Espectro ou Kid Construtor?

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Na Quarta-feira de manhã, fui a escola e encontrei meus novos amigos conversando alguma coisa com duas garotas que eu não conhecia.
— Oi Davi, tudo bem?; — Disse Inês parecendo avisar os outros da minha chegada.
— Tudo. Aliás eu é que pergunto se vocês estão bem, o Victor disse que tava preocupado com vocês; — Eu falo.
— Ah, é que, a gente tava com suspeita de …;— Tentou dizer Pauline enquanto olhava para Victor, que se encolheu como se tivesse feito algo errado.
— De Dengue, né gente?; — Disse Victor interrompendo.
— Ah é, é mesmo, aliás deixa eu te apresentar: Essas são Daiane e Catarina, são do 1M3;— Fala Pauline.
— Prazer;— Eu disse fingindo acreditar na história.
— Oi, beleza?; — Disseram as duas.
— Beleeeza. O que cês tavam falando?;— Eu digo olhando para todo o grupo que parecia esconder um segredo.
— Nada demais. A gente tava falando … daquela bola de lama que quase destruiu o Shopping. Acredita que tá todo mundo fingindo que isso não aconteceu?, apesar das câmeras mostrarem claramente; — Falou Catarina. Uma garota com o cabelo pintado de vermelho, que usava uma blusa preta com estrelas brancas e um colar com um cavalo do xadrez com um chifre de unicórnio.
— Pois é, realmente bem estranho. Mas e o que acharam daquele garoto que derrotou ele?; — Eu pergunto interessado na opinião deles sobre mim.
— O tal do Kid Construtor?; — Pergunta Pauline.
— Kid Construtor? Que porcaria de nome é esse?; — Eu pergunto achando o nome estranho.
— É, foi um dos nomes que deram pro garoto na internet. Só não me pergunte o porquê.
— Eu achei impressionante. Uma criança de dez anos conseguir derrotar um monstro daqueles; — Disse Inês falando com admiração.
— Mas ele não tem dez anos; — Eu digo indignado.
— Como você sabe?, você tava lá?; — Pergunta Daiane. Uma garota de cabelos nos ombros e pintados de verde, com maquiagem preta nos olhos e usando uma toca na cabeça e uma blusa amarrada na cintura.
— Não. Mas eu não acho que ele deva ser tão novo assim;— Eu respondi.
— Será? Ele é tão baixinho; — Disse Catarina. Eu estava pronto para dar uma resposta bem mal educada quando chega Fábio.
— E aí gente, todo mundo bem?; — Disse ele com a voz meio rouca.
— Por que cê tá tão rouco assim?; — Perguntou Victor.
— É que ontem teve jogo do Santos, então eu acabei exagerando na torcida; — Disse Fábio tossindo e aumentando o tom de voz com cuidado.
As aulas acabam e vejo as quatro garotas com o Victor saindo correndo por um dos lados da escola. Tentei seguir o quinteto. Vi eles entrarem em um ônibus que ia para o bairro Nova Guará. Tinha algo muito estranho com eles.

Mais tarde, eu e minha mãe fomos a um brechó perto do centro da cidade, onde compramos uma jaqueta preta com duas listras azuis em cada braço, uma calça de material parecido com o da jaqueta, luvas e um par de botas.
Depois de alguns ajustes que minha mãe fez, eu ponho minha blusa preta de capuz e depois o traje. Por fim minha mãe faz uma máscara que cobria todo o meu rosto feito de uma touca e das lentes de um óculos de sol antigo meu.
—Mãe, tá incrível, obrigado;— Eu digo enquanto experimento o traje.
— De nada filho. Fico feliz que tenha gostado, já que agora eu não tenho como fazer outro;— Ela diz sorrindo;— Mas você não vai precisar de um nome?
— Quer dizer um codinome;— Eu disse;
—Que seja. Você já tem algum em mente?
— Que tal … Espectro?
— Por que Espectro?

—Simples, porque eu crio e manipulo Espectros de luz.
— Pode até ser; — Diz minha mãe com um certo receio, que eu logo ignoro e pergunto:

— Ah mãe, antes que eu me esqueça, eu posso dar um pulo lá no Shopping?
— Poder até pode, mas vai fazer o que lá?
— Nada de mais. Só vou tentar fazer uma coisa; — Eu digo enquanto tiro o uniforme. Agora que eu e minha mãe já tínhamos resolvido a questão do uniforme, ainda restava outra questão muito importante, um meio rápido de me locomover.
Por isso fui até o quarto andar do Shopping, um estacionamento à céu aberto, subo no muro do estacionamento, olho para baixo, e penso “Cara, se eu não conseguir e acabar morrendo assim, minha mãe me mata”. Tomo coragem, fecho os olhos e dou um salto para frente, enquanto isso crio dois discos embaixo dos pés, abro os olhos e tento me equilibrar. Até aí tudo bem, então jogo meus braços para trás e solto um feixe de luz para ganhar impulso, flexiono meu joelho direito e estico o esquerdo para trás, e depois de algumas desiquilibradas eu consigo pegar o jeito. Pego velocidade, sinto a pressão do ar então crio um escudo na frente do meu corpo. Voôei por toda cidade, observando tudo, o pôr do sol, as pessoas andando e vivendo a vida tranquilamente, pelo menos as que não me viram e saíram correndo em pânico, mas até que no geral foi bem divertido.

Na tarde do dia seguinte eu estava indo comprar minhas HQs mensais em uma banca no centro quando vi uma movimentação estranha ali por perto. Eu me aproximo e vejo que um assalto estava acontecendo em uma joalheria. Como não dava tempo de ir para casa pegar o traje e voltar, improvisei criando um tipo de armadura com energia azul e corri para a joalheria.

Haviam três bandidos, todos armados. Um deles estava vigiando a entrada, o outro estava pegando o dinheiro do caixa, além de um que vigiava os reféns. Entrei com tudo e disse:
—Deixa eu adivinhar, o noivo esqueceu de comprar as alianças e veio aqui com os padrinhos.

Cumé que é?; — Disse um dos bandidos.
— Ah, dane-se; — Eu disse e acerto um feixe de luz que acerta o vigia, depois crio dois chicotes que, com o poder do meu pensamento, prendem o cara dos reféns e o cara dos caixas, e depois os jogam para fora da joalheria. O que tirava o dinheiro se levanta e atira seis vezes em mim, mas a armadura me defende, o bandido tenta recarregar a arma mas eu faço um punho flutuante e dou um soco que acerta bem no queixo dele, que cai no chão desacordado. Alguns dos reféns saem correndo na hora, os outros ficam ali paralisados.
— Q-quem é você?; — Disse um dos atendentes da loja. Eu paro e penso, era isso, o momento em que meu codinome se espalhará por toda cidade. Então digo em voz alta e clara:
— Me chame de…..
— Kid Construtor!; — Grita uma das atendentes.
— Não, esse não…
— É você sim, eu vi você enfrentar aquela Bola de Lama no Shopping. Tira uma selfie comigo?; — Ela diz entusiasmada. Eu estava prestes à dizer o meu verdadeiro codinome mas ouço a policia chegando, então dou um “tchau” e vou embora voando e pouso em um lugar seguro para descansar. Estava exausto, tinha gastado muita energia mantendo a armadura. Passo alguns minutos descansando, então vou para banca e compro minhas HQs normalmente, depois dou uma olhada na porta da joalheria e olho os policiais levando os ladrões.
Na noite daquele mesmo dia eu estava assistindo o jornal global, que cobria o pronunciamento oficial do governo que ainda negava com todas as letras os “Boatos” de pessoas com super-poderes, que muitos começaram a chamar de Mutantes. Esses boatos além de percorrerem o Brasil, também percorriam praticamente todo o mundo.
Foi quando toca o meu celular, era o aviso de um aplicativo de notícias regionais que eu tinha acabado de baixar. Mostrava um assalto em uma pizzaria no Pedregulho, um bairro Meio longe da minha casa. É, o presidente Miguel Tender teria que esperar. Bato na porta do banheiro, minha mãe desliga o chuveiro e pergunta:
— Que foi Davi?
— Nada não. É que eu vou dar um pulinho lá no Pedregulho e já volto;—  Eu respondo. Minha mãe não acredita no que eu disse, sai do box, e abre a porta do banheiro a fim de perguntar o que eu falei. Tarde demais, eu já estava com o uniforme e voando por cima de casa, indo em direção a pizzaria. A única coisa que eu não sabia é que eu não era o único super-herói a ir para lá.

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