Pelas sombras da grande construção de pedra tudo o que eu podia vê eram os muitos seguranças armados patrulhando, a cabelos cor de rosa me seguia de perto enquanto atravessamos o campo de treinamento do edifício.
A explosão que ela causou serviu como uma luva para chamar a maior atenção possível enquanto abríamos nosso caminho para fora dali. Rebecca nos esperava ao lado de um jipe enorme, por mais reticente que eu estivesse quanto a sua ajuda, era inegável que ela já tinha passado tempo demais observando aquele lugar para saber todo o cronograma e o modus operandi daqueles soldados. E de fato, tinha um pequeno furo, uma brecha de cinco minutos e meio para ser mais precisa e esse era o tempo que deveria garantir a nossa saída.
A possibilidade de que tudo desse completamente errado era tão grande e tão precisa quanto o céu era azul.
Aquela voz que sussurrava no subconsciente me alertando do perigo, que a meses atrás me fazia deixar certas coisas de lado agora dava berros em meus ouvidos mandando que eu parasse de ser tão irresponsável, mas minha vida agora se resumia a fazer tudo o que eu jamais imaginei que faria. Bom, toda a história muda quando sua vida está em jogo.
Rebecca colocou o carro em movimento quando entramos, Gustavo estava inconsciente no banco traseiro, preso ao sinto de segurança.
— Não vamos conseguir. - A garota de cabelos cor de rosa murmurou de repente, os dedos tamborilavam sobre as coxas quando olhei para ela. — Estamos atrasadas.
— Vai da certo. - Rebecca falou e sua voz demonstrava tanta certeza que não havia nenhuma margem para questionamento.
As coisas estavam razoavelmente sob controle até aquele momento, em exatos 2 minutos a eletricidade iria cair, as as câmeras ainda estavam fora e pelo menos 80% dos soldados seguiram o protocolo de segurança indo até o ponto da explosão.
Os pneus deslizaram bruscamente sobre o caminho pedregoso enquanto Rebecca acelerava, sua copiloto murmurava para si mesmo enquanto os dedos continuavam a tamborilar, e só após algum tempo percebi que não era um simples tamborilar, era uma contagem. Um minuto antes do que pensei as luzes apagaram, a sirene de alerta soou.
— Estamos atrasadas mesmo.
O plano era atravessar a cerca do complexo com o jipe, aquele jipe era adaptado, toda a parte da frente tinha uma armada com grandes partes de metal que facilmente furariam o bloqueio da cerca. Mas para isso era primordial que atravessássemos no exato momento que a eletricidade caísse, o que garantiria que não morrêssemos eletrocutadas.
Luzes vermelhas começaram a acender ao longo da cerca enquanto os quadrantes energizados voltavam a vida, meu coração batia descompassado enquanto via quadrante por quadrante ganhando vida enquanto nos aproximávamos do nosso objetivo. Tenho certeza que as duas garotas a frente estavam tão tensas quanto eu enquanto assistiam de ponto a ponto nossa brecha quase sendo fechada.
Rebecca levou uma mão ao ouvido, o pé afundou ainda mais no acelerador e atravessamos a cerca milésimos de segundos antes de deixamos o metal destroçado para trás soltando fagulhas em cascatas quando aquela parte da cerca foi finalmente energizada.
Durante esses poucos meses em que me tornei uma fora-da-lei, descobri como a vida poderia ser cruel, como é ser caçada, como é não conseguir dormir pela incerteza ou pela culpa. Ser treinada por um grupo de criminosos teve suas vantagens. Fui treinada para ser uma assassina, mas também uma líder, pra saber reconhecer e manter possíveis aliados, mas também para ser engenhosa e calculista, para ser como um camaleão, aguentar pancada e conseguir bater.
Quando os pneus do jipe derraparam pela estrada de terra poucos quilômetros depois da cerca e eu encarei os faróis a nossa frente, soube que apesar de ter passado tantos meses nesse looping, aquela era a primeira vez que me sentia parte daquele mundo insano.
Rebecca saiu do jipe imediatamente, acompanhei o movimento pois queria saber exatamente o que estava acontecendo ali.
— Que bom que esta viva. - uma mulher falou encarando Rebecca com a cabeça levemente curvada.
— Ele não deveria ter mandado ninguém.
— Bom, você não tem como reclamar sobre isso agora. Entrem nos carros e vamos sair logo daqui.
Olhei para trás vendo a garota de cabelos cor de rosa já abrindo a porta do banco traseiro, ajudei a tirar Gustavo do carro.
Sem pistas, sem pistas. Era tudo o que se passava em minha cabeça, levantei o capo do carro e acionei um dos brinquedos que a rosinha carregava, pronta para queimar cada centímetro daquele jipe se isso nos fizesse ganhar mais tempo.
Tudo poderia ir para o inferno agora, sabia que era uma má ideia ir de bom grado com a inteligência americana, mas a minha prioridade era sair dali o mais rápido possível, já que por algum milagre os quatro conseguiram sobreviver aquela insanidade.
Não iria exigir mais da nossa sorte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
GAROTA HACKER
AçãoO mundo preto e branco de uma garota se torna uma explosão de cores da noite para o dia, a vida é uma montanha russa onde a cada nova descida se aguarda uma aventura letal. Emma Costa sempre foi a garota de ouro, com um dom natural de fingir que tud...