Capítulo 18

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Pisquei os olhos diversas vezes, tetando dar sentido ao que se passava pela minha cabeça. Se realmente meu dia tinha passado de uma esperança para uma condenação certa. 

- O que eu fiz dessa vez? - Finalmente consegui sentar no banco. 

- Não foi o que você fez, foi o que eu fiz. - Disse Tonny ainda com os olhos fixos na estrada.

Aquilo estava ficando cada vez mais confuso. O que ele poderia ter feito para achar que Rosa esteja morta? Enquanto eu processava as informações e procurava por vultos de lembrança, o carro ia aumentando sua velocidade. 

- Pra onde estamos indo? - Toquei em seu ombro, querendo chamar sua atenção.

- Temos que cuidar desse seu ferimento. - Me olhou rapidamente pelo retrovisor - Estou a procura de uma farmácia, mas nem isso fui capaz de encontrar. - Sua frustração foi descontada na forte batida que ele deu no volante do carro.

- Anthony, para esse carro agora. - Mesmo tenso, vi que riu por tê-lo chamado pelo nome. Coisa que só fazia quando estava extremamente irritada. 

Mas logo sua aparência suave retornou para séria. Quando parou o carro no acostamento, suas mãos ainda seguravam firmes o volante. Fui para o banco do passageiro, passando pelo espaço entre os dois bancos da frente. Toquei em seu rosto, obrigando-o a me olhar nos olhos. 

- Me conta o que acontece. 

- Eu sabia que não era uma boa ideia irmos até lá. Devia ter te tirado daquela casa assim que ela começou a falar aquelas coisas para você. - Baixou a cabeça - Vi o quanto aquelas palavras lhe afetaram e mesmo assim você se manteve. Até ela falar de Alice e antes que eu pudesse evitar, você bateu nela e ela te empurrou. Quando vi que tinha caído no chão e se machucado, - ele levou uma de suas mãos para passar os dedos no pequeno ferimento em minha testa  - eu não pensei. Apenas fiz o mesmo, joguei o corpo dela para longe e te tirei o mais rápido de lá. 

Tentei não parecer tão chocada quanto realmente estava. Eu simplesmente não sabia o que dizer ou pensar. 

- Eu sei, sou um monstro. - Ele afastou suas mãos de mim, fazendo-me sentir falta de seu toque.

- Não, você não é um monstro. Só agiu por impulso, tentando me defender. - Me aproximei dele e o abracei.

- Mas, e se ela tiver morrido? Nunca iria conseguir conviver com isso. - Seu rosto estava entre meus cabelos, fazendo sua voz sair abafada.

- Não sabemos o que aconteceu depois. Mas sei que não adianta nos desesperarmos. - Mesmo que eu já estivesse desesperada por dentro, quis acrescentar. 

- Laura, e se eu for preso?

- Você não vai ser preso. - Beijei seu rosto, sentido sua barba por fazer me espetar um pouco. Isso era estranhamente bom. 

Tonny ligou o carro e prosseguimos por um bom tempo em silêncio. Eu estava tão apavorada quanto ele, mas tinha que me manter forte. O pior é ter que admitir que tudo isso é culpa minha. Não devia ter insistido em ir visitar Rosa ou tê-lo envolvido nisso. O que eu estava pensando? Quanto mais me aproximava do abismo por minhas escolhas erradas, mais sentia arrastar Tonny comigo.

- Preciso te falar uma coisa. - Ele foi diminuindo a velocidade, até encostar no meio-fio.

- Certo. - Falei, me virando para ouvi-lo. 

- Eu não sei como vai ser amanhã ou depois. Nunca me senti tão vulnerável na vida. Não sou de agir por impulso e você sabe disso. Mas quando te vi caindo no chão, simplesmente não podia aceitar te perder. Parece louco, não? - Não sabia que rumo aquela conversa levaria, mas não pude evitar o frio percorrendo meu corpo rapidamente - Te conhecer foi a melhor coisa que me aconteceu. Me lembro como se fosse hoje a primeira vez que te vi. Você parecia tão perdida que senti a obrigação de te ajudar a encontrar sua sala e desde aquele momento percebi que era especial. O tipo de pessoa que vale a pena conhecer.

- Onde você quer chegar? 

- Só sinto que não posso mais perder tempo. Você não tem noção de quantas vezes quis te dizer isso e o quanto tive medo do que poderia acontecer depois. Mas a minha vida também virou de cabeça pra baixo desde domingo. - Eu tinha me segurado até ali, mas não podia evitar e as lágrimas foram descendo - Laura, eu amo você. 

O que me resta?Onde histórias criam vida. Descubra agora