Capítulo 9

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12 anos atrás

Estava em meu quarto penteando os cabelos de Bonnie, a linda boneca que ganhei no meu aniversário de 7 anos, há apenas dois meses atrás.

- Srta. Bonnie, seus cabelos pretos são tão brilhosos e bonitos! Quero lhe deixar linda para podermos passear pela rua quando papai e mamãe chegarem. - Falei para minha boneca.

Peguei a caixinha de música que estava em cima da penteadeira e deixei que a bailarina no centro dela girasse, enquanto o som suave preenchia o lugar.

- Adoro essa música. - Sorri para a boneca à minha frente.

Toda a melodia foi interrompida pelo miado agudo de Félix, nosso gato, que me deixou impaciente. Também ouvi fortes batidas em algum lugar da casa. Fechei a caixinha de música e deixei Bonnie em cima da cama.

Guiada pelo irritante barulho, parei em frente ao quarto de minha irmã mais velha.

- Alice o que você está fazendo aí? - Gritei, para que ela pudesse ouvir em meio aos miados de Félix.

- Cala essa boca, gato idiota! Você não pode me machucar. - Ouvi ela falar dentro do quarto.

Tentei abrir a porta, mas estava trancada e o gato continuava a miar de forma desesperada.

- Abre a porta e solta o Félix. - Gritei novamente.

E ele parou, não sei como, mas o miado parou e tudo ficou em silêncio.

- O que aconteceu aí dentro? Abre essa porta ou vou chamar a Rosa. Você sabe que não pode ficar trancada no quarto. Anda, abre logo a porta. 

Não fazia ideia do que ela estava fazendo com Félix dentro do quarto, muito menos com a porta fechada. Era uma regra da casa, não podíamos trancar a porta e Rosa, nossa babá, onde ela está?

A porta se abriu rapidamente e ela me puxou com força pra dentro do quarto. Andava de um lado para o outro, abrindo e fechando as mãos, o que fazia quando estava nervosa. Logo atrás dela estava Félix, com os olhos arregalados e corpo imobilizado. Corri até ele e o balancei, mas ele não se mexia.

- O que você fez com o Félix? - Perguntei com a voz chorosa.

- Ele queria me machucar, as vozes disseram. Ele entrou no quarto, ficou me encarando com os olhos cheios de fogo e começou a miar. Tentei fazê-lo calar, mas ele me arranhou, olhe só. - Me mostrou o arranhão no braço.

- Por que você fez isso? Ele era só um gato, meu gatinho. - Abracei-o em meio as lágrimas.

- Ele não parava de miar e queria me arranhar. Tinha muito barulho aqui dentro. - Apontou para a cabeça.

- Não tinha o direito de fazer isso com ele. - Disse, já muito brava com ela.

- Você queria que ele me machucasse, é isso? Você também quer me machucar? - Se aproximou de mim com olhos enfurecidos. 

- Claro que não, eu nunca faria isso. Traz ele de volta, Alice, por favor. - Implorei.

- Como? Ele morreu. - Olhou fixamente para mim - Quebrei o pescoço dele. 

- Rosa! - Gritei pela babá, mas logo cobriu minha boca com as mãos.

- Laura! Você sabe o que eles fariam comigo se souberem que matei esse gato idiota. A Rosa não gosta de mim, ninguém gosta de mim. Todos querem me ferir. - Disse com os olhos marejados - Esse é nosso segredo, me promete. - Exigiu.

- Eu não quero prometer isso.

- Me promete ou não serei mais sua amiga. - Ela sempre dizia isso quando queria me manipular.

- Mas eles vão descobrir. Não posso fazer isso.

- Vão achar que ele sumiu e você não dirá nada, entendeu?


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