CAPÍTULO 7

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Cinco semanas depois...

O gosto do sangue era amargo na boca, com muito esforço me coloquei de pé novamente, minha base de luta era algo no mínimo precário, e encarei a morena a minha frente. Ela não parecia sentir pena, nunca parecia sentir nada.

Já faziam semanas que eu estava naquela tortura chamada de treinamento. A morena avançou com um punho erguido e eu avancei também em sua direção, desviando do soco e tentando acertar um golpe em suas costelas, porém como sempre ela foi mais ágil, agarrando meus punhos e torcendo-os, enquanto girava meu corpo me fazendo cair de joelhos no chão e acertava minhas costas o que me fez cair no chão agoniada.

Eu odiava isso como todas as minhas forças. Enquanto a dor me consumia fiquei lá, com lágrimas enchendo os olhos e a respiração presa na garganta.

Ela chutou minhas costelas, me fazendo rolar sobre o tatame, algumas risadas baixas e um bufar irritado, foram ouvidos mas ignorei. Trinquei os dentes ficando de pé, porra isso dói, tudo dói.

Pourquoi voulez-vous l'entraîner?¹ - ouvi a pergunta abafada para alguém na pequena multidão, mas só consegui identificar algumas palavras.

Ce n'est pas votre affaire. Alors, parce qu'il ne vous intéresse pas.² - Foi Melissa quem respondeu, rápido demais para ser entendida por mim.

Precisava admitir que tinha aprendido bem rápido a me defender, acho que é um reflexo básico. Bater ou apanhar, a autopreservação sempre fala mais alto. Depois que o treinamento acabou fui direto para o banheiro da ala de treinamento cuspindo o sangue acumulado na boca e vendo as manchas roxas em meus braços e punhos.

Um olhar de relance para o espelho mostrou Gustavo atrás de mim.

— Ei! - ele falou baixo, enquanto eu limpava o sangue que teimava em escorrer.

— A que devo a honra? - Perguntei erguendo uma sobrancelha.

— Podemos conversar sobre isso enquanto a enfermeira concerta você. - ele se aproximou, juntou os fios de cabelo que caiam por meu pescoço arrumando tudo num rabo de cavalo apertado.

— Que gentil, até parece algo que um bom menino faria.

— Bom, temos um problema, porque eu não sou um bom menino. - ele brincou, mas falava muito sério e eu sabia disso.

Apenas encarei seus olhos através do espelho, qualquer resposta era desnecessária.

— Vem, vamos cuidar disso.

Caminhamos em silêncio até a ala hospitalar, ao chegamos lá o lugar estava deserto mas Gustavo encontrou rapidamente tudo o que precisava para tratar meus ferimentos.

— Não faça isso. - ele falou de repente enquanto se aproximava.

— O quê?

— Sei o que anda pensando, mas essa é a sua vida agora, e tentar fingir que um dia as coisas irão voltar a ser como antes, não vai mudar o que já aconteceu.

Senti a raiva latejando, ultimamente sentia muito isso, e toda essa raiva era bem-vinda.

— Eu dispenso os seus conselhos Gustavo.

》《

Quando voltei ao meu quarto já era muito tarde, passava do toque de recolher o que seria um problema se alguém me pegasse caminhando pelos corredores naquele horário.

Viver naquele lugar era em uma única palavra, péssimo. Haviam regras ridículas que eu sequer entendia, mas eram muito sérias, o pior era sem sombra de duvidas as pessoas. Lidar com pessoas já era difícil, e lidar com o tipo de pessoa que vivia ali era terrível.

GAROTA HACKEROnde histórias criam vida. Descubra agora