Capítulo 8

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Uma semana antes (PARTE 2)

Faz alguns dias que os vizinhos relataram o desaparecimento do gato birmanês de seus filhos. Pregaram até alguns cartazes nos postes da rua com a foto do gato de pelagem branca, rosto escuro e olhos azuis. O que me fez lembrar do nosso antigo gato Félix, pobre gato Félix.

Tonny foi paciente comigo, repeti o que lhe disse na primeira vez em que tocamos no nome de Alice. Nunca mais do que isso, afinal eu não sabia muito sobre o assunto. Mas sempre que esse dia chegava, todos os sentimentos ruins eram desencadeados. Lutei com todas as minhas forças durante os primeiros anos, mas isso ainda me afeta com a mesma intensidade.

Me mantive um pouco reservada durante os dias seguintes, evitando sair do quarto e falando bem menos com Tonny ao celular. É o ritual de todos os anos neste período e acho que todos já se acostumaram. As dores de cabeça se tornam constantes, até me sugeriram ir ao médico e fazer uma tomografia, mas no geral tomar alguns analgésicos alivia. 

Não contenho as lágrimas, apenas as deixo fluírem. Lidar com tudo isso faz com que minha cabeça fique confusa. Sei que meus pais também sofrem, mas do jeito deles. Papai fingi ser forte, mas já o vi chorar olhando as fotos penduradas na parede. Mamãe evita ao máximo tocar no assunto, ainda carrega uma grande culpa dentro de si, apesar de eu não saber bem o por quê. 

Nas quartas-feiras, nossa família fazia de tudo para se juntar à mesa e poder compartilhar qualquer assunto. Não marcávamos nenhum compromisso e eles chegavam cedo da loja. Eram momentos bons, mas um hábito bem recente na verdade. 

Antes do jantar, me pediram para pegar o lixo acumulado nos baldes do quintal e levar para fora. Eram dois sacos pretos e não muito pesados, mas havia um cheiro forte e ruim em algum lugar que não vinha do lixo. Olhei ao redor, mesmo o quintal estando pouco iluminado pelas luzes de dentro da casa. Bem ao lado da árvore tinha algo que não pude identificar de longe.

As folhas secas sendo pisadas faziam um barulho desconfortante naquela situação, o que me deixou apreensiva. Quando me aproximei o suficiente, vi uma coisa morta. O pescoço estava quebrado, com os olhos ainda abertos.

Era o gato dos vizinhos. 

O que me resta?Onde histórias criam vida. Descubra agora