CAPÍTULO 15

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Fechei o zíper na bota de cano longo no exato momento em que Mirta apareceu na porta do meu quarto. Ele na verdade não tinha nada que indicasse a quem pertencia, como todos os cômodos da casa as paredes tinham tons pastéis sem graça, o cômodo também não tinha objetos pessoais espalhados por ele, a única coisa que indicava que alguém o usava era a cama desfeita.

— O que precisa? - perguntei ao levantar para atravessar o cômodo.

Mirta era uma pessoa interessante de se observar, sempre despreocupada, confiante no que fazia e sobre quem era. Mas tinha algo sobre toda essa casualidade que me incomodava profundamente desde cheguei.

Ela ergueu uma sobrancelha com a pergunta, fora isso permanecia imperturbável.

— Me deixou surpresa, saber que vocês irão para o Brasil em poucos dias. - ela foi direto ao ponto, como costumava fazer.

— Ficou incomodada por não ter sido convidada?

A risada foi automática e espontânea, limpando o cantinho do olho com a ponta do dedo ela me encarou.

— Acho que você ficou bastante incomodada.

A observei atentamente, enquanto a mulher caminhava para perto, ela parecia meio bêbada... um tanto quanto nem aí para nada.

— O quê quer dizer? - Sabia o que estava acontecendo ali, e minha paciência para joguinhos mentais não era das maiores.

— Não banque a estúpida comigo. - ela sorriu como se isso suavizasse suas palavras. — Eu sei que tem muitas opiniões guardadas aí com você. Anda treinando como uma louca nos últimos tempos, você sabe... Não custa nada impor sua vontade...

Parando na penteadeira bem ao lado da porta acenei uma única vez para confirmar que estava ouvindo as palavras dela e rapidamente desenrolei as faixas brancas atadas as minhas mãos.

— Eu treino porque, inevitavelmente, se tornou uma rotina a qual eu me acostumei.

Ela revirou os olhos, obviamente descartando o que foi dito.

— Costume e vontade são bem diferentes.

— Onde quer chegar Mirta?

— Sei que não quer Brian ou Melissa, talvez nem mesmo América com você no Brasil... - ela caminhava lentamente pelo cômodo. —  Ah, não me entenda mal, eu não julgo você por isso. Afinal Melissa foi a pessoa mais difícil com quem você precisou lidar, América escondeu inúmeras coisas que talvez você nunca saiba e Brian... bom, você não o conhece. Eu particularmente acho que você tem razão nisso... em não quere-los por perto.

No fundo, eu realmente estava relutante em tê-los tão perto da minha família, é verdade.

— Você está imaginando coisas, e suposições são descartáveis.

— Certo. Tudo bem! - seu tom era indiferente, quase divertido. — Porém se por acaso mudar de ideia... Tem um voo saindo hoje a noite para o Brasil... você já está indo para a costa, pense sobre isso.

Vi quando ela deixou o envelope amarelo na superfície da penteadeira antes de sair. Sutil, casual e delicada no momento de implantar sugestões.

GAROTA HACKEROnde histórias criam vida. Descubra agora