A clareira das chamas perdidas

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22: A Clareira das Chamas Perdidas

Atualizado dia 21/12/2020

Harry Potter, dos longos cabelos negros aos ombros, dos olhos brilhantes e verdes como esmeraldas, dos óculos de aros redondos, da cicatriz em forma de raio em sua testa, virou-se de lado e encarou o rosto magricela e pálido do garoto sem sonhos, nascido na riqueza, mas pobre de lembranças, dos olhos cinzas e infelizes, dos lábios finos e sem histórias. E mesmo assim sorriu.

Draco Malfoy poderia ser a criatura mais nojenta em toda a terra, mas ele continuaria a sorrir para aquele rosto. Nem que para isso tivesse que enfeitiçar o seu próprio corpo após a sua morte. Um pouco exagerado. Mas seria um gesto de amor e tanto, não seria? Ser enterrado com uma foto de Draco preso à tampa de seu caixão, seu rosto enfeitiçado.

Assustador para quem quer que tirasse seu corpo para fora do corpo. Nunca se sabe quando um necrófilo gostaria de tocar em Harry. Mesmo morto. O mundo da magia é mundano perto dos fetiches. Disso ele tinha certeza.

Harry voltou a olhar para o jardim externo da escola, enquanto seus pensamentos voavam desde a tarefa final do Torneio Tribruxo, que aconteceria logo mais à noite, até aos cabelos dourados de Draco.

Eles estavam sentados a lado a lado, apenas os pensamentos e os olhares guiando sua conversa. Draco havia vindo no dia anterior lhe encontrar na Sala da Grifinória (ele não fazia ideia de como Draco havia conseguido entrar) e lhe pedido desculpas, por tudo que havia feito. Durante todos aqueles anos. Foi a primeira vez em toda a sua vida que Harry pareceu ver o verdadeiro Draco por detrás de toda aquela máscara de ouro chamada de Malfoy.

O loiro contou sobre os anos em que tratou o menino do raio de forma tosca e repugnante e de como ele era controlado pela mente preconceituosa de seus pais. Não por ele gostar de meninos, mas por gostar de meninos de sangue ruim. E de como isso iria acabar por afetá-lo se ele não tivesse conhecido Hermione. E disse sobre todas as vezes em que se encontrou com Hermione, sem que ninguém visse, e ela lhe ajudou com os deveres da escola e, também, com suas lições de moral. E de como Rony, também, foi fundamental de certa parte (mesmo que Harry não tenha entendido onde) para a sua nova versão de Draco.

E de como ele, Harry, principalmente, foi necessário para isso tudo. E depois que descarregou toda a sua carga emotiva para cima de Harry, o moreno simplesmente sorriu, fechou as mãos envolta do rosco de Draco e lhe deu um beijo. E agora ele sentia os lábios finos de Draco em seus lábios, mais de doze horas depois.

Então, sua mente voltou para outro ponto importante: os lábios de Draco eram incrivelmente gelados! Ele nunca havia beijado uma pessoa que fosse tão gelada, com exceção de... com exceção de Cedrico. Balançou a cabeça. Ele não queria lembrar-se da noite em que Cedrico lhe convidou para conversar sobre patronos e acabou por roubar um beijo do menino que sobreviveu.

Aquilo ainda causava vertigem no moreno. Não sentia nada mais do que amizade por Cedrico, mas sempre que o garoto passava em sua frente era como se... Balançou a cabeça mais uma vez. Não. Olhou para Draco. E aquela vontade incrível de sorrir voltou. Mas não o fez. Não era justo ficar sorrindo o tempo todo.

Tomou coragem.

— Eu 'tô com medo – quase sussurrou para o loiro, que parecia igualmente perdido em seus pensamentos. — Medo do que essa última tarefa pode vim a ser. Medo que... alguma coisa aconteça e eu não volte para te ver mais uma vez.

Os olhos cinzentos de Draco pareciam ter tomado vida por alguns breves segundos, mas logo voltaram ao normal. E o garoto soltou uma longa risada para cima de Harry, que rapidamente ficou com o rosto vermelho, enquanto os dedos pareciam tremer.

O Destino de Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora