•56• Fun

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Se eu me desse ao prazer de comparar minha antiga vida com a atual, não sei qual seria a minha reação. De fato, eu não sentia tanta felicidade como estou a sentir agora... tudo bem que tinha o J-Hope, mas não acho que era a mesma coisa. Eu confiava nele, porém com um olho aberto e o outro fechado, ou nem tanto assim. Talvez eu só tenha amadurecido o suficiente para distinguir a mentira da verdade, e acredite, isso nem sempre é bom.

As coisas foram tomando um rumo tão extraordinário... quem diria que aquele garoto de roupas rasgadas e olhar cabisbaixo — que só me ignorava — se tornaria a pessoa mais importante da minha vida? Se me dissessem isso no começo, eu iria pagar pra ver, e acho que paguei.

Estávamos a completar um mês de namoro e beijos e carícias eram o que não faltavam. Jimin mantinha uma mão no volante e a outra na minha coxa, a apalpando com um sorriso bobo no rosto, o sorriso que eu adorava ver e sentir. Ele estava a me levar ao parque, como havia prometido. Eu amo parques de diversões. Recorri urgentemente à Internet para comprar os ingressos assim que ele me deu a notícia, e aqui estamos nós, em um baita engarrafamento.

Minutos depois, conseguimos percorrer alguns quilômetros e quando me dei por si, percebi que o parque havia ficado lá atrás. Entrei em desespero.

Ei, já passou! — olhei para o vidro traseiro — Olha, amor, você errou o caminho — suspirei baixinho — A não ser que... o destino não seja o parque.

Só foi eu terminar a frase que o carro virou bruscamente para a direita, adentrando em um estacionamento com luzes vermelhas e placas por todos os lugares. Virei-me para meu namorado.

Motel, Jimin, sério? — cruzei os braços — Eu só queria um pouco de diversão... — fiz bico.

Mas é isso mesmo que você vai ter — lubrificou os lábios.

Me arrepiei de cima a baixo.

O carro foi estacionado e o garoto abriu a porta para mim, segurando minha mão em seguida e me guiando até o quarto de entrada cor-de-rosa. Fiz cara feia, era um rosa muito forte.

Ah, vamos, vai ser legal — e a abriu.

Era um lugar não muito grande, porém aconchegante. A cama estava coberta com um edredom de pelúcia e na cabeceira — que também servia como mesa — havia uma garrafa de champagne acompanhada de duas taças. Jimin me fez sentar em uma das poltronas e abriu o armário, revelando uma fantasia um tanto quanto... incomum.

Você está de brincadeira, né? — ri.

O que há de errado em usá-la?

Eu não conseguiria me divertir vestida em uma lingerie inspirada em roupa de freira, senhor Park! Onde entra o respeito? — cruzei as pernas.

O respeito eu não sei, mas tenho certeza de onde pode entrar outra coisa... — disse a última parte baixo.

Minha boca se abriu em um perfeito "O". Esse menino estava virado hoje, não é possível.

Oh, desculpe — aproximou-se — Mas você bem que poderia deixar a santidade de lado, nem que seja só por essa noite — acariciou minha bochecha.

Levantei-me. Aquela fala havia mexido com o meu interior.

Jimin... se há uma certeza na vida, é a de que ninguém é santo — dei de ombros — Por exemplo, se eu te contasse o que fiz com... — travei.

Ele riu.

Você sabe que a curiosidade matou o gato, e que além de ser o amor da sua vida, sou um gatinho. Então não vai deixar ela me matar, não é? — depositou sua mão envolta de minha cintura e sorriu safado.

"Posicionei a arma nas duas mãos, ainda de costas para a minha vítima. Tremendo, fui me virando aos poucos, até estar com a mira diretamente ligada ao peito da garota. Era questão de um metro e meio e minhas mãos balançavam mais que tambor em avenida. Yunili se desesperou e tentou novamente de todas as formas se soltar, não era mais possível"

Respirei fundo e me afastei, um tanto quanto assustada com aquela lembrança.

"— Espera!

Foi a última coisa que ouvi sua voz irritante e enjoativa dizer. Minha última lembrança sua. Apertei o gatilho e o que enxerguei foram duas lágrimas brilhantes caindo de seus olhos. A loura já estava a agonizar. Minha tremedeira se triplicou e caí com tudo no chão. A pistola foi parar do outro lado do cômodo e eu só sabia chorar. Matar alguém não é algo que você se orgulha de ter feito.

— O que você fez?! — uma voz preocupada e ao mesmo tempo surpresa criou eco nos meus ouvidos."

Desculpe-me — engoli em seco — E-eu não posso... não consigo!

Virei as costas e saí do recinto, batendo a porta com uma certa força. Minhas mãos estavam trêmulas e meus lábios congelados. Estava bom demais para ser verdade. Suspirei e desci rastejando pela parede exterior do quarto, brincando com meus dedos, mas havia algo errado: tinham seis na mão direita.

Eu lembro que quando mamãe era viva, costumava dizer que nos sonhos nós temos mais dedos do que o normal.

Pisquei os olhos e avistei o teto do quarto de Jimin, murmurando um "ufa" baixinho.

De uma coisa agora eu tinha certeza: terei que conviver com essa culpa em segredo pelo resto da minha vida.

The Mission • BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora