América não parecia ela mesma.
Desde que teve seu pequeno encontro com Max Maverick e Rebecca Kale - nome esse que descobri logo depois -, ela andava extremamente concentrada em algo. Apesar de não ter alterado em nada a rotina que tínhamos desde que cheguei, ainda assim eu não tinha deixado de notar a mudança.
Eu tinha acabado de atravessar o pequeno corredor entre as portas do elevador até a sala de estar, América estava em seu mais novo santuário: sentada no longo sofá branco, com seu notebook aberto em seu colo.
— Você vai para Tóquio, - ela falou de repente. Simples assim, girei sobre meus soltos numa volta de 180° perfeita, tudo pareceu voltar para mim como um belo soco no estômago.
— Tóquio? - o eco da minha voz parecia estranho comparado ao silencioso apartamento.
— Acho desnecessário está repetindo o que foi dito.
Ignorei seu sarcasmo, tentando compreender todas as informações colocadas em jogo ali. Porque tão de repente?
Tudo bem, não era como se eu já tivesse ficado ciente de alguma coisa com antecedência, mas dessa vez eu podia sentir em algum ponto dentro de mim, que o que quer que tivesse deixado América tão fora de eixo tinha sido dito durante aquela visita, e isso me deixava extremamente incômoda.
— Por quê? - era meu único questionamento, apesar de saber que não receberia uma resposta real.
— Por que é necessário.
— América... - tomei um longo fôlego, e essa pequena pausa me ajudou a refletir. O que eu iria dizer? O que havia para saber? Nenhum dos problemas dela eram da minha conta, e mesmo que fossem ela nunca confiaria em mim para ajudar.
Suspirei profundamente.
— Vou fazer as malas.
Documentos novos. Lições novas. Informações novas. Parecia um loop infinito e contínuo, chegar e ir embora, de novo e de novo.
— Eu preciso sair, volto em algumas horas, não se preocupe com Jekins falarei com ele depois. - ela comunicou enquanto eu seguia corredor a dentro.
Mudanças são inevitáveis, Melissa disse uma vez. Sofrer por elas é perca de tempo.
Ela tinha saído antes que eu pudesse falar qualquer coisa, não havia muito para levar então foi um trabalho rápido organizar minhas coisas em uma única mala.
Joguei-me sobre a cama, olhando o teto branco e coloquei os fones de ouvidos, as notas musicais abafando o mundo ao meu redor.
Eu não era de ouvir muita música, mas as vezes gostava de parar apenas para ouvir e acompanhar o ritmo. Impaciente com a solidão a minha volta resolvi começar minha sequência de exercícios, normalmente eu estaria indo dormir já que tinha voltado do cassino a pouquíssimo tempo porém o sono não estava nem próximo nesse momento.
Já na sala de treinamento comecei uma sequência de alongamentos, era uma forma de esquecer tudo... esquecer minha família deixada para trás, esquecer todas as coisas estúpida, os antigos mestres exigentes e cruéis demais. Todos os dias treinava, deixando a raiva, arrependimento e frustrações serem consumidos com os treinos, até que meus músculos tremessem, meu corpo doesse implorando por descanso... e ainda sim eu treinava mais, até estar cansada o suficiente para não conseguir pensar.
Eu podia não ter talento para tudo, mas minha determinação não me deixava falhar. E falhar nunca foi uma opção.
Quando minha respiração voltou ao seu ritmo normal apenas um leve zumbido tomava o espaço, era aquele tipo de som que qualquer pessoa que vive ao redor de máquinas conhece, olhei em direção a prateleira que escondia a entrada da sala, e resolvi me aventurar por ali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
GAROTA HACKER
ActionO mundo preto e branco de uma garota se torna uma explosão de cores da noite para o dia, a vida é uma montanha russa onde a cada nova descida se aguarda uma aventura letal. Emma Costa sempre foi a garota de ouro, com um dom natural de fingir que tud...