Dando uma de Herói

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Depois da escola, eu volto para casa e almoço, pensando no que poderia estar acontecendo com as pessoas doentes que tinham faltado na escola, até que de repente as minhas mãos voltam a formigar, interrompendo meu raciocínio. Minha mãe fica olhando para mim e diz:
— Filho, está tudo bem com você?
— Ahn? Ah está, está sim.
— Tem certeza? É  que você está tão quieto, quer dizer, bem mais do que o normal.
— Tô bem mãe, não precisa se preocupar;— Eu dizia enquanto coçava minhas mãos.
— Então mais tarde você pode ir lá no supermercado comprar leite?
— Claro, pode deixar;— Eu digo sorrindo tentando tranquilizar ela.
Mais tarde, umas 16:15, eu coloco minha camiseta com a estampa do Amazing Fantasy nº15, e minha blusa preta de capuz, e fui para o supermercado que ficava dentro do Shopping. Coloco meus fones, estava tocando Rise da banda Skillet. Dentro do Shopping vejo várias pessoas correndo em minha direção. Me protejo para não ser atropelado, minhas mãos começam a latejar.
— Agora não!;— Eu digo para mim mesmo. Olho para cima e vejo do que todos estavam fugindo.
A criatura parecia uma bola de lama com braços e pernas. O rosto, se é que se pode dizer assim, era todo deformado, não tinha nariz ou ouvidos, nem dedos nos pés e pescoço, e os braços quase batiam no chão.
A criatura batia em tudo à sua volta com suas mãos parecendo martelos. Ele (ou ela), soltava urros de alegria, parecendo uma criança de 3 anos se divertindo em um parquinho. Até que o monstro olha para um segurança que estava perto de mim que apontava uma arma de choque para ele(a). Então o monstro faz cara de raiva e estica o braço esquerdo em direção do segurança. Em um impulso eu esqueço a dor nas mãos e jogo o cara para longe dali, mas acabo perdendo velocidade e fico na mira do monstro.
Sinto o impacto, eu caio, o monstro me prende no chão com sua mão, começo a ficar sem ar, o monstro me espremia cada vez mais. Fecho os olhos, para piorar as dores nas minhas mãos se tornaram insuportáveis, eu começo a me sentir estranho, sentia um calor dentro do peito, como uma queimação.
De repente esse calor parece se expandir para fora do meu corpo, abro os olhos e vejo uma luz azul sair de mim e destruir tudo o que estava perto de mim, incluindo a mão do monstro. A luz se desfaz mas meus braços brilhavam com uma luz azul intensa. Me levanto e olho para a vitrine de uma loja ali perto, a luz azul também saia dos meus olhos.
— Cassete!;— Eu disse em voz alta espantado enquanto olhava para o meu reflexo. O monstro de lama solta um urro, regenera o braço e corre em minha direção com os punhos cerrados. Crio instintivamente um escudo no braço direito que me defende da série de socos que o monstro dá, consigo uma brecha e corro para longe dele. O monstro quebra uma coluna do Shopping e joga um pedaço na minha direção. Eu paro e estico meus braços na frente do corpo, pensando em criar um escudo maior para me defender da coluna, mas em vez disso solto um raio de luz azul que, além de me jogar para trás, também quebra a coluna em vários pedaços.
O monstro se aproxima e tenta me atacar mas eu solto um raio no rosto do monstro que o afasta. Percebo então que na região do rosto em que eu acertei agora estava ressecada e trincada como chão de deserto, o que me dá uma ideia.
O monstro me olha com ódio. Eu me concentro. Ele transforma as mãos em martelos. Eu estalo meu pescoço e depois minhas mãos.
O monstro parte para o ataque. Eu solto outro raio que atinge todo o corpo dele. O raio dura alguns segundos mas foi o suficiente para eu quase desmaiar de cansaço. Ponho meu joelho esquerdo no chão, olho para o monstro, que parecia ter virado uma estátua até que começou a rachar e por fim, virou pó, e de dentro dele saiu um homem de trinta e poucos anos. Cabelo moicano, gordo e fedido.
Maldito!, o que você fez com os meus poderes?, o que você fez!;— Gritava o homem visivelmente perturbado.
— Pera, cê era o monstro?; — Eu pergunto espantado. Ele se aproxima de mim tentando me agredir. Eu ergo o braço esquerdo e solto um raio que empurra o cara para longe. Começo a ouvir sirenes, então me levanto, sinto uma dor terrível na costela direita, mesmo assim saio o mais rápido possível do Shopping.
Volto para casa correndo, por pouco a policia não me viu. Entro em casa, vou para o quarto e deito na cama, onde fico olhando para minhas mãos, que não estavam mais doendo. Eu penso nelas acesas e no mesmo instante elas acendem.
— O que tá acontecendo?; — Eu disse impressionado e com medo, ainda sem entender direito todo o ocorrido.
Eu me concentro e faço com que duas esferas azuis brilhantes saíssem das minhas mãos, no começo elas voavam desgovernadas pelo quarto, mas aos poucos eu consegui controlá-las. Consegui fazê-las voar sobre o meu comando, fiz elas aumentarem e diminuírem de tamanho, depois de um tempo consegui mudar a forma delas, primeiro outras formas geométricas: Pirâmides, Cubos, Tubos, Prismas. Depois transformei em objetos inanimados como um abajur, meu despertador, a cama. Depois fui para formas animadas de animais e por fim, de pessoas que eu conheço como minha mãe, minha família e meus amigos de escola.
Fico olhando para minhas mãos, pensando em tudo o que elas poderiam fazer. Penso em uma coisa, penso que eu poderia ajudar às pessoas com os meus poderes, ser um herói. Pouco depois eu ouço alguém gritando meu nome. Era minha mãe, olho no celular, eram 17:00, uma hora antes do normal. Saio do quarto e a encontro na sala de braços cruzados e com a TV ligada.
— Ué, a senhora chegou mais cedo hoje porquê?;— Eu pergunto fingindo que nada aconteceu.
— Olha pra TV;— Ela disse com voz firme.
" E acabamos de receber esse vídeo amador mostrando o ataque de uma espécie de criatura feita de barro no Shopping de Guaratinguetá. Reparem que um jovem misterioso salva a vida de um segurança e enfrenta a criatura soltando raios azuis. A policia identificou a criatura como Cléber Bernardo Mattarazo, de 37 anos. Ele e seu irmão, Carlos Bernardo Mattarazo, foram presos outras vezes por roubo, latrocínio entre outros crimes. Cléber ficará na prisão de Jabuti. Quanto ao jovem, não rastros."
Eu fico parado olhando e pensando em como eu fiquei mais alto no vídeo e dando graças a Deus que a câmera não filmou meu rosto quando minha mãe vira para mim e diz em tom sério:
— Foi você!
— Que?, como assim mãe?
— Não me faça de idiota Davi, as roupas dele são iguais as que você está usando, ele é do seu tamanho e estava no lugar em que eu pedi pra você ir. Sem falar que você não trouxe nada que eu pedi na lista que eu te dei. Então, ainda vai tentar me fazer de idiota ou vai dizer a verdade?;— Ela diz com tom de seriedade.
Eu dou um suspiro e digo:
— Sim mãe, fui eu.
— Ótimo. Tá de castigo.
— Quê?
— E sem chiar, vai logo pro seu quarto. Daqui por diante é de casa pra escola e da escola pra casa.
— Não.
— Não?
— Mãe, você viu o que eu posso fazer e quer que eu não faça nada com isso, pior, que eu esqueça? Eu quero e vou ajudar as pessoas, deixar a cidade um pouco mais segura.
— Você teve muita sorte que não aconteceu nada com você e quer fazer isso todo dia? Isso é a vida real Davi, as pessoas se machucam ou morrem e não ressuscitam como nas HQs que você lê. E você não vai fazer mais isso, não vai e pronto!
— Mãe, por favor, olha pro estado que o mundo tá, agora olha pro que eu consigo fazer;— Eu falo acendendo os braços. Ela se assusta um pouco ao me ver fazendo isso;— A senhora acha mesmo que eu vou aguentar ficar quieto no meu canto enquanto o mundo tá numa merda só, a senhora acha que eu não vou fazer nada a respeito. Como a senhora mesmo costumava dizer “uma pessoa sozinha pode ajudar o mundo à ficar melhor ou pior”. Então é isso que eu vou fazer. Melhorar as coisas pouco a pouco;— Eu termino de dizer e ela fica olhando para mim com uma expressão indecifrável, até que ela fecha os olhos e diz:
— Eu te conheço Davi, eu sei porque você quer fazer isso.
— Não começa mãe!
— Você quer fazer isso pra tentar compensar tudo o que o seu …;— Ela começa a dizer mas eu a interrompo.
ELE não tem nada a ver com isso e eu vou usar esses meus poderes pra ajudar o maior número de pessoas possível, com ou sem o seu apoio; — Eu falo seriamente. Ela fica me olhando por um tempo, solta um suspiro e diz:
— O que posso fazer para te ajudar?
Eu sorrio e digo:
— Bom, até que uma ajuda com o uniforme seria muito bom.
— Amanhã nós damos um jeito nisso.
— Tudo bem, e mãe, obrigado, obrigado mesmo; — Eu digo sorrindo.
— De nada. Agora tenho que ir no supermercado comprar as coisas da lista, já que o jovem herói aqui esqueceu;— Ela diz tentando aliviar o clima. Aquele foi um dos momentos mais tensos e tranquilizantes da minha vida, pois agora eu contava com o apoio da minha mãe, e isso era muito importante para mim.

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