The Mission • BTS

•35• Lie

Estava cochilando na sala de aula. Hoseok me trouxe de carro pois ainda estou dolorida demais para vir a pé, e de qualquer forma não viria mesmo, é ele quem me trás. Pulo de susto ao ouvir o sinal que indicava o intervalo. Limpo minha baba e tiro o casaco da cabeça. Sim, tinha um casaco cobrindo a minha cabeça. Ninguém é obrigado a ver uma garota babona – que nem sabe se ronca – dormir na aula de Geografia.

Jimin já não estava mais ao meu lado, deve ter saído para comer algo. O que é um milagre. Ando pelos corredores pressionando a minha barriga e enfrento a fila da cantina. Compro uma barra de cereais e um toddynho (porque ao lado de toda comida fitness, tem que haver o alimento gorduroso) e sigo até a biblioteca. É um dos lugares mais calmos. Depois da minha árvore, é claro. Mudo de ideia e vou para o jardim. Acochego-me em uma de suas raízes e encosto minhas costas no tronco. Paro para refletir sobre como o mundo está tão agradável hoje.

Com meus olhos fechados, sinto que algo tampou a circulação do vento gostoso que estava batendo sobre a minha face. Os abro e avisto o garoto dos cabelos azuis.

— Você me ignorou — diz se sentando na minha frente.

Jogo minha cabeça para trás e continuo mastigando a barrinha, a olhar o céu, ou melhor, o céu tampado pelas folhas verdes.

— Continua me ignorando.

Suspiro baixo e tento manter a calma. Ninguém mais sabe dar um tempo para as outras pessoas refletirem e esfriarem a mente? É toda hora. Todo minuto. Ninguém se dá a paz e nem deixa os outros terem. O que estou dizendo? Pensamentos idiotas.

— A culpa não foi minha — prosseguiu.

O dia agradável se foi e deu lugar ao tenebroso. Abram alas para Kayla Moon irritada.

— Então foi minha?! — aumento o tom de voz.

— Não — responde baixo.

— Olha só, não quis ser meu ombro amigo e me acompanhar quando mais precisei? Ótimo! Talvez você tenha mesmo os seus motivos — respiro fundo — Mas e sobre o hospital? Três longos dias e nem um pedido de melhoras você se deu ao trabalho de mandar!

— Eu não quis...

— Mas tudo bem! Eu não me importo mais. Sabe por quê? — dou uma pausa — Porque quando acordei tinha alguém do meu lado, alguém que não era você Yoongi. Era Jimin. Irônico, não?

— Jimin te visitou?! — fez uma careta surpresa — Ele não pode! — balançou freneticamente a cabeça para os lados.

— Sim. Enquanto você estava vagabundeando por aí com alguma das suas peguetes riquinhas — pressiono novamente a barriga, os pontos começaram a doer.

— Me escuta! Eu gosto mais de você do que ele! É que... houve esse deslize e... Kayla, eu sei que sou um pé no saco mas não precisa desistir de mim assim! — segurava meus braços, usando palavras nervosas.

— Não sei mais... você só me decepciona e...

Senti a pressão do seu corpo contra o meu. Ele havia me abraçado, em um ato de desespero. Se a tentativa era me calar, funcionou. Relaxei e me deixei ser acolhida, mesmo sem corresponder a ação.

— De novo não... — uma voz surgiu ao fundo.

Não tive tempo de observar, já fui sendo puxada pela mão. Quando me dei por si, Yoongi e Hoseok estavam frente a frente, bufando um para o outro.

— O que você pensa que está fazendo?! — Suga reclamou.

— Essa pergunta deveria ser respondida por você, não acha? — J-Hope sorri debochado.

— Estava me acertando com a minha amiga. O que é que tem? — o azulado cruza os braços.

— Ela não é sua amiga.

— É sim! Eu não sou você que precisa fingir relacionamento para aumentar seu ego frente aos outros!

Droga, a feição de Hoseok mudou. A quentura de seu corpo podia ser sentida a quilômetros de distância. O menino se aproximou e com as duas mãos empurrou Yoongi com toda a força. Ele caiu. Mas se levantou furioso. Pisquei meus olhos e os dois estavam trocando socos, feito crianças. Isso soa tão estúpido.

— PAREM! — grito.

A ferida recém fechada dói. Abraço meu abdômen e sofro em silêncio.

— Está tudo bem? — Hobi para e ameaça se aproximar.

— Não! — o interrompo — Estou farta de vocês. Farta disso tudo — finalizo e viro as costas.

Talvez eu deva valorizar mais aquele que se preocupou comigo no hospital.

[•••]

— Jimin, oi — o cumprimento ao me sentar.

— Oi — retribui, sem ao menos me olhar.

Suspiro.

— Ainda está emburrado por eu ter perguntado sobre Yoongi, não é? — pergunto.

Não obtenho respostas.

— Então, me desculpa, ele é um tremendo idiota.

Park Jimin ri baixo e me encara.

— Demorou para perceber isso.

Sorrio e voltamos a atenção para nossos cadernos. Viro-me novamente e faço outra pergunta:

— Yoongi já teve algum irmão?

— Não que eu saiba — continuou a copiar a lição.

Desgraçado, fútil e mentiroso. Precisava inventar uma mentira envolvendo familiares?

— Por quê?

Retiro meu celular do bolso, abro na conversa e entrego para Jimin. Após ler, arregala os olhos.

— Ele está desse jeito? Inventando coisas desse tipo?

Assinto com a cabeça.

— O que você acha que pode ser? — pergunto.

— É coisa que o novo Suga teria feito para não ter que dar satisfações à polícia, ou qualquer outro órgão de poder. Ele não gosta de se comprometer e ter responsabilidades.

Não consigo mais ficar perplexa. Isso tudo é muito novo para mim e os outros adolescentes normais possuem suas mães, para os alertarem sobre o mundo lá fora. Nem isso eu tenho mais.

— Ele tem um "negócio" com a polícia — fez aspas com as mãos.

— Que tipo de negócio?

— Quando era mais novo, enfrentou um deles. Ele era criança e não tinha noção, mas pegou pesado. Acabou apanhando feio.

— Isso não justifica mentir. Era só ter contado.

— Ainda bem que você pensa assim. Parece que alguém evoluiu — sorriu e bagunçou o topo da minha cabeça.