Capítulo 15

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- A babá? - Associo o nome a mulher que não vejo desde que nos mudamos. - Mas o que ela tem a ver com isso? - Pergunto, ainda sem entender que relação ela teria com tudo o que aconteceu.

- Ela trocou mensagens com seu pai nas duas últimas semanas. No começo, pareceu só um reencontro ao acaso entre os dois. Registros mostram que há alguns meses ela se mudou para a cidade. Não entrarei em detalhes, para o seu bem, mas constantemente Rosa insistia em encontrar com Allan. Foi bem agressiva e chegou a ameaçá-lo. Ela será intimada a depor, então não me faça pedir de novo, fique fora disso. Fiz mais do que podia lhe contando isso.

Saímos da delegacia e fomos almoçar em um restaurante perto do apartamento de Tonny. Sei que ele tem muitas perguntas a fazer, mesmo assim não fez nenhuma delas. Apenas ouviu os motivos de não termos sido presos. 

Assim que chegamos ao apartamento, a funerária ligou. Todos os preparativos para o enterro haviam sido cumpridos, às 16:00h veria meus pais pela última vez.

- Eu não quero ir. - Disse minha voz falha.

- Pode até parecer mais fácil evitar esse momento, mas você precisa encará-lo. Aconteceu muita coisa e sei o quanto está esgotada. Não perca a oportunidade de dar adeus a eles. 

- Mas eu os quero de volta, Tonny, me diz que eles não se vão pra sempre. - Chorei abraçada a única pessoa que me restava.

- Eles estarão para sempre aqui. - Apontou para o meu coração, fazendo-me entender suas palavras de conforto. Em seguida beijou meu rosto e a sensação dos seus lábios quentes fez minha pele formigar.

Pedi que o momento fosse reservado, Tonny me ajudou a fazer uma pequena lista com os nomes de alguns dos nossos familiares que moravam na cidade, os funcionários da família e os poucos amigos dos meus pais. Foi uma cerimônia curta, as pessoas reunidas naquele local aos poucos se aglomeravam ao lado dos caixões e choravam por aquele casal brutalmente assassinado.

Enquanto tudo acontecia, as lembranças dos momentos em família passavam como um filme em minha cabeça. Não chegamos nem perto de sermos perfeitos, mas éramos felizes e em meio a tantas dificuldades que surgiram ao longo do tempo, estávamos sempre juntos. Mas a realidade doía, diante daquela cena só podia pensar que nunca mais conversaria com papai, contando como havia sido meu dia, ouvindo-o me falar o quanto eu era preciosa para ele. Ou até mesmo aos chamados de mamãe para ajudá-la no jantar e suas tentativas de demonstrar o quanto me amava. 

Pensei que seria capaz de suportar ver a terra cobrindo definitivamente seus corpos, mas não estava preparada para dar adeus as pessoas que mais amava no mundo. Perguntei, em silêncio, por que devia passar por tudo aquilo, se realmente merecia todo esse sofrimento. Ou por que não me levaram junto com eles. 

Depois que não restava mais nada para fazermos ali, os presentes no enterro combinaram de se encontrar na casa de Carla, uma das amigas de minha mãe. Mas avisei que não estava me sentindo muito bem e preferi retornar com Tonny. 

Não quis dormir sozinha naquela noite. Colocamos um colchão na sala e ele deitou-se novamente no sofá. Apagamos as luzes e quando deitei, senti como se meu corpo pesasse uma tonelada. Estava cansada demais para pensar mais sobre o assunto, se devia ou não fazê-lo. Encorajei-me e sacudi levemente o corpo de Tonny, suplicando que já não tivesse dormido. Assim que percebi que sua atenção estava voltada para mim, não hesitei em falar. 

- Preciso que faça uma coisa por mim. Descubra o endereço de Rosa Castilho.

O que me resta?Onde histórias criam vida. Descubra agora