Capítulo 12

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Como a distância entre o apartamento e a casa era pequena, chegamos bem mais rápido do que eu esperava. Dentro do carro tive que ouvir várias perguntas como: "Você está bem?", "O que está acontecendo?". Permaneci calada, minha mente só se preocupava com uma coisa e não estava nenhum pouco disposta a dizer.

Duas viaturas estavam em frente a casa. A faixa amarela que impedia a entrada de qualquer pessoa não autorizada havia sido pendurada no portão. Eu sabia que não poderia entrar, mas tinha que arranjar um jeito. 

- Se vamos entrar, que tal irmos pelos fundos?  Uma hora dessas nenhum dos vizinhos estará mais em casa. - Ele realmente tinha razão, no painel do carro vi que não passava das 8:00h.  

Descemos do carro, que tinha sido estacionado longe o suficiente para não ser visto e seguimos pelo fundo das casas até chegarmos nos vizinhos mais próximos. As casas tinham um metro e meio de distância entre os muros, talvez.

Por sorte, a divisão entre elas era feita por uma fileira de jambeiros. O que me fez ter outra ideia. Poderíamos entrar pela varanda que rodeava o andar de cima.

- E se subíssemos por uma das árvores, tendo assim acesso à varanda? - Sugeri.

Nunca subi em uma árvore antes, apesar do tremor nas pernas com o medo de cair, segui em frente. Nos escondemos entre elas e observei o mais precisamente possível. Apenas um policial estava em uma das viaturas, com a respiração vagarosa, quase dormindo. Os outros devem estar dentro da casa. 

- Por que estamos fazendo isso? - Quebrou o silêncio.

- Fala baixo, eles não podem nos ouvi. - Sussurrei.

Ao tentar subir na árvore, minhas mãos deslizaram seguidas vezes pelo tronco com o suor do nervosismo. Até que recebi ajuda e elevei meu corpo para me apoiar em um dos galhos. Mesmo com o corpo magro, os músculos de seus braços eram rígidos e evidentes, observei enquanto ele subia e se juntava a mim no galho ao lado. 

Apesar de estar bem próxima da varanda, o espaço que se dirigia ao chão me fez pestanejar. Me impulsionei para pular, mas me desequilibrei e quase caí, sendo segurada pelos braços que antes analisava.

- Cuidado. - Falou baixinho, erguendo meu corpo novamente.

Com mais cuidado, respirei fundo e pulei outra vez. Minhas mãos se prenderam a borda da varanda e logo me pus de pé. Dei uma rápida olhada pela porta de vidro e me certifiquei que não tinha ninguém na parte de cima. Virei a maçaneta da porta, mas ela estava fechada. Como vamos entrar? 

- Aquela janela está destrancada. - Aproximando-se de mim, apontou para o ferrolho levantado da janela do quarto.

Puxei lentamente um dos lados da janela e entramos, pisando de leve para não fazer barulho. Abri as portas do guarda-roupa, puxei algumas gavetas, mas nada.

- O que estamos procurando? - Me olhou com o rosto confuso.

Continuei rodeando o quarto e ele começou a abrir as gavetas da cômoda, ainda que aquilo não ajudasse. Sentei, frustrada, na cama com lençóis de estampa floral. No mesmo instante meus pés esbarraram em algo debaixo dela, quase não visível. Era uma caixinha com rendas desgastadas na tampa, me abaixei e já sentada no chão, abri. Meus olhos saltitaram ao ver a faca com sangue seco. Senti meu corpo caindo para trás e a forte pancada da cabeça no chão.

O que me resta?Onde histórias criam vida. Descubra agora