O dia depois de ontem

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TEMPO ATUAL –. 11 DE SETEMBRO DE 1994


O esperado era que o sol aparecesse no dia seguinte a escolha dos bruxos competidores. Mas, coincidentemente, nem ele queria aparecer. O assunto dos corredores, mais uma vez, era Harry Potter.

Como ele havia sido sorteado? Como ele havia colocado seu nome? Dumbledore ajudara seu aluno predileto a participar dos jogos? Harry Potter está envolvido com forças negras...?

A cada corredor que dobrava Draco não conseguia engolir as milhões de perguntas e o barulho ininterrupto das panelinhas dos estudantes. Por algum motivo, a novidade não havia sido bem dirigida para as turmas do último ano. Um dos selecionados, Cedrico Diggory, era aluno do sétimo ano. E ele, também, havia sido selecionado. Talvez seus colegas não conseguissem suportar que um aluno do quarto ano também participaria do torneio representando Hogwarts. Draco se perguntou o que os alunos da Sonserina fariam se estivessem em uma situação parecida.

Desde a noite anterior, ele não via Harry Potter pelos corredores, muito menos seus amigos. Eles deveriam estar em uma grande conversa com Dumbledore sobre o ocorrido e Draco nem queria imaginar como deveria estar o humor do diretor. O rosto da professora McGonagall, no primeiro período de Transfiguração, naquele dia, não era dos melhores. Olheiras perpassavam por debaixo de seus olhos, úmidos e avermelhados. Ela deve ter se sustentado a noite inteira com chá, acordada, com o diretor e o resto dos professores.

Pansy Parkinson, também, não estava com uma cara de bons amigos. De duas, uma: ou haviam colocado alguma coisa no jantar de todos na noite passada ou ninguém na escola inteira estava feliz com essa dupla chance de Hogwarts. A verdade era que nem mesmo Draco estava feliz com isso. Se havia uma palavra que definia o seu sentimento, envolvendo Harry e o Torneio, era medo. Medo de que alguma coisa acontecesse com ele durante as três provas. Medo que ele não conseguisse completar alguma das provas por conta de um imprevisto. Medo que ele fosse obrigado a fazer algo fora do normal, como ele normalmente fazia.

O mundo de Harry Potter parecia um pouco mais complicado do que o de Draco Malfoy. O loiro não conseguia entender o menino do raio. Mas entendia que perder os pais, sobreviver uma maldição da morte e ainda ter que carregar uma carga histórica e de responsabilidade nas suas costas deveria ser algo difícil. Todos esses comentários idiotas que ele ouvia pelos corredores sobre Harry, todas as pessoas que faziam esses comentários, deveriam se ligar, por alguns momentos, que Harry também não sabia o que estava acontecendo.

Quando o período da professora Minerva terminou e rapidamente os corredores da escola voltaram a ficar apinhados de pessoas, Draco se dirigiu para o único lugar onde poderia ficar quieto por um tempo: a sala comunal da Sonserina. Naquela hora do dia, ele sabia, ela deveria estar quase vazia. Era um bom momento para tentar encontrar o homem mais triste do mundo e talvez descobrir o que aconteceu com ele.

Desde que aquele escravo aparecera para Draco, ele ainda não havia conseguido entender o que havia acontecido. Por mais que estivesse mais interessado em libertar aquele pequeno escravo, ele ainda tinha certa preocupação com o velho.

Mas, como esperado, ao sentar no banquinho verde, não encontrou o homem pelos quadros ao redor. Olhou para os lados, de longe, mas ele também não parecia estar neles.

E quando prestes a levantar, um pequeno aluno do primeiro ano simplesmente apareceu em sua frente, segurando um envelope.

— Chegou pra você – disse ele, logo saindo ao entregar a carta.

Draco a abriu com rapidez ao ver que se tratava de uma carta de sua mãe e seu pequeno irmão Vitório. Vitório havia nascido não muito tempo depois de Draco, estava com doze anos e, infelizmente, havia nascido um aborto. Aquilo, na época, foi uma grande vergonha para a família Malfoy, mas, com o tempo, pai e mão souberam a respeitar o filho menor. Contando que Vitório não soubesse do mundo bruxo, tudo estava bem. Porém, cada dia mais ficava difícil de esconder a verdade ao irmão.

Em todas as cartas, Vitório perguntava a Draco quando ele deixaria o "internato" para estudar em uma escola normal como ele. E sempre Draco respondia não saber. Além de Harry, Vitório era uma das únicas coisas que o faziam sorrir. Chegar em casa, nas férias, e ver aquela carinha dele, sorrindo. Não havia nada melhor do que aquilo.

A carta nova dizia:

Caro Draco, as coisas não estão fáceis por aqui. Vitório encontrou a chave do escritório do seu pai e, consequentemente, todos os objetos mágicos dele. Ele ficou encantado ao ver um avião de brinquedo voando sozinho e todos os outros brinquedos seus e de seu pai de quando você era pequeno. Mas não podemos deixar que as coisas aconteçam dessa forma.

Infelizmente, me vir obrigada a modificar a memória dele. Agora, coitado, ele parece levemente aturdido, mas já voltou a brincar. Guardei as chaves de seus pais dentro de um cofre, até ele voltar de sua viagem, para que não haja mais nenhum contratempo.

Ainda sobre seu pai, ele saiu em uma viagem à Escócia, que, inicialmente, duraria apenas uma semana. Mas já estão quase se completando três. Eu recebi uma coruja de Lúcio na semana passada, mas desde então nada mais dele chegou. Ao Ministério, também, nada foi informado. Estou começando a ficar preocupada.

Eu sei que você deve estar cheio de atividades da escola, ainda mais agora que o Torneio Tribruxo vai começar, mas pensei em você, talvez, passar alguns dias aqui em casa. Posso ir conversar pessoalmente com Dumbledore, talvez ele entenda.

Eu realmente preciso de você em casa, meu garoto.

Espero que esteja correndo tudo bem com você (e com Harry, soube do que aconteceu na noite passada).

Com carinho,

Narcisa.

Draco parou para respirar. Eram muitas informações em uma carta só. 1) Vitório estava aos poucos descobrindo que estava acontecendo 2) seu pai estava se metendo com pessoas ruins novamente? 3) Se sua mãe queria ajuda, era alguma coisa envolvendo Vitório, talvez ela quisesse, de uma vez por todas, contar a ele a verdade 4) como ela sabia sobre Harry?

Só havia uma resposta: Narcisa estava em Londres. E a noticia sobre Harry já deveria estar por lá também.

***

O salão negro estava cheio. Homens e mulheres espalhados por todas as cadeiras da grande mesa quadrada. Em cada uma das pontas, dois jovens senhores. O primeiro, O Senhor, também conhecida por Allen. E o outro, O Cavaleiro, que, misteriosamente, tinha seu nome revelado. Ambos não deveriam ter mais do que vinte anos.

Ao lado d'O Senhor estava Bella, uma linda jovem de cabelos negros. Ela segurava uma varinha apontada para o rosto do homem mais velho ali presente: Lúcio Malfoy. Havia uma conversa paralela quando o Senhor aumentou a sua voz.

— Não há nada a temer, meus amigos – disse ele, com sua voz grossa de jovem. Seus dedos branquelos tamborilavam no cabo de sua varinha. — Vocês sabem o que fazemos com abortos, não sabem?

— Cortamos sua garganta e... – começou Bella.

— Bella – interveio o Cavaleiro, de longos cabelos negros ondulados. — Há um convidado que ainda não foi iniciado a nossa brincadeirinha, lembra?

Todos os presentes olhavam para Lúcio.

— O acordo era Draco, não? – disse Lúcio. — O que vocês irão fazer com Vitório?

O senhor sorriu para o homem.

— O que já não fazemos, Lúcio?

E ao mesmo tempo em que um sorriso malicioso se instalava no rosto d'O Senhor, os olhos de Lúcio ficaram levemente arregalados e um suor frio tomou conta de seu corpo.

— Me tragam o pequeno.

O Destino de Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora