como super-herói, o que não era lá grande coisa.
— Tá de brincadeira, um Megazord? Sério?;— Ela diz espantada.
— Por que todo mundo se espanta? O que é mais óbvio do que matar um monstro gigante com um robô gigante?;— Eu digo cansado de todos se espantaram com isso.
— Ah, nada não. Mas, o monstro soltava faísca?;— Ela pergunta tirando sarro da minha cara.
— Se continuar assim eu chamo o Edu;— Eu respondo sentindo o olhar dela me fuzilando.
— Cê vai na cerimônia semana que vem?;— Ela pergunta mudando de assunto.
— Não.
— Por quê?
— Eu não tô nem um pouco a fim de ir.
— Mas o foco maior do convite foi pra você, todo mundo sabe disso. Você que derrotou o Lúcio;— Ela diz.
— Eu realmente não tô a fim de ir, e nem quero discutir isso agora. E eu só o derrotei por que era o certo, não quero uma festa para comemorar isso;— Eu respondo bufando.
— Não é só sobre isso né?
— Vamos dizer que o meu sentido-aranha tem uma crise de pânico toda vez que penso na tal cerimônia;— Eu respondo coçando o queixo. Era verdade, toda vez que pensava naquilo, algo me dizia que tinha alguma coisa muito errada, só não sabia o quê.
— Então tá, só cuidado pro seu “sentido-aranha” não te deixar paranóico demais;— Ela responde soltando um bocejo.
— Tarde demais;— Eu cochicho para mim mesmo.
— Quê?
— Tá tarde demais, acho melhor voltarmos;— Eu respondo ajeitando minha máscara enquanto ela concorda e também ajeita a dela.
Pouco depois eu já pousava na casa dos meus tios. Entro pela janela do quarto e sou surpreendido por Josias, Tabita e Mick usando seu uniforme.
— Que legal vocês, patrulhando a cidade e nem me chamam. Eu já tava indo atrás de vocês;— Mick diz com a cara fechada e os braços cruzados. O uniforme dele era uma jaqueta cinza com detalhes pretos na região das costelas até na região das axilas, luvas das mesmas cores, a calça era meio larga e era toda cinza, as botas eram pretas com sola cinza e um capacete cinza que lembrava um pouco o capacete do Capitão América nos filmes, só que diferente da dele, o de Mick cobria o nariz e tinha lentes brancas.
— A minha ideia era fazer isso sozinho;— Eu digo olhando para minha prima enquanto ela pula no chão e aumenta seu tamanho;— Achei que cês tavam dormindo quando sai.
— Você não é discreto;— Todos dizem em coro.
— Nem um pouquinho;— Completa Tabita.
— Isso não é hora de cês dois tarem acordados;— Eu digo irritado.
— Nós passamos por um momento de profundo estresse recentemente, é normal não conseguirmos dormir.
— Jo, para de graça, cê usou essa mesma desculpa nos últimos dias pra comer mais sobremesa, pra mãe fazer suas comidas preferidas e pra jogar Five Nights at Freddy no meu celular enquanto assistia Flash o dia todo;— Mick diz encarando ele.
— É um momento difícil pra mim, preciso de um pouco de conforto;— Ele responde com cara de deboche.
— Sei, sei, mas é melhor vocês dormirem logo pra acordarem cedo amanhã, quer dizer, hoje;— Eu digo olhando o relógio do meu celular;— Já é tão tarde que é cedo.
— Cê já vai embora mesmo?;— Tabita pergunta fazendo cara de triste.
— Eu vou ter que ir, mas venho visitar vocês sempre que possível;— Eu respondo tirando a máscara e sorrindo;— Tenho uma amiga teleportadora que ama dar carona.
— Sério? Então na próxima vez trás aquele seu jogo de dados? Aquele com os dadinhos esquisitos de desenhos;— Ela diz se animando.
— Dungeons e Dragons, claro, então a gente vai passar um bom tempo jogando;— Eu respondo e ela comemora.
Depois disso eu vou no banheiro e troco de roupa, quando saio é a vez de Estefânia e depois de Mick, reclamando de não ter conseguido “estrear” seu uniforme direito.
— Davi?;— Mick cochicha olhando para baixo de sua beliche, para meu colchão no chão. Josias e Tabita já estavam babando e roncando, Estefânia parecia estar também.
— O que foi?;— Eu pergunto querendo dormir logo.
— Cê acha que o Lúcio tá bem?;— Ele pergunta;— Quer dizer, bem na medida do possível.
— Eu tô me perguntando isso o dia todo, e sinceramente, não faço ideia da resposta;— Eu digo chateado;— Mas acho que logo a gente vai descobrir, de um jeito tranquilo, espero.
— Davi, é do Lúcio que cê tá falando, tranquilo é que não vai ser;— Estefânia cochicha com os olhos fechados.
— Não custa sonhar. Cê ainda tá acordada?;— Eu pergunto surpreso.
— Sim Sherlock, cês dois não são discretos, se falarem mais alto, acordam a rua toda;— Estefânia responde sorrindo;— Vamos dormir por favor.
Depois disso ela apaga, eu e Mick seguramos o riso e a vontade de encher o saco dela, então fomos dormir também.
— Muito obrigado por me receberem Tio Jonas e Tia Allice, e me desculpem pelos problemas que meti vocês;— Eu digo para eles na porta da casa. Já era de manhã, e eu já estava indo encontrar meus amigos na mansão-apartamento do Sonar.
— Que nada cara. Você é sempre bem-vindo aqui;— Meu tio Jonas responde e minha tia concorda com a cabeça sorrindo.
— Falou Davi;— Mick diz enquanto nos cumprimentamos;— Mal posso esperar pra nós três patrulharmos juntos.
— Eu também;— Estefânia completa e também me cumprimenta.
— Logo, logo;— Eu digo e olho para os meus tios;— Assim que seus pais e o Conselho deixarem.
Eu dou uma piscadinha para eles.
— A gente viu isso;— Meu tio diz.
— Você não é muito...;— Minha tia começa a dizer.
— “Discreto” já sei;— Eu digo coçando o queixo e arrumando a alça da minha mochila. Depois me despeço dos meus primos caçulas e começo a ir, viro e aceno mais uma vez para todos, que retribuem, então vou andando até chegar em uma rua vazia e saio voando até o ponto de encontro com minha equipe.

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