Ganhando um Aliado

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*Data:(28/02/2017); Localização: Guaratinguetá-SP.
Eu estaciono a moto perto do local que o Fábio localizou como possível ponto de encontro da gangue, uma casona aparentemente comum. Eu fico na frente da porta, tomando coragem.
— Tá legal Victor, cê consegue, não vai ser nada demais, seus amigos fazem isso o tempo todo, não precisa ter medo. Quem é o monstro? Quem é o monstro? Eu, eu sou o monstro;— Eu falo pra mim mesmo. Então eu bato na porta.
— Quem é?;— Pergunta uma voz que parecia ser de um monstro.
— Err, disk-pizza?;— Eu falo me xingando por dentro por ser tão idiota.
— Comé?;— O cara diz abrindo a porta, e apesar de não ser um monstro, ele tinha o tamanho de um. Sem dar pra ele chance de reação, eu aciono minhas armas e atiro na cara dele, que dá uns três passos pra trás. Então dou dois passos na parede do corredor e dou um chute na cara dele, que pra ajudar ainda bate a cabeça na parede e cai no chão desmaiado.
— Até que foi fácil;— Eu falo sorrindo quando dois caras, um com máscara de dragão e outro de coruja, saem da sala e me vêem. Eu atiro na mão e na cara do máscara de coruja, que estava segurando um rádio, o cara da máscara de dragão tenta me esfaquear, eu desvio dos seus golpes e pulo em cima da mesa da cozinha ao lado. Ele tenta me acerta com sua faca de novo, mas erra e fica com a faca presa na mesa, aproveito e dou uma joelhada na cara dele e dou um chute com a outra perna, o levando ao chão. O cara da máscara de coruja tenta me acertar com um soco, mas escapo, ele arranca a faca presa na mesa e a joga em mim, me acertando no ombro direito. Eu suporto a dor e arranco a faca dali, mas antes de eu perceber o cara pula pra cima de mim me dando dois socos, dou um chute no saco dele, depois uso todas as minhas forças e o jogo até o meio da sala. Corro com tudo e dou uma cabeçada no estômago dele, que cai no sofá e me chuta na perna, depois soca meu queixo. O cara da outros três chutes em mim e tenta me dar outro soco na cara. Eu o seguro com os joelhos e o jogo pra trás de mim, e ele cai em cima da TV que se despedaça inteira. Depois eu me levanto devagar, mas quando olho pra cima vejo o cara da máscara de dragão junto de outros dois mascarados, que estavam com dois fuzis apontados pra minha cara.
— Então, acho que acabei com a maratona de Stranger Things de vocês;— Eu digo olhando pras armas pondo a mão no meu ferimento e percebendo que eu me ferrei bonito dessa vez.

— Vambora, anda;— Disse um dos caras me empurrando com o fuzil pra uma sala grande com uma meia dúzia de celas improvisadas. Ele me joga pra uma dessas celas e me tranca nela;— Relaxa rapaz, cê vai ficar aqui por pouco tempo, só até o chefe decidir o que fazer com você.
— Merda;— Eu falo pra mim mesmo, se não bastasse ser capturado, ter todo o meu equipamento confiscado e ter minha identidade descoberta por uma gangue homicida, o meu ferimento parecia bem pior do que imaginei. Olho pras outras celas e encontro uma pessoa, ou só um monte de alguma coisa amontoada, coberta por várias camadas de plástico na cela do lado da minha. Me estico ao máximo pra cutucar a figura, quando consigo ela começa a se contorcer e tenta falar alguma coisa mas como sua boca tava tampada eu não entendi nada.
A pessoa rasteja pra mais perto de mim, até que encosta nas grades que separam as celas, então começa a se remexer feito louco. Demorou um pouco pra eu entender o que ele queria dizer. Me aproximo dela e começo a tentar rasgar o plástico com as unhas e dentes, depois de cinco minutos e várias tentativas frustadas, consigo abrir um buraquinho no plástico e quase imediatamente uma gosma que parecia uma amoeba branca gigante sai do plástico através dele.
— Cara, tava ficando difícil respirar aqui, valeu;— A gosma fala depois de se transformar em um cara sentado na minha frente. Ele parecia ser um pouco mais velho do que eu, tinha o cabelo comprido e uma barbicha, sinceramente, ele me lembrava o Salsicha do Scooby-Doo.
— Quem é você? Aliás, o que é você?;— Eu pergunto espantado.
— Me chamo Tadeu Menezes;— Ele responde meio ofegante;— Sou um anamorfo, ou algo assim. Posso me transformar em basicamente qualquer coisa.
— Tadeu Menezes?;— Eu falo achando esse nome familiar;— Espera, cê é filho do Seu Clóvis Menezes, dono de uma oficina?
— Sim, cê o conhece?;— Ele pergunta enquanto sai da cela atravessando entre as barras.
— Eu trabalho na oficina dele. Meu nome é Victor.
— É um prazer Victor, tenho certeza que ouviu falar muito bem de mim, isso se ouviu. Sabe quantos daqueles babacas tão aqui?
— Tinha uns cinco, mas um valia por dois;— Eu respondo enquanto ele transforma a mão em uma gosma, a coloca na tranca da cela e a abre.
— Tá, eu derrubo a porta e cê usa seus poderes pra acabar com quem tiver na frente no três, okay?;— Ele fala quando nos aproximamos da porta da sala, fazendo às mãos crescerem bastante.
— Certo, mas eu não tenho--
— Três!;— Ele grita e soca a porta, que cai uns metros a nossa frente, perto dos caras das máscaras de dragão e de coruja. Eu pulo e soco o da máscara de dragão, o derrubo no chão e dou uma série de socos, sem dar tempo dele se recuperar. Ele tenta pegar uma arma que estava em sua cintura, mas consigo nocautear ele antes disso. Enquanto isso, o máscara de coruja tentar me dar um tiro mas Tadeu estica seu braço e o acerta com um punho gigante.
— Era pra você usar seus poderes;— Ele me fala.
— Eu usaria, se tivesse.
— Quê? Cê não tem poderes? Por que eles te prenderam então?;— Ele me pergunta enquanto usa seu braço como um escudo contra os tiros dos outros bandidos. As balas deles atingem seu braço e voltam pros caras, que tentam se proteger atrás dos móveis e das paredes.
— É uma longa história;— Eu respondo e pego a arma na cintura do máscara de dragão e atiro neles, consigo acertar a perna de um, que cai no chão e leva um soco na cara pela mão gigante de Tadeu. Ver ele se esticar daquele jeito era nojento.
Tento acertar outro bandido que tava na sala mas não consigo, então ele começa a atirar com um fuzil.
— Cara, dá uma ajuda aqui, isso não faz cócegas;— Tadeu reclama enquanto é acertado várias vezes pelos tiros.
Eu olho ao meu redor, vejo uma vasilha de metal cheia de frutas em cima de um muro na entrada da cozinha, eu conseguia ver o reflexo do atirador na vasilha, me dando uma ideia. Então eu miro com o máximo de cuidado e acerto a vasilha, que consegue ricochetear a bala, que atinge o atirador na orelha. A bala não o machucou muito, só o deixou atordoado tempo suficiente pro Tadeu pegá-lo pela cabeça e o jogar pra janela da cozinha, onde fica entalado. Corremos até a sala a tempo de ver o grandão tentando fugir pela janela.
— Mas não vai mesmo;— Tadeu fala e o puxa de volta.
— Calma caras, vamos conversar? Podemos entrar num acordo;— O grandão fala erguendo as mãos.
— Eu aceito a parte da conversa. Primeiro: Onde tão minhas coisas?;— Eu pergunto.
— Tão na sala ao lado da que cês tavam, à esquerda;— Ele responde cagando de medo.
— Ótimo. Agora, é melhor contar tudo que sabe sobre sua gangue, ou a policia vai ter um tremendo trabalho limpando essa sala, se me entende;— Eu falo. Então ele me conta tudo, que aquela casa era apenas pra interrogar e torturar mutantes ou quem quer que irrite a gangue. Que o Q.G. deles de verdade era perto do Centro da cidade, em um cinema abandonado.
— Então, acho que isso é tudo;— Me pergunta Tadeu.
— Com certeza, se importaria se...?
— É um prazer;— Ele responde me entendendo, então dá um soco no grandão.
Depois vou até o lugar onde estavam minhas coisas e confiro tudo, depois me equipo de novo. Então eu ouço som de estilhaços caindo no chão na entrada da casa. Corro até lá e encontro Stelfie, Elastano e os amigos deles no corredor de entrada, a porta tava toda quebrada e coberta de gelo.
— O-olá? Vieram me ajudar a limpar essa bagunça?;— Eu pergunto tentando disfarçar minha voz.
— Victor, é melhor parar de fazer essa voz ridícula e contar onde cê tava com a cabeça quando veio pra cá;— Stelfie reclama enquanto Elastano e o tal do Gavião-não-lembro-o-quê deram risadinhas atrás dela.
— C-como sabe que sou eu? Ah mas eu vou matar o Fábio;— Eu falo imaginando o óbvio;— Eu vim investigar.
— E olha no que deu;— Ela fala olhando ao redor.
— Eu sei, mas eu fiz umas descobertas muito boas, eu e o...;— Eu falo e procuro o Tadeu, que tinha sumido.
— Pera, cê tá ferido!;— Ela fala apontando meu braço.
— Isso? Ah, é só um arranhadinho de nada;— Eu minto na cara-dura. Aquilo tava doendo muito, apesar do meu esforço pra esquecer o ferimento.
— Chega, vamos embora logo, antes que a policia chegue e a situação piore;— Ela fala enquanto os outros conferem se os bandidos ainda tão desmaiados. Depois Graus os deixa presos em gelo pra que não fujam.
— Esperem só um minuto, eu vi uma caixa de curativos por aqui— Eu falo enquanto vou pra sala;— Tadeu, Tadeu.
Procuro por ele e cochicho seu nome na sala.
— Tô aqui;— Fala um elefante de pedra em cima de uma mesinha escondida.
— Quer uma carona?;— Eu pergunto, então o elefante vira uma moeda de um Real.
— Vambora;— Responde a moeda. Eu a pego e guardo em um dos bolsos.
— Vic, vamos;— Fala Elastano;— Ué, e os curativos?
— Ah, eu me enganei;— Eu respondo. Depois o Gavião leva Stelfie e Graus voando e Elastano estica seus braços e dá uma de Homem-Aranha e se balança entre os telhados das casas, enquanto eu pego minha moto e saio correndo o máximo que posso.
Chegamos até a porta da minha casa, já tava tarde e tudo tava apagado.
— Certeza que não quer ajuda com o ferimento?;— Stelfie me pergunta.
— Não, tá tranquilo;— Eu respondo levantando o visor e rindo, pra não chorar de dor.
— Hã, pessoal, temos um problema;— Elastano fala olhando no celular.
— Que foi?;— Pergunta Gavião.
— Não sei direito, a Dai, quer dizer, Portal falou que o Espectro e o pessoal precisa de ajuda lá no Rio, pra ontem;— Elastano responde preocupada.
— Que ótimo, espero que não seja muito grave, e que não demore muito, ou meus pais vão me matar;— Graus fala suspirando.
— Não se preocupa, vamos dar um jeito;— Stelfie fala esperançosa como sempre;— Tchau Vic;— Ela fala e me dá um beijo na bochecha;— Não se mete mais em encrenca tá? Pelo menos até a gente voltar.
— Pode deixar, boa sorte pra vocês lá;— Eu respondo e eles vão embora. Depois entro na garagem com a moto e tiro a moeda do bolso.
— Olha só, ganhou até beijo na bochecha, que fofo;— Tadeu fala enquanto volta ao normal.
— Como assim?;— Eu pergunto sem entender enquanto tiro o capacete e começo a cuidar do meu ferimento.
— Nada não, mas que eu shipo os dois eu shipo;— Ele responde rindo.
— Corta essa tá legal?;— Eu respondo irritado passando álcool na minha ferida.
— Foi mal, não sabia que cê ia ficar tão bravo.
— É que, eu não tenho a menor chance. Ela já namora, tá, o cara é um babacão com B maiúsculo, mas eles se gostam mesmo;— Eu respondo falando demais.
— Tá legal cara, eu já entendi. Já passei por isso também;— Ele fala entediado.
— E o que aconteceu?
— Eu descobri meus poderes e resolvi sair por aí pra aproveitar;— Ele responde coçando o queixo;— Mas e então, cê vai fazer o que a garota falou?
— Mas é claro que não, só não vou hoje mesmo naquele cinema antigão porque tô exausto, mas eu vou resolver isso o quanto antes;— Eu respondo.
— Imaginei. Bom, tô te devendo uma e odeio aquele bando de cuzão, então eu posso te ajudar no que precisar;— Ele fala.
— Valeu, mas eu quero prender aqueles caras sozinho, virou questão de honra.
— Não tô falando disso, é ruim deu arriscar meu pescoçinho de novo, tô falando de ajuda com esses seus equipamentos. Não tão nada ruins, mas dá pra dar uma melhorada;— Ele fala mexendo em algumas ferramentas em cima de uma mesinha.
— Entende de mecânica?
— Digamos que meu pai me ensinou umas coisas;— Ele me responde.
— Sendo assim, tudo bem. Mas me responde uma coisa, por que os Cruzados te perseguiram, não foi só por você ser mutante né?
— Eu meio que roubei uma graninha deles;— Ele fala sem-jeito.
— Graninha?
— É, uns R$200.000,00;— Ele responde quase sussurrando.
— Duzentos o quê? É sério?
— Ladrão que rouba ladrão...;— Ele fala rindo.
— E o que cê fez com a grana?;— Eu pergunto enquanto guardo o kit de primeiros socorros e o álcool que usei.
— Tá bem escondida, não tive tempo de usar ainda;— Ele fala;— Ô Victor, posso te pedir um favor?
— Claro.
— Posso passar a noite aqui? Não tenho pra onde ir hoje.
— Beleza, pode ficar até amanhã depois do café da manhã, desde que meu tio não te veja;— Eu respondo guardando o restante do meu equipamento.
— Acredite, ele não vai nem saber que eu existo. Daí aproveito já dou uma melhorada nas suas coisas, não tô com sono mesmo;— Ele responde estalando os dedos.
Depois disso eu me despeço dele e subo até meu quarto, antes dou uma olhada no quarto do meu tio, que tava roncando que nem um motor. Já no meu quarto, eu guardo o meu traje nos fundos do guarda-roupa e desmorono na cama, morto de cansaço.

Acordo na manhã seguinte, desço até a cozinha e encontro um bilhete do meu tio, dizendo que o pão tinha acabado e que ele ia comprar mais. Escuto um barulho vindo da sala, vou até lá mas não vejo ninguém.
— Ah, falaí Victor;— Fala uma das almofadas no sofá, que depois se transforma no Tadeu.
— Eae;— Eu respondo.
— Cara, acho que cê vai querer ver isso;— Ele fala e aumenta o som da TV.
— “...É isso mesmo que vocês estão vendo senhoras e senhores, um prédio acabou de ser derrubado durante essa que é a maior luta entre mutantes registrada em todo o Brasil, ouso dizer até do mundo. Não conseguimos ver se os dois mutantes que lutavam no topo do prédio sobreviveram. Aparentemente a batalha está quase no fim, e esperem, tem uma movimentação ali, parece, parece que um dos mutantes acaba de se tornar um gigante e está atacando os outros...”;— Dizia uma repórter que sobrevoava a batalha de helicóptero, de longe eu consegui reconhecer a maioria dos meus amigos lutando, tirando apenas o Davi/Espectro, e isso me deixou um pouco preocupado.
— São eles né?;— Tadeu me pergunta e eu só consigo balançar a cabeça afirmando.
— Deus do céu, no que eles foram se meter?;— Eu pergunto inconformado de não poder ajudar. Pouco depois eu ouço uma barulheira muito forte, olho pra TV mas não vinha de lá, mas do lado de fora da casa.
Saio correndo dali a tempo de ver uma caminhonete fugindo cheia de mascarados segurando armas que pareciam metralhadoras. Olho pra rua e vejo a academia do meu tio, toda destruída.
— Ai merda! Merda!;— Eu grito e saio correndo até lá. Por sorte não tinha ninguém lá na hora, mas isso não diminuiu minha raiva.
— Victor, o que aconteceu?;— Pergunta Tadeu.
— Eles aconteceram;— Eu digo segurando minha raiva;— Eles tentaram me dar um recado, pra ficar longe.
— E o que cê vai fazer?
— Eu vou mandar meu próprio recado pra eles, ainda hoje;— Eu respondo indo até o meu quarto, onde pego e ponho meu traje.
— Pelo menos consegui fazer as modificações na moto a tempo;— Ele fala enquanto me tranco na garagem, tiro um pano que tava em cima da moto, que parecia estar mais robusta do que antes, além de ter ganhado alguns botões na tela que eu não fazia a menor ideia da utilidade.
— Maneiro;— Eu falo enquanto Tadeu entra na garagem por debaixo da porta.
— Valeu;— Ele fala estalando os dedos;— até que fiz um bom trabalho em uma noite só.
— Tadeu, vou precisar que alguém fique aqui e explique a situação pro meu tio, pelo menos parte dela;— Eu falo.
— Okay, não se preocupe, dou meu jeito. E boa sorte, vai precisar;— Ele responde, então eu abro o portão, subo na moto e acelero até aquele maldito esconderijo daquela gangue. Eles conseguiram fazer algo que praticamente ninguém conseguiu, me deixar com profundo ódio, e eles vão pagar por isso nem que seja a última coisa que eu faça.

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