A história de um Mordomo

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16: A HISTÓRIA DE UM MORDOMO

Seus olhos atravessaram a grande extensão do salão; desde os candelabros nas paredes, cinzentos e esquecidos, a lareira acessa, crepitando aos poucos, até o lustre de cristais acima à sua cabeça, delicado e refinado, inigualavelmente caro. Draco Malfoy tentou, de todas as formas, lembrar-se de alguma lembrança reconfortante daquele lugar, mas como em todo o canto daquela casa, ele apenas lembrou-se de lágrimas. E elas, por alguns instantes, ameaçaram derramarem-se por seu rosto, mas ele foi forte ao controla-las.

Alfred, o grande homem de bigode, também conhecido como mordomo, apareceu nas escadas no exato momento em que Draco pisou no hall de entrada, logo após o salão. Com um pano branco em suas mãos e os cabelos presos em um coque, Alfred não era um mordomo velho como os de seus amigos; pelo contrário. Ele tinha joviais vinte e três anos e havia sido vendido por seu pai à Lúcio, quando tinha apenas dezesseis.

Mesmo que estivesse ali há mais de cinco anos, Alfred detinha, ainda, todas as suas características de seus primeiros dias; o acanhamento, o medo e a insegurança. Alfred, por muito tempo, era escondido no porão para que as visitas não o vissem. Não era algo da qual os Malfoy iriam se orgulhar; ter um jovem comprado e, tecnicamente, escravo. Mas o favor que Lúcio havia feito a Leônidas, o pai de Alfred, era, segundo o próprio Lúcio, uma benção de Merlin.

Se Draco dissesse que havia conversado com Alfred quatro vezes, estaria mentindo. A relação de filho do patrão/empregado não passava de simples anunciações e trocas de palavras: "Obrigado" "Não foi nada" "Não esquente o meu prato". E retornar a ver aquele rosto, depois de longos meses em Hogwarts, era reconfortante. Afinal, ele estava em casa.

Draco queria dar um abraço em seu irmão menor, mas o mesmo estava passando alguns dias na casa de seu avô Malfoy e talvez nem voltasse nas próximas semanas. Isso fez com que Draco se perguntasse por quanto tempo ele ficaria fora de Hogwarts. Se fossem os últimos meses de aula, ele até ficaria aliviado; não iria presenciar todos os jogos do Torneio Tribruxo e consequentemente, não iria se sentir mal por Harry.

Por outro lado, ficar em casa acabaria por se tornar uma das coisas mais monótonas para se fazer. E ele nem queria pensar o motivo de estar de volta em casa. Narcisa havia desaparecido pela cozinha com Alfred e, agora, Draco estava sozinho em frente a grande escada dupla que levaria aos corredores do segundo andar.

Seu uniforme de Hogwarts era a única coisa que havia trazido e, agora, estava no chão, uma vez que ele havia se trocado na trajetória de carro da estação até a Mansão Malfoy. Quando pensou em levanta-las e retornar a ver o seu quarto, o som de pesados passos atrapalhou o seu pensamento.

As botas negras, a capa, os longos cabelos loiros. Lúcio Malfoy, seu pai, estava bem em sua frente. Os dois por alguns segundos se olharam, como se nunca haviam se conhecido, e seus olhos, igualmente claros, pareciam combinar na escuridão que, aos poucos, tomava conta daquele lugar.

Draco não sabia se era a sua mente provocando certa escuridão em sua visão ou se realmente, à presença de Lúcio, as luzes haviam se apagado. Havia algo em seu pai? Sempre desconfiara.

E Lúcio abriu um sorriso, de orelha a orelha, e com seus grandes braços, abraçou Draco com todas as suas forças. Beijou seu cabelo, sua testa, lhe deu alguns cafunés e chegou a lhe tirar do chão por alguns segundos. E então os dois voltaram a se olhar.

— Está tudo bem? – perguntou o mais velho.

Draco soltou um sorrisinho frouxo, em resposta.

— Espero que, realmente, esteja tudo bem. Draco, você não sabe o quanto eu senti saudade de você nesses últimos meses...

Responda as minhas cartas, pai, e um dia eu irei acreditar em você.

O Destino de Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora